domingo, 24 de março de 2024

EMERSON, LAKE & PALMER II


 

         


O trio, depois de um longo período de férias, sentindo-se revigorado, reuniu-se novamente em 1976, nos “Mountain Studios”, em Montreux, na Suiça e mais tarde nos “EMI Studios”, em Paris, França, para gravar um novo álbum. “Works Volume 1”, foi o título escolhido para o novo trabalho, editado em março de 1977, e, quando o título foi anunciado, imediatamente se começou a pensar que iria ser um “best of” dos primeiros álbuns do grupo.

        


Tratou-se de um duplo álbum em que os três primeiros lados são dedicados a cada um dos membros do grupo para que pudessem apresentar temas da sua própria autoria e o quarto lado apresentava composições do grupo. Keith Emerson contribuiu com “Piano Concerto nº 1”, um tema de 18 minutos dividido em três movimentos para piano e orquestra. O virtuosismo do músico com qualquer instrumento de teclas fica bem patente nesta peça, aliás durante grande parte da década de 70, Emerson manteve uma amigável disputa sobre quem era o melhor teclista do mundo com Rick Wakeman dos “Yes”, mas que por esta altura tinha saído do grupo e dedicava-se a uma carreira a solo. Emerson fez-se então acompanhar pela “London Philharmonic Orchestra”. Era sua intenção deixar escrita uma peça para ser futuramente tocada por outros músicos e quando chegou a altura de a inserir no álbum, contou com a colaboração do Maestro John Mayer, que conduziu a orquestra, para os arranjos finais. Greg Lake, no lado dois do álbum, apresentou uma série de baladas acústicas, escritas por ele e por Peter Sinfield, onde se destacam “C’est LaVie”, um lindíssimo tema que, juntamente com “Lucky Man” passou a fazer parte do alinhamento dos concertos, e “Closer to Believing”. O lado três do álbum ficou a cargo de Carl Palmer que, além de alguns temas da sua autoria, gravou alguma versões de temas clássicos como “The Enemy God  Dances with the Black Spirits” de Sergei Prokofiev com arranjo de Emerson, Lake e Palmer, “L.A.Nights” com a participação de Joe Walsh, o guitarrista dos “Eagles”, ou “Two part Invention in D Minor”, de Johann Sebastian Bach com arranjo feito pelo próprio Palmer. Finalmente o lado quatro do álbum contém dois temas: “Fanfare for the Common Man” de Aaron Copland (novamente autorizado pelo próprio) com arranjo feito pelo grupo e “Pirates”, baseado num tema que Emerson tinha escrito para o filme “The Dogs of War”, baseado num livro de Frederick Forsyth que acabou por ser cancelado. O tema, inicialmente fora escrito com mercenários em mente, o que Lake achou desagradável e queria que o tema fosse sobre outra coisa qualquer. Sinfield, ao ouvir o tema, imaginou cenas marítimas o que lhe trouxe à memória piratas. A ideia agradou ao grupo e Lake e Sinfield escreveram a letra.

            O álbum foi editado na altura em que o movimento Punk estava a começar a dar cartas na cena musical, o que levou a fosse recebido com uma mistura de críticas tanto positivas como negativas e é geralmente visto como o princípio da curva descendente do grupo, apesar de “Fanfare for the Common Man” e “C’est La Vie” , os singles escolhidos, terem feito uma boa carreira nos tops em ambos os lados do atlântico.

     


Em novembro de 1977, “Works Volume 2” viu a luz do dia. O álbum continha temas gravados entre 1973 e 1976 durante as várias sessões de gravação dos álbuns anteriores e nunca foram usados. Entre os diversos temas compilados dessa altura, destacaram-se “When the Apple Blossoms Bloom in the Windmills of Your Mind I’ll be Your Valentine”, “Tiger in a Spotlight” e “Watching Over You” como os singles lançados para apresentação do disco. Incluia também o tema “Brain Salad Surgery”, do álbum de 1973, mas que devido á limitação de duração dos discos em vinyl, ficou de fora. No álbum vinham também algumas versões de temas como por exemplo “Maple Leaf Rag” de Scott Joplin, um dos temas mais famosos do tempo do “Ragtime”, “Honk Tonk Train Blues” um tema de “Boogie Woogie”, escrito por Meade Lux Lewis, arranjado Por Emerson, além claro, de algumas baladas escritas por Lake e Sinfield. 

O álbum não foi o sucesso comercial que o grupo esperava obter tal como já havia acontecido com os seus antecessores, mas, mesmo assim, foi motivo suficiente para que o grupo fizesse nova tournée de suporte aos dois álbuns. Entre maio de 1977 e fevereiro de 1978, o grupo percorreu os Estados Unidos e o Canadá com 120 concertos, inicialmente, com uma orquestra a acompanhar o grupo e que foi rapidamente posta de parte devido ao orçamento que toda aquela logística implicava. O último concerto com orquestra e coro aconteceu a 26 de agosto de 1977 no “Olympic Stadium” em Montreal, no Canadá perante uma assistência estimada em cerca de 80.000 pessoas e que seria a base do álbum ao vivo, 

“Emerson, Lake & Palmer in Concert”, editado em 1979 e que seria posteriormente re-editado numa versão expandida e re-intitulado “Works Live”, em 1993. O álbum, apesar de igual a tantos outos discos ao vivo abria com uma fanfarra introdutória do grupo e arrancava para uma excepcional versão de “Peter Gunn” um tema escrito por Henry Mancini para uma série de televisão dos anos 50 e 60 com o mesmo nome, com um arranjo musical feito pelo trio, que nunca tinha sido editada em nenhum dos seus álbuns  e que veio a ser nomeada para um prémio “Grammy” como “Melhor performance Rock Instrumental”. O disco incluía temas que abarcavam toda a carreira do grupo, como “C’est La Vie”, “Knife-Edge”, “Piano Concerto Nº1, Third Movement:Toccata com Fuoco” ou “Pictures at an Exhibition”, tocadas com a orquestra e outros em que apenas tocava o grupo. 

Emerson diria mais tarde, que tinha sido um erro querer usar uma orquestra durante a tournée, mas era grande a sua vontade de o fazer e não se via a tocar alguns dos temas sem ela. Admitiu também que o grupo se estava a aproximar do final da sua existência.

            


Depois da tournée de 1977-78, o grupo estava exausto e preocupado com o seu futuro imediato. O relacionamento entre os três elementos tinha-se vindo a deteriorar desde o início da tournée, Emerson queria reorganizar o grupo mantendo apenas a estrutura musical com um piano, uma guitarra-baixo e bateria deixando de lado toda a panóplia musical que os movera até ali, além de que a “Atlantic Records” queria que eles gravassem um novo disco para cumprirem o contrato. O trio deslocou-se então para o “Compass Point Studio”, em Nassau, nas Bahamas para trabalhar no novo disco. Nascia assim “Love Beach”, o mais desinspirado álbum que o grupo alguma vez gravou. As sessões de gravação foram difíceis, não só pelo mau ambiente que se verificava entre os três, mas também devido ao facto de Keith Emerson começar a desenvolver uma dependência de drogas que o impedia de trabalhar ou colaborar com outras pessoas. Peter Sinfield foi chamado para ajudar Lake a escrever as letras das canções do álbum que se pretendia que fosse mais orientado para a música pop. Escreveu-as quase todas, com excepção do tema “Canario”, um instrumental baseado no tema “Fantasia para um Gentilhombre” de Joaquin Rodrigo, um compositor Espanhol.

