quinta-feira, 28 de abril de 2011

Concept Albums

   Em termos musicais, um "Álbum Conceptual" ou "Concept Album" como é vulgarmente conhecido, é um album cujo conceito base gira em torno de um tema que pode ser instrumental, uma composição popular, narrativo ou lírico. habitualmente, "Concept Albums" incluem ideias musicais ou líricas preconcebidas em vez de serem compostos ou improvisados em estúdio, com a totalidade das canções a contribuirem para um único tema ou para a unidade duma história, contrastando com a prática comum de um artista ou grupo editar um album consistindo unicamente numa série de temas sem qualquer ligação.
   Embora muito conotado com os grupos de Rock Progressivo ou Sinfónico do meio da década de 60 para frente, este género de albuns