 Em novembro de 1978, o álbum foi lançado e “All I Want is You” foi o único single que se conseguiu arranjar para promover um álbum que não tinha nada a ver com o virtuosismo musical que o grupo tivera no início da sua carreira, a única aproximação a esses tempos e mesmo assim de uma forma muito pálida foi “Memoirs of an Officer and a Gentleman”, um tema com 20 minutos de duração e que ocupa todo o segundo lado do álbum. Dividido em quatro partes, é uma peça conceptual que fala de um romance entre um soldado e a sua noiva durante a IIª Guerra Mundial. O álbum nunca foi objecto de tournée porque o relacionamento entre o grupo deixara de existir. Greg Lake e Carl Palmer, mal completaram as suas partes, regressaram a Inglaterra deixando Keith Emerson entregue à produção.

A crítica arrasou o álbum e o público virou-lhe as costas. O disco nunca chegou aos lugares cimeiros dos tops, mas ainda conseguiu ser Disco de Ouro (vendas superiores a 500.000 unidades) nos Estados Unidos. Pouco tempo depois, já em 1979, o grupo separou-se sem fazer qualquer anúncio da sua separação, seguindo caminhos musicais separados.   

            


Keith Emerson, livre dos compromissos com os seus ex-colegas, dedicou-se à composição de bandas sonoras para filmes. O músico fez também alguns álbuns a solo e diversas colaborações mas tudo muito pouco relevante. Greg Lake regressou aos King Crimson com quem ainda gravou álbuns. Por fim, Carl Palmer, inicialmente formou os “PM” que gravaram apenas um álbum, antes de se juntar aos “Asia”, um dos primeiros supergrupos da década de 80 composto maioritariamente por músicos vindos de grupos da década de 70. Mas a meio da década de 80, as coisas iriam mudar.

            


Em 1985, Emerson e Lake, achando que já tinha passado o tempo necessário para se repensar o futuro, resolveram fazer uma reunião dos três membros originais da ELP. Palmer declinou o convite pois encontrava-se comprometido com os “Asia” que por esta altura estavam em tudo o que era tops musicais. Os dois elementos do grupo convidaram então o antigo baterista dos “Rainbow”, Cozy Powell para integrar o trio. O único álbum gravado pelo grupo, “Emerson Lake & Powell”, foi editado em maio de 1986. Foi escolhido o tema “Touch and Go”, inspirado numa canção folk Inglesa adaptada por Emerson, para apresentação. Nem o álbum nem o single fizeram grande história na música, apesar do grupo ter feito uma tournée de apresentação na qual tocavam também temas de Emerson Lake & Palmer. 

        


A reunião não resultou e, em breve, o trio estava separado. Em 1988, Keith Emerson juntou-se a Carl Palmer, que, entretanto saíra dos “Asia” e formaram, juntamente com o guitarrista Robert Berry, o grupo “3”, que depois de um álbum, também se separaram. Porém, a década de 90 que se aproximava, iria trazer boas notícias aos ELP originais.

            Foi em 1990 que Phil Carson, um antigo executivo da “Atlantic Records” aproximou-se do trio original com uma proposta para se reunirem e compor música para um filme. O projecto cinematográfico num viu a luz do dia, mas o trio começou a avançar com novos temas musicais inovadores e, em três meses, tinham preparado material para um novo álbum em detrimento da banda sonora de um filme. Dotados de toda uma moderna tecnologia, que complementava o seu trabalho durante as sessões de gravação, os estúdios da “Atlantic Records” aproveitaram a ocasião para fazer sair um “besto of” da banda com algum do seu material antigo que seria seguido, em 1993, com uma caixa com quatro discos com material inédito.


                   


“Black Moon  foi editado em julho de 1992. Apesar dos temas “Paper. Blood” e “Black Moon”, o tema-título, o álbum não conseguiu vingar nos maiores tops do mundo.  Os ELP, agora animados por estarem de novo juntos, fizeram uma tournée mundial de suporte ao álbum entre 1992 e 1993 que encerrou com concertos no Royal Albert Hall, em Londres e que deram origem a mais um álbum ao vivo, “Live at the Royal Albert Hall”,

 onde o grupo mostrou aquilo que valia a quem lá esteve e posteriormente num DVD editado com o mesmo título, para quem nunca os viu ao vivo, onde o grupo percorre toda a sua carreira.

            



O novo contrato com a editora obrigava à gravação de pelo menos dois álbuns, o que o grupo quis cumprir. Em 1994 “In The Hot Seat”, o nono e final álbum do grupo viu a luz do dia. Pontuado por diversos problemas financeiros e de saúde dos músicos Keith Emerson e Carl Palmer, a escrita, a produção e gravação dos temas foi demorada. Os estúdios queriam um álbum mais comercialmente orientado e foram trazidos diversos compositores para ajudar na escrita de temas. O álbum foi um completo fracasso comercial, ainda maior que “Love Beach” no já distante ano de 78. O estúdio ainda tentou salvar o álbum ao lançar temas como “Hand of Truth” ou “Daddy” como singles, mas pouco ou nada havia para salvar. Houve várias tentativas para fazer tournées pelos Estados Unidos e Japão, mas era tudo muito dispendioso a que se juntavam os problemas de saúde dos membros do grupo.

            Para recuperar algum investimento, em 1996 e 1997, o grupo aceitou fazer as primeiras partes de grupos como Jethro Tull, Deep Purple ou Dream Theater, nas quais conseguiam incluir um alinhamento de algumas das sua peças mais famosas. 

Havia planos para a gravação de um novo álbum, mas as fricções entre os membros de grupo reapareceram com Emerson a querer ficar com os louros como produtor ou que Lake não queria  contribuír com temas originais em detrimento de um possível álbum a solo, o grupo separou-se novamente em 1998.

           


 Já no século XXI, na primeira década, apesar de alguns encontros esporádicos para tocar em nome dos velhos tempos, houve planos para uma nova reunião para comemorar os 40 anos da formação do grupo que seria em forma de tournée com um alinhamento musical que incluiria temas, não só do grupo, mas também dos Nice e de King Crimson. O concerto inicial aconteceu no “High Voltage Festival”, no Victoria Park, em Londres, a 25 de julho de 2010, com enorme sucesso por parte de uma audiência carregada de entusiastas e fans do grupo. No final desse ano seria editado o duplo álbum ao vivo “High Voltage”. Foi também a última vez que o trio tocou junto.

            A 11 de março de 2016, Keith Emerson suicidou-se com um tiro na cabeça e a 7 de dezembro do mesmo ano, Greg Lake morreu de cancro, deixando apenas Carl Palmer como herdeiro e responsável por todo o espólio musical do grupo que continua a apresentar em concertos com a sua própria banda, sob a designação de “Carl Palmer’s ELP Legacy”.

domingo, 11 de fevereiro de 2024

EMERSON, LAKE & PALMER I

                          

 

No final da década de 60 do século passado e inícios de 70, a cena musical britânica estava em vias de mudar. Ao longo da década que estava a terminar, os efeitos do “flowerpower”, movimento oriundo da costa oeste dos Estados Unidos estavam a dissipar-se, o psicadelismo musical que esse movimento criara, materializara-se nos Pink Floyd e em alguns outros grupos musicais. Adivinhava-se que vinha aí algo novo e diferente.

Em finais de 1969, Keith Emerson, teclista do grupo “Nice” e Greg Lake, baixista e vocalista do grupo de rock progressivo, “King Crimson” tinham-se conhecido em Nova York. Ambos estavam interessados em sair dos seus grupos e formar um novo juntos.

Em março de 1970, os dois músicos, já libertos dos respectivos grupos, começaram a procurar um baterista, processo que se revelou bastante difícil. Depois de muitas audições, fixaram-se em Mitch Mitchell que fizeram parte da “Jimi Hendrix Experience” que entretanto se separara. Ao saber do interesse da dupla em si, sugeriu uma “jam session” entre os três e o guitarrista americano, o que nunca chegou a acontecer. 


Foi durante uma das muitas audições para baterista que Tony Stratton Smith, manager de Keith Emerson, sugeriu o nome de Carl Palmer, baterista dos “Atomic Rooster” e anteriormente dos “The Crazy World of Arthur Brown”. Palmer apareceu numa sessão e houve uma química imediata entre os três músicos e, após muita insistência de Emerson e Lake, ao fim de algumas semanas, Palmer juntava-se ao duo.


            O trio chamou-se a si próprio “Emerson, Lake & Palmer” para afastar o foco da atenção sobre Keith Emerson, que era o mais famoso dos três e para garantir que eles não eram considerados os novos “Nice” (que se haviam separado no início de 1970). O grupo mudou-se para Notting Hill para ensaiar e preparar um alinhamento musical para futuros concertos. Muitos dos temas eram adaptações de rock de temas clássicos, que incluíam, entre outros, “Allegro barbaro”, de Béla Bartók, intitulado The Barbarian”; o tema de jazz “Rondo à la Turk” de Dave Brubeck, intitulado “Rondo”, que Emerson gravara com os “Nice”. O alinhamento musical terminava com o tema “Nut Rocker”, havia um tema original de Greg Lake,“Take a Pebble” e por vezes tocavam “Pictures at an Exhibition” de Modest Mussorgsky que Emerson gostava particularmente e que queria gravar depois de a ter visto ser tocada por uma orquestra. Era um alinhamento relativamente curto, mas que o grupo pretendia aumentar progressivamente. 

    


O primeiro grande concerto aconteceu a 23 de agosto de 1970 em Plymouth Guildhall para onde se deslocaram numa carrinha emprestada pelos seus compatriotas britânicos do grupo “Yes”. O concerto foi bem  recebido, não só pelo público, sempre à procura da novidade, como também pela crítica. Este reconhecimento permitiu-lhes ganhar um lugar no cartaz do Festival da Ilha de Wight que iria acontecer entre 26 e 31 de agosto do mesmo ano, com alguns dos maiores nomes da cena musical internacional e onde eram esperadas mais de 600.000 pessoas. Emerson, Lake & Palmer apresentaram-se a 29 de agosto e o sucesso, principalmente com a apresentação de “Pictures at an Exihibion”, granjeou-lhes as mais variadas atenções, desde o público até á imprensa musical e permitiu-lhes assinar um contrato com a E.G.Records e gravar um primeiro álbum. O grupo sentia, e as suas primeiras apresentações tinham-no provado, que conseguia vender qualquer coisa como 20.000 lugares ainda antes de terem um álbum editado.

            


O primeiro álbum da banda, intitulado “Emerson Lake and Palmer”, foi gravado nos meses que se seguiram ao seu triunfo no concerto da ilha de Wight e editado em novembro de 1970. Incluía, além das versões de estúdio de alguns temas já apresentados em concertos, como “The Barbarian”, “Take a Pebble” ou “Knife Edge”, surgiam outros como “Tank” (que incluía um extraordinário solo de bateria por Carl Palmer), “The Three Fates”, tema dividido em três partes, ou “Lucky Man”, uma balada acústica escrita  por Greg Lake quando tinha 12 anos de idade e que se tornou num dos temas clássicos do trio e que veio a ser o primeiro single do grupo. Até março de 1971, o grupo fez uma mini-tournée na europa com concertos no Reino Unido, Alemanha, Áustria e Suiça sempre com boas assistências e boas críticas.

            Durante uma pausa na tournée, em janeiro de 1971, o grupo voltou ao estúdio para gravar o segundo álbum, “Tarkus”. Logo de início aconteceram algumas fricções entre Emerson e Lake porque este não gostava do material que o primeiro escrevera. A situação ficou resolvida após uma reunião tida á porta fechada entre os três membros da banda e o seu manager, Tony Stratton Smith e acordou-se que Greg Lake escreveria as suas próprias canções. O álbum foi gravado em seis dias. O lado A contém apenas o tema-título com a duração de 20 minutos e dividido em sete partes, era uma peça conceptual com uma narrativa ambígua e aberta a diversas interpretações, na opinião dos músicos, trata-se de um tema sobre a futilidade do conflicto expressa num contexto de soldados e guerra, mas após uma segunda audição, percebe-se que é muito mais do que isso. O lado B contém diversos temas que nada têm a ver com a peça-título, como “Jeremy Bender”, “Bitches Crystal” ou “The Only Way”, esta última inspirada em Bach. O grupo retomou a sua tournée pouco tempo depois.

O álbum, editado em junho de 1971, foi um sucesso comercial enorme, chegou a número 1 na Inglaterra e foi número 9 nos Estados Unidos. Quase sem descanso, o grupo iniciou nova tournée, desta vez, começou no outro lado do atlântico a 24 de abril de 1971 com diversos concertos que se estenderiam até maio seguido de um regresso à Europa para apresentação de “Tarkus” até ao final do ano.

            


O terceiro álbum do grupo, “Pictures at an Exhibition”, viu a luz do dia em novembro de 1971. Apresentava a peça de Modest Mussorgsky que dá nome ao álbum integralmente gravada ao vivo num concerto no Newcastle City Hall em março de 1971 e em encore estava o tema “Nut Rocker”do grupo americano “B.Bumble and the Stingers”, gravado em 1962 e inspirado na marcha do “Quebra-Nozes” (Nut Cracker) de Tchaikovsky. Este álbum era para ter sido editado antes de “Tarkus”, mas o grupo queria mostrar aos críticos e ao público que também sabiam escrever temas próprios e que não eram apenas o grupo que tocava música clássica, por isso atrasaram a saída deste álbum. A Atlantic Records recusou editar o álbum nos Estados Unidos devido à sua orientação muito clássica e sem nenhum tema que pudesse ser passado na rádio para apoiar o seu lançamento. Acabou por ser a Island Records, em janeiro de 1972, a conseguir o lançamento do álbum em terras do Tio Sam através da importação de 250.000 cópias e que rapidamente se venderam, juntamente com a aposta de uma rádio, a WNEW-FM, em Nova York que costumava passar o álbum na íntegra. Chegou a número 3 na Inglaterra e número 10 nos Estados Unidos.

            


Terminada a tournée, o grupo foi para os Advision Studios gravar o seu terceiro álbum de estúdio, “Trilogy”, que seria editado em julho de 1972. “Hoedown”, adaptado do ballet  “Rodeo” de Aaron Copland, devidamente autorizado pelo autor e “From the Beginning”, um tema acústico escrito por Greg Lake que foi o single extraído do álbum, foram os pontos altos deste novo sucesso comercial do grupo em ambos os lado do atlântico e que os levou novamente a fazer uma tournée de apoio ao álbum que, além da Europa, Estados Unidos e América do Sul, levou-os pela primeira vez ao Japão onde se apresentaram com uma série de concertos que foram de grande sucesso para o grupo. Apesar de ter sido apenas número 2 nos tops britênicos e número 5 nos Estados Unidos, Greg Lake considerou “Trilogy” como o ponto mais alto da carreira do grupo e também o seu álbum favorito.

            O ano de 1973 seria de grande azáfama para o grupo. Logo no início fundaram a sua própria editora, a “Manticore Records”, em Londres, para a qual compraram um cinema abandonado que também seria o seu estúdio de gravação e em junho começaram a gravação de “Brain Salad Surgery”, o seu álbum seguinte que seria editado em novembro. o álbum é visto como um dos melhores do grupo e, dentro do rock progressivo, é considerado uma pequena obra-prima. 

       “Jerusalem”, o hino escrito por Hubert Perry, músico e historiador de música com um verso de “Milton”, o poema de William Blakeabre o álbum, com um arranjo feito pelo trio, ao som de uma batida quase épica que nos transporta para um outro tempo, algo que acabaria por surpreender tudo e todos. Com apenas cinco temas e ainda mal refeitos do tema anterior, somos conduzidos a uma adaptação do quarto movimento do primeiro concerto para piano de Alberto Ginastera, um compositor Argentino, que termina numa sequência de percussão sintetizada, para em seguida se respirar ao som de “Still…You Turn Me On”, escrito por Greg Lake, com a colaboração do letrista Pete Sinfield, co-fundador do grupo “King Crimson” e amigo pessoal de Lake. Com 29 minutos de duração, “Karn Evil 9” é o tema mais longo escrito pelo grupo, na sua maior parte é um poderosíssimo instrumental, mas contém também uma parte vocal escrita por Lake e Sinfield, na qual se pode ouvir o famoso verso “Welcome back, my friends, to the show that never ends…”, que seria o título escolhido para o segundo álbum ao vivo do grupo e muitas vezes tocado ao vivo na íntegra ou apenas um excerto como aconteceu nas últimas tournées. Apesar das críticas mornas, o álbum foi número 2 no Reino Unido e número 11 nos Estados Unidos. 

    


De novembro de 1973 até agosto de 1974, o grupo andou em tournée pela América do Norte e Europa, para apresentar o novo álbum, num total de mais de 100 concertos, divididos em quatro partes, levando consigo mais de 40 toneladas de material. De todas as datas, o dia 6 de abril de 1974 foi aquele que mais os marcou pois foram cabeças de cartaz do “California Jam Ontario Motor Speedway”, um festival de música em Ontario, Califórnia, onde tocaram para uma audiência superior a 350.000 espectadores. Também em 1974, mas em fevereiro, um concerto na arena principal do “Anaheim Convention Center” em Anahein, Califórnia, deu origem ao álbum ao vivo do grupo, o triplo “Welcome Back, My Friends to the Show That Never Ends – Ladies and Gentlemen”, que seria editado logo apos o final da tounée e que permanece ainda hoje como o melhor exemplo do que era a performance do trio em palco. 

Terminada a tournée, o grupo optou por tirar um longo período de férias, sem gravações nem concertos ao vivo.

                                                                                    (continua)

 

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

“The Thing – Veio de Outro Mundo”

  

 

            


Na chamada "Época de Ouro" da ficção cientifica, nas décadas de 30 e 40 do século passado, muitos foram os contos que se escreveram sobre as mais diversas temáticas do género, muitos foram os autores que se descobriram nesta época, graças a John W.Campbell Jr., e à sua revista “Astounding Science Fiction” (1937-1971). Apelidado de "O Pai da Ficção Cientifica", foi um dos pioneiros nessa época e também responsável por um dos mais famosos contos do género,
"Who Goes There?" (1938), assim se chama o conto e deu origem a três filmes. Um primeiro, feito na década de 50, chamou-se “The Thing from Another World – A Ameaça" (1951) e, na altura, até assustou os espectadores, mas afastava-se da génese do conto, o que terá, provavelmente, levado Howard Hawks, cuja realização era partilhada com Christian Nyby a dado passo da produção, a afastar-se dela mantendo-se apenas na função de produtor e argumentista (não creditado). O segundo filme chamou-se "The Thing - Veio de outro Mundo", foi realizado em 1982 e adapta o conto quase na íntegra. Já em pleno século XXI, o conto voltou a ser adaptado, com o título “The Thing – A Coisa”, realizado em 2011 por Matthijs van Heijnigen Jr., e é uma prequela directa do filme de 1982. 

 

O original de 1951 "The Thing - A Ameaça"


   Não é de estranhar que tenha sido John Carpenter o realizador a assinar a segunda versão de "The Thing", pois se o original fora co-realizado por Howard Hawks, de quem o realizador é um confesso admirador, nunca iria defraudar uma obra que tivesse o cunho do seu ídolo, pelo contrário, levou a uma nova apreciação da obra. A produção teve início em meados da década de 70 e pretendia ser uma adaptação fiel do conto. Passou pelas mãos de diversos argumentistas, todos com ideias diferentes em como fazer a aproximação à história, mas sem sucesso e com o desagrado dos familiares do autor, até que Bill Lancaster argumentista de créditos firmados, nomeadamente pelo argumento do filme “The Bad News Bears – Que se Lixe a Taça” (1976), uma comédia de Michael Ritchie, com Walter Matthau, da qual John Carpenter era um fan, apresentou à Universal Pictures, detentora dos direitos de adaptação, uma  versão que satisfez tanto os administradores do estúdio, como os herdeiros de John W.Campbell Jr.  

       


Antes de chegar a Carpenter, o projecto esteve quase a ser entregue a Tobe Hooper, que estava nas boas graças da Universal, graças ao seu filme “The Texas Chainsaw Massacre – O Massacre do Texas” (1974), mas foi sol de pouca dura, já que os administradores ficaram pouco agradados com a abordagem pretendida pelo realizador e pelo seu argumentista. Seguiu-se John Landis que também ficou pelo caminho e o projecto foi arrumado á espera de nova oportunidade e ela chegou quando John Carpenter, no seu filme, hoje um clássico, de 1978, “Halloween”, prestou uma discreta homenagem ao seu ídolo ao colocar numa cena um miúdo a ver na televisão o clássico de Hawks. Releu a história e viu o filme várias vezes à procura de inspiração e entendeu que a história do conto era algo intemporal. Perante a insistência do estúdio, revitalizado com os sucessos obtidos pelos recentes filmes do realizador, além de “Halloween”, “The Fog – O Nevoeiro” (1980) e “Escape from New York – Nova York, 1997” (1981), Carpenter aceitou embarcar no projecto. Finalmente havia luz verde para uma nova adaptação de um dos mais famosos contos da era dourada do género da ficção científica.
            

Numa estação de observação meteorológica no Árctico, um grupo de cientistas americanos é surpreendido pela chegada de um helicóptero da base norueguesa vizinha que vem em perseguição de um cão na tentativa de o abater. O helicóptero é destruído junto com os seus ocupantes e o cão é acolhido pelos americanos. Depois deste estranho acontecimento, descobrem que a base dos noruegueses foi destruída e os seus habitantes dizimados por algo não identificado. Mais tarde, a alguns quilómetros da base destruída, descobrem aquilo que parece ser uma nave extraterrestre enterrada na neve e a alguns metros dela descobrem os restos do que deveria ser uma cápsula de um dos ocupantes da nave.

          
     


A escolha do elenco não foi fácil. Os produtores contactaram diversos actores. Nomes como Brian Dennehy, Kris Kristofferson, Ed Harris, Tom Berenger, Fred Ward, Peter Coyote, alguns nomes mais sonantes como Nick Nolte, Christopher Walken, Jeff Bridges, ou mesmo Sam Shepherd, foram convidados para entrar no filme, mas, enquanto alguns, não estavam interessados em entrar num filme de terror, outros, por uma ou outra razão recusaram. David Leith, Donald Moffat, Richard Dysart, ou Wilford Brimley aceitaram entrar no projecto. Carpenter ainda tentou junto dos produtores, David Foster e Lawrence Turman, a contratação de Donald Pleasence para o papel de Doc, mas foi recusado. 

         


No início da produção, Carpenter convidara Kurt Russell para o ajudar a desenvolver algumas ideias próprias. Russell, amigo de longa e com quem o realizador já trabalhara em dois filmes, “Elvis – The Movie” (1979) e “Nova York, 1997” (1981), aceitou o pedido. Ainda na fase de pré-produção, Carpenter acabou por aproveitar algumas das suas ideias e convidou o actor a fazer o papel de R.J.MacReady, que achava ser perfeito para ele. Kurt Russell foi o último nome a ser escolhido e integrado no elenco.
            
O realizador John Carpenter

Carpenter realiza um filme pleno de terror e algum suspense, principalmente a partir do momento em que eles descobrem, horrorizados, que o extraterrestre tem capacidade de se transformar em qualquer ser, seja humano ou animal, desde que se encontre sózinho. O realizador consegue gerir todo filme sem se perder com trivialidades e habilmente introduzir um clima de suspense, claustrofobia e suspeita, com um bom doseamento de sustos, que acaba por envolver os espectadores no filme e levá-los a, tal como as personagens, querer descobrir quem é humano e quem já não o é (o melhor exemplo desta ideia acontece com o personagem de Doc, que, a dada altura, após a descoberta bizarra de um corpo  semi-transformado na base norueguesa, o qual é transportado para a base americana e que ele vai analisar, desaparece de cena (propositadamente? Ou não?) para só reaparecer muito mais tarde no filme e é impossível não nos questionarmos se ainda é humano ou não) e consegue-o com mestria própria. 

            


Porém, nem tudo era perfeito. Um dos grandes defeitos que o realizador vira no argumento era que existiam muitas cenas com diálogos o que, no seu entender, diminuíam o ritmo e retiravam o suspense pretendido, o argumento não enfatizava as personagens, principalmente a de MacReady que o realizador queria salientar. Posteriormente e já na sala de montagem, o realizador e o seu editor, Todd Ramsay, viram-se obrigados a retirar diversas cenas do produto final, cenas essa que incluíam uma perseguição entre um carro da neve e os cães da base norueguesa, algumas imagens de corpos desfeitos já quando a base americana está em estado de sítio e acrescentar algumas que, apesar de não constarem no argumento, Carpenter quis filmar. Percebe-se então aqui que aquelas cenas e diálogos que o realizador quis deixar de fora, não fazem falta nenhuma, apesar de, talvez alguma profundidade nas personagens não fosse má ideia apresentar. Mas o produto final satisfaz e satisfez as suas audiências, tornando o filme num sucesso. Sendo assim, porquê complicar?
            

Último grande filme realizado por John Carpenter, "The Thing" é, desde as primeiras imagens do genérico (com o universo e uma nave a dirigir-se para a terra onde cai vendo-se apenas um pequeno clarão que, de repente, se transforma numa grande luz onde se apresenta  o título do filme, uma das imagens de marca do realizador),  até ao "must" que é o final, talvez um dos melhores finais de um filme do realizador (excepção feita a “Halloween”): na base americana completamente destruída  e com a tempestade de gelo  que se abateu sobre o local, MacReady e Childs únicos sobreviventes da base conversam acerca do que aconteceu (perdura sempre a dúvida se algum deles está ou não infectado pela coisa). Childs diz ter-se perdido na tempestade enquanto procurava Doc Blair. MacReady, ri-se e abre uma garrafa de whiskey que partilha com o companheiro e enquanto constatam qual será o seu futuro, Childs, a dado momento, pergunta o que pretendem fazer. MacReady responde, laconicamente, aceitando qualquer que seja o seu destino (mantenho o original pelo impacto que cria na cena) “Why don’t we wait here a little while long and see what happens?” e a cena fecha com o tenebroso tema musical de “The Thing” da autoria do grande maestro das bandas sonoras, Ennio Morricone, digno do seu realizador que nunca mais iria conhecer o sucesso que obtivera até então devido aos sucessivos fracassos de bilheteira que viria a obter. Sómente no final da década de 80 com os filmes “Prince of Darkness – Princípe das Trevas” (1987) e “They Live – Eles Vivem” (1988), John Carpenter recuperaria alguma da sua forma de trabalhar e viria a obter sucesso junto do público e crítica também.

 

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Call Girl - Um filme maduro!

                         


 

            António-Pedro Vasconcelos é um daqueles casos no chamado cinema português onde a palavra mau ou malfeito não consta. Parece quase certo que desde a já quase distante década de 80 do século XX, quando começou a sua afirmação, que o realizador teima em deixar a sua marca bem patente na cinematografia nacional. Primeiro com “Oxalá” de 1980, seguindo-se “O Lugar do Morto” de 1984, a sua obra-prima; na década de 90, depois de uma quase travessia no deserto, por falta de apoios, regressa com “Jaime” em 1999; nos anos 2000, “os Imortais” de 2003 faz a diferença quando o cinema português procurava afirmar-se no panorama internacional. "Call Girl", de 2007 é mais um exemplo dessa vontade.

         


Quando começou a escrever o argumento do filme, o realizador só tinha em mente uma actriz, Soraia Chaves e, se analisarmos bem a história, percebe-se o porquê desta vontade de Pedro Vasconcelos: a câmara gosta da actriz e, quase que se pode dizer, persegue-a ao longo de todo o filme lançando o espectador num voyeurismo inevitável a fazer lembrar a câmara obsessiva de Stanley Kubrick em “Lolita” (1962), na relação entre Humbert Humbert (James Mason) e Lolita (Sue Lyon); ou a odisseia nocturna de Bill Hartford (Tom Cruise)  em “Eyes Wide Shut – De Olhos bem Fechados”(1999).       

          
Soraia Chaves é Maria, uma prostituta de luxo, contratada por Mouros para se envolver com Carlos Meireles, o Autarca de Vilanova, uma vila Alentejana, para facilitar a aquisição de uns terrenos em benefício de uma Multinacional que pretende construir um resort de luxo no local. Entretanto, dois polícias, Madeira e Neves, descobrem indícios de corrupção na compra dos terrenos e iniciam uma investigação. Tudo se complica quando Madeira descobre que Maria, que foi sua namorada, também está envolvida no caso.

            Narrativa policial, com alguns laivos de erotismo à mistura, o filme procura centrar-se no trio de actores principais e nas suas personagens e fazê-las descobrir todos os seus conflictos interiores, que também se propagam aos secundários, nomeadamente a Madeira (Ivo Canelas, excelente!), que, a dado momento, está em luta consigo porque, por um lado é um agente da lei e tem de ser imparcial na sua investigação, por outro, não esqueceu Maria completamente. Há também um pouco  de “O Lugar do Morto” em “Call Girl”, não só no ritmo policial que percorre a obra, mas no que toca á presença da “femme fatale”, que atrai o homem errado para o seu destino. 

        


Toda a história é percorrida por constantes interesses económicos, desde a prostituta de luxo , passando pela empresa interessada no projecto turístico, até ao intermediário que contrata a prostituta. Tudo e todos se vendem por um preço, (até Madeira, o agente da polícia e antiga paixão de Maria, está disposto a pagar o preço, usando-a,  para acabar com a teia de corrupção que já sabe que existe), é um exercício de poder exercido até as últimas consequências que serão inevitáveis para os seus protagonistas, é uma constante luta entre os poderes físicos, financeiros e políticos, sendo que o último é o que se mostra mais frágil perante os outros dois, muito bem demonstrado na cena em que Meireles, cede, meio enlouquecido, perante os encantos de Maria, deixando-se enredear numa espiral de esquemas sem regresso.

 O próprio título do filme revela a essência do seu todo, ou seja uma espécie de símbolo indicador das actividades e também das atitudes a que todas as personagens dão corpo e alma. É de Maria a frase que resume tudo isto quando diz, a dado momento,  que “prefere ser infeliz  num Audi do que no banco de um autocarro”. “Call Girl” é um filme, para além daquilo que já disse atrás, de conflictos sociais e pessoais e da maneira como as suas personagens os vivem, e em  que o fascínio por uma mulher contratada para fazer um trabalho, exerce sobre um homem que tem tudo a perder e que, afinal, acaba mesmo por perder tudo.  .   
          


A história é banal, sim, mas também é um trabalho cirúrgico de grande porte, sem falsas modéstias, pondo a nu fragilidades humanas, retratos de uma sociedade em decadência, perfeitamente ilustrado por um elenco todo ele bem escolhido, começando na sensual e bonita Soraia Chaves, passando por Ivo Canelas, Joaquim de Almeida, José Raposo, José Eduardo, pelos  secundários Maria João Abreu, Custódia Gallego, Ana Padrão, entre outros  e não esquecendo  o fabuloso Nicolau Breyner sobre quem, juntamente com Soraia Chaves, recai a responsabilidade de levar o filme a bom porto, principalmente no seu jogo de sedução e na teia de corrupção, sexo e dinheiro que envolve o segundo,  torna a história interessante e faz-nos esquecer a banalidade e uma ou outra falta de solidez no argumento.

        


A interpretação de Soraia Chaves é intensa na abordagem que faz ao papel, muito convincentemente facilitado pela beleza e sensualidade que emana da actriz e que já havia dado nas vistas no filme “O Crime do Padre Amaro”, em 2005, onde interpretara a jovem Amélia, que dá a volta á cabeça de  Amaro;  Nicolau Breyner é Carlos Meireles, o autarca de Vilanova e que é  o alvo das atenções especiais de Maria. A sua interpretação é das melhores que alguma vez o vimos fazer em cinema e, tal como Soraia Chaves, consegue agarrar o papel e dar-lhe o seu cunho pessoal, aliás, a que veterano actor sempre nos habituou. Nas cenas entre os dois actores existe uma química perfeita,  são extremamente realistas, Maria faz o quer do seu alvo, é sempre ela que está no controle de todas as acções que acontecem entre ambos e tudo isso é-nos mostrado em magnificas cenas perfeitamente filmadas e montadas com uma elegância poucas vezes vistas em produções nacionais. 
            

A realização de António-Pedro Vasconcelos é sóbria, madura, não cai em lugares-comuns, apesar das muitas referências cinematográficas que lhe encontramos. Basta olhar para a sua obra desde o curioso “Oxalá” (1980) até “Jaime” (1999), ou “Os Imortais” (2003), passando pela sua obra-prima “O Lugar do Morto” (1984), talvez o melhor filme português dos últimos 50 anos, e pelo premiadíssimo “Os Gatos não têm Vertigens” (2014), para se verificar que é um realizador com obra feita, que sabe filmar e contar uma história.

Filme-sensação de 2007, teve o condão de trazer os espectadores portugueses novamente ás salas e, principalmente,  até ao cinema nacional, e foi vencedor de 3 Globos de Ouro SIC Portugal/Caras para Melhor Filme, Melhor Actriz e Melhor Actor.  

       


“Call Girl” é um filme realista, um bom exemplo de que em Portugal também se sabem contar histórias destas. O seu sucesso junto do público é exemplo disso. Grande demais para a visão curta dos portugueses, mas destinado a grandes voos fora de fronteiras.
a não perder!

 

 

segunda-feira, 1 de maio de 2023

Uma Viagem pelo Cinema Português IV - Os anos 2000 – Portugal sem Fronteiras

                              

 

            


Depois de o cinema português do século XX ter terminado com um sinal mais, principalmente após os filmes que fecham os dois últimos anos do século, “Zona J” (1998), “Sapatos Pretos” (1998) e “Jaime” (1999) de António-Pedro Vasconcelos, independentemente de serem incursões em zonas marginais, rurais ou no norte do país, terem reconciliado o público com as salas de cinema, era com alguma expectativa que se aguardava a chegada do novo século e o que traria para a Sétima Arte nacional.

            


Os primeiros anos do novo século são ainda dominados, tal como a última década do anterior,  pela prevalência de algum cinema de autor, mas também pelo surgimento de novos nomes na realização dispostos a mudar as coisas: Manoel de Oliveira, mantém, na frescura dos seus noventa anos, o ritmo de um filme por ano; João César Monteiro, após a “Trilogia de Deus” sobre o  seu alter-ego, João de Deus, choca os meios artísticos e intelectuais do país com “Branca de Neve” (2000) que deixa sem imagem, alegadamente por ter tido uma discussão séria com o produtor do filme, Paulo Branco, que não concordava com o rumo que a rodagem tinha tomado. Quando questionado sobre essa sua decisão e que repercussões teria nos espectadores, respondeu laconicamente “o público que se lixe!”. Mesmo assim, o filme obteve um inesperado sucesso. 

José Álvaro Morais com o seu “Quaresma” (2003), um retrato social de um certo Portugal interior ainda desconhecido para muitos, consegue um facto quase inédito ao estar presente em competição na Quinzena dos Realizadores no Festival de Cannes. Também António-Pedro Vasconcelos confirma o seu estatuto de autor, apesar de querer demarcar-se do género, com “Os Imortais” (2003), rodeando-se de um elenco de excepção onde pontua o nosso mais internacional actor, Joaquim de Almeida, ao lado de Joaquim Nicolau, Rogério Samora, Rui Unas, Filipe Duarte, Emmanuelle Seigner e o enorme Nicolau Breyner, conta a história de um grupo de ex-comandos de uma unidade especial da Guerra Colonial  que todos os anos comemoram os feitos da guerra e desta vez querem fazer algo diferente. Grande sucesso de bilheteira dentro e fora de portas.

           


 Mas o novo século também trouxe novos nomes para o cinema português: desde logo João Pedro Rodrigues estreia-se na realização com “Fantasma” (2000), onde aborda questões relacionadas com a obsessão e algum fetichismo com a homossexualidade masculina no Portugal do século XXI através da história de Sérgio, cantoneiro em Lisboa. O filme, algo ignorado em Portugal, ganhou alguma projecção depois da sua exibição em diversos festivais internacionais onde inclusive, competiu e acabou por se tornar um filme culto. Também Cláudia Tomaz consegue com o seu filme de estreia, “Noites” (2000) abordar com seriedade o tema da marginalidade e da toxicodependência e ganhar o Prémio de Melhor Filme da Semana da Crítica no Festival de Veneza.

            


As produções nacionais começam a marcar o seu espaço e a ser presença habitual na europa do cinema: Fernando Vendrell com o seu filme “O Gotejar da Luz” (2001) cuja acção decorre em Moçambique na década de 50, é exibido no Festival de Berlim e em outros festivais internacionais onde obtém algum sucesso; Também Joaquim Sapinho se vai apresentar em 2003 com “A Mulher Polícia” no Festival de Berlim. A história de uma mãe e do seu filho do interior do país e que se veem obrigados a fugir para Lisboa para não serem separados por coisas que o filho fez. O filme cativou a crítica e o publico, além de Berlim, andou por diversos festivais internacionais onde venceu alguns prémios. Mas, apesar das boas graças a que o cinema nacional se vai apegando, o público é escasso: “A Selva” de Leonel Vieira (2002), co-produção luso-hispano-brasileira, baseada no romance de Ferreira de Castro, fica aquém do esperado, apesar do elenco que conta com nomes como Diogo Morgado, Maitê Proença, Ruy de Carvalho, Gracindo Junior, entre outros; “O Delfim” de Fernando Lopes (2002), baseado no romance de José Cardoso Pires, com Alexandra Lencastre e Rogério Samora, é practicamente ignorado pelo público; “O Fascínio” de José Fonseca e Costa (2003), foi directamente editado em DVD; também o polémico João César Monteiro viu o seu “Vai e Vem” (2003) passar a correr pelas salas de cinema. 

A televisão invade o cinema, o público queria agora era enredos televisivos onde, além de vedetas de televisão, das histórias cor-de-rosa, ao estilo telenovela, intrigas com mil e um “fait-divers que de preferência implicavam figuras públicas envolvidas com jovens de elevados atributos físicos e cenas de sexo explícito. A aposta, se bem que arriscada, revelou-se acertada e os filmes produzidos foram sucessos de bilheteira.


Esta nova tendência começou logo em 2005 com “O Crime do Padre Amaro” de Carlos Coelho da Silva, conta a história do Padre Amaro, saído do seminário, vem substituir um padre falecido e acaba por se envolver com a jovem Amélia, sem pensar nas consequências que daí possam advir. Adaptação da obra literária de Eça de Queirós com a acção da cidade de Leiria do século XIX transposta para a actualidade num bairro social de Lisboa. Jorge Corrula e Soraia Chaves encabeçam o elenco onde também constam Nicolau Breyner, Ana Bustorff, Cláudia Semedo, Rui Unas e Diogo Morgado, entre outros. O filme, feito com o apoio da SIC, foi depois exibido no canal privado, como série, contendo cenas inéditas.

     


Também “Corrupção” de João Botelho (2007), inspirado no livro “Eu Carolina” de Carolina Salgado, ex-namorado de Pinto da Costa, presidente do FC Porto, onde revela alguns casos escaldantes protagonizados por si e por Pinto da Costa. No filme, Margarida Vila nova é a protagonista Sofia e Nicolau Breyner é o presidente de um clube de futebol que se deixa corromper numa tentativa de fazer com que o seu clube vença o campeonato. Outro caso foi “Call Girl” de António-Pedro Vasconcelos (2007) inicialmente envereda pelo mesmo caminho do filme de Botelho, mas muda o rumo a meio e o filme torna-se mais interessante. A história é a de Maria, uma “Call Girl” de luxo (interpretada pela sensualíssima Soraia Chaves), contratada por Mouros (Joaquim de Almeida, o eterno vilão), para seduzir um presidente de câmara de nome Meireles (interpretação a cargo de Nicolau Breyner com a excelência habitual do actor) para que este autorize a construção de um empreendimento turístico de luxo em terrenos da sua cidade. Ao mesmo tempo, dois inspectores da polícia começam a investigar indícios de corrução em Meireles; “Second Life” de Miguel Gaudêncio e Alexandre Cebrian Valente (2009) conta a história de Nicholas, um jovem rico que na noite em que comemora os seus 40 anos juntamente com amigos, aparece morto na sua piscina e enquanto se investiga a sua morte, descobre-se também os muitos vícios, paixões, ambições e traições de cada personagem que se encontrava  na festa, ao mesmo tempo é-nos mostrada como seria a sua vida se ele em vez de vir para Portugal, tivesse ficado no estrangeiro. 

O filme protagonizado por uma constelação de vedetas como Lúcia Moniz, Cláudia Vieira, Nicolau Breyner, Paulo Pires, Pedro Lima, Sofia Grilo, Ricardo Pereira, entre outros, foi o maior sucesso de bilheteira desta primeira década do novo século. O filme era para ter sido realizado por Nicolau Breyner que, por divergências criativas com o Produtor Alexandre Cebrian Valente, abandonou a realização, mas manteve a sua participação no filme que acabou por ser co-realizado pelo produtor e pelo argumentista Miguel Gaudêncio.

            


No ano em que comemora o seu centenário, 2008, Manoel de Oliveira, é homenageado com um segundo Leão de Ouro no Festival de Veneza e mantém a sua actividade cinematográfica. Além da fórmula televisiva que continuava a resultar com o “Filme da Treta” de José Sacramento (2006), adaptado de um formato “sketch” televisivo, inspirado numa peça teatral de televisão em que António Feio e José Pedro Gomes, respectivamente Toni e Zézé, habitantes de um bairro degradado em Lisboa, comentam o dia-a-dia de uma forma humorística, tão bem souberam interpretar. Foi um enorme sucesso de bilheteira, assim como a sua sequela (já sem António Feio), “Filho da Treta” (2016) de Helder Mendes.  Sopram ventos de mudança no panorama cinematográfico português que se encontrava numa encruzilhada: O Ministério da Cultura cria o Fundo de Investimento para o Cinema e Audiovisual que é sustentado por si, pela RTP, SIC e TVI e também pela ZON, distribuidora de programação por cabo, controlada pela Lusomundo, na altura, o maior distribuidor de filmes em Portugal. Além de alguns filmes de índole comercial e pouco interessantes em termos de qualidade, como “98 Octanas”(2006) de Fernando Lopes, uma espécie de “road movie” à portuguesa;  “Viúva Rica Solteira não Fica” (2006) de José Fonseca e Costa, uma co-produção luso-brasileira e uma tentativa de fazer uma comédia romântica de época; ou ainda a “Arte de Roubar” (2008) de Leonel Vieira, co-produção portuguesa, brasileira e espanhola de acção, comédia e crime que convenceu muito pouca gente;  outros há que, apesar de serem realizador por independentes, levam a produção nacional além fronteiras: “Alice” (2005) de Marco Morais em que um pai procura a sua filha desaparecida numa Lisboa ameaçadora, esteve em Cannes na secção de Primeiras Obras; também em “Odete” (2005) de João Paulo Rodrigues, Lisboa é palco da morte de um jovem de sexualidade ambígua, enquanto Odete, uma jovem empregada de hipermercado sonha em engravidar do seu namorado. Quando este foge, ela, sozinha, fecha-se num mundo de ilusões e mantém a sua obsessão de ter um filho. O filme, presente em Cannes, ganhou uma menção especial em “Cinémas de Recherche”.

A partir de 2010, ao se entrar na segunda década do século XXI, depois duma travessia do deserto pontuada por alguma irregularidade na produção cinematográfica nacional, esta parece querer alinhar-se com o resto da Europa e, quem sabe, até marcar pontos em termos de qualidade.

            


Aos 102 anos de idade (!), Manoel de Oliveira concretiza finalmente um velho sonho de mais de cinquenta anos com “O Estranho Caso de Angélica” (2010), onde um jovem fotógrafo é chamado a casa duma família abastada do norte para tirar um último retrato de Angélica, uma jovem que morreu logo após o seu casamento, e no momento em que tira a fotografia, a jovem parece ganhar vida, pisca-lhe o olho e sorri. O fotógrafo fica obcecado com a sua beleza e aquele momento surreal e quer saber mais sobre Angélica. O filme obtém apenas um modesto sucesso nas salas. Ao contrário, “A Bela e o Paparazzo” (2010), de António-Pedro Vasconcelos obtém um enorme sucesso. A comédia romântica que conta a história de Mariana, uma actriz de telenovelas de sucesso que está perto de um colapso nervoso porque as filmagens não estão a correr bem, ao mesmo tempo que é constantemente perseguida pelos paparazzi, principalmente Gabriela Santos que ela nunca consegue saber quem é. No elenco, novamente Soraia Chaves mais sexy que nunca, acompanhada por Marco d’Almeida, Pedro Laginha, Virgílio Castelo, Ivo Canelas, Nicolau Breyner, entre outros. 

Em 2012, fruto de uma feliz co-produção entre o ICA, da RTP Rádio e da Alfama Films com a colaboração da Câmara Municipal de Lisboa, nasce a “Operação Outono” um thriller político realizado por Bruno de Almeida que conta a história do assassinato do General Humberto Delgado ocorrido em fevereiro de 1965, em Espanha, pela mão da PIDE a mando de Salazar. O filme, baseado em factos verídicos narrados na biografia de Delgado “Humberto Delgado, o General sem Medo” escrita pelo neto Frederico Delgado Rosa. O filme, com um elenco nacional e internacional com nomes como John Ventimiglia, Nuno Lopes, Diogo Dória, Ana Padrão, Carlos Santos, Camané, entre outros, foi estreado em algumas salas do país, de norte a sul, e obteve apenas um modesto sucesso de bilheteira mas que não desencorajou o cinema nacional de partir à conquista da Europa e do mundo. 

Em 2011 é criada a Academia Portuguesa das Artes e Ciências Cinematográficas ou simplesmente Academia Portuguesa do Cinema, cuja missão é apoiar e divulgar o cinema português, não só em Portugal, como também no estrangeiro.

            


Em 2012, a Academia Portuguesa de Cinema instituí o prémio Sophia, nome escolhido para homenagear a maior poetisa portuguesa de sempre, Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), que, à semelhança de outros galardões um pouco por toda a europa como o “César” em França, o “Goya” em Espanha ou o “Bafta” no Reino Unido, todos inspirados naquele que é o maior prémio de cinema do mundo, o “Oscar” americano, premeia a excelência cinematográfica nacional. Nas várias cerimónias já decorridas foram premiadas obras como “Tabu” (2012) de Miguel Gomes, “Os Gatos não Têm Vertigens” (2014) de António-Pedro Vasconcelos, “Cartas de Guerra” (2017) de Ivo M. Ferreira, “A Herdade” (2019) de Tiago Guedes ou “Listen” (2020) de Ana Rocha de Sousa, que inclusivamente esteve perto de chegar à nomeação para o Oscar de Melhor Filme Internacional.


        

O facto de nos últimos anos, o cinema português ter estado na mó de cima com grande representação internacional, não o isenta de ter andado a perder tempo com “remakes” dos clássicos da era de ouro da comédia portuguesa, como foram os casos de “O Pátio das Cantigas” (2015) de Leonel Vieira, que, apesar de querer actualizar a história de um simples bairro lisboeta por altura dos Santos Populares, convenhamos que, por muito boa vontade que se tenha, César Mourão não é nem de perto nem de longe Vasco Santana e Miguel Guilherme, apesar da sua excelente prestação muito próxima da de António Silva, ainda está alguns níveis abaixo do original; foi também o caso de “O Leão da Estrela” (2015) de Leonel Vieira que, embora um pouco melhor que o “o Pátio das Cantigas”, sofre do mesmo problema,  só actualizar a história não chega, é preciso ter graça, a graça que o original tinha e, apesar do esforço de todo o elenco, o filme não descola da mediania; aconteceu exactamente o mesmo com “A Canção de Lisboa” (2016) de Pedro Varela que, sabendo-se de antemão ser o original de 1933 uma das comédias mais amadas do cinema nacional, teria que ser feito um trabalho acima da média, nomeadamente para os papéis principais de Vasco Santana e Beatriz Costa e António Silva, o que não aconteceu porque a escolha recaiu sobre novamente em César Mourão (que não consegue, uma vez mais, chegar aos calcanhares de Santana), Luana Martau (para mim, uma desconhecida) e Miguel Guilherme que “volta a vestir a pele” de António Silva e com a qual quase consegue levar o filme ás costas. Os três “remakes” ficaram aquém do esperado em termos de bilheteira; já “O Pai Tirano” (2022), realizado por João Gomes, com um elenco recheado de estrelas, como José Raposo, Miguel Raposo, Carolina Loureiro, Jessica Athayde, Diogo Amaral, Diogo Valsassina, entre outros, mantém intacto o enredo dos anos 40 idealizado e escrito por António Lopes Ribeiro, mas passou despercebido pelas salas de cinema. É caso para se perguntar se havia mesmo necessidade de se fazer estes “remakes”? eu acho que não!

            Mas, apesar dos muitos problemas, financeiros e outros, por que passou o cinema nacional ao longo destes mais de 100 anos de existência, soube sempre dar a volta e adaptar-se aos novos e desafiantes tempos que lhe foram surgindo e cada vez mais a qualidade do produto nacional é respeitada. Finalmente estamos a ser conhecidos internacionalmente, não só com presenças assíduas em festivais e outros certames por esse mundo fora, mas também são cada vez mais as produções estrangeiras que escolhem vir produzir filmes e séries em Portugal, usando para esse efeito muita mão-de-obra nacional e que acabam por promover o cinema nacional além-fronteiras.   

              

EMERSON, LAKE & PALMER II

            O trio, depois de um longo período de férias, sentindo-se revigorado, reuniu-se novamente em 1976, nos “Mountain Studios”, em Mo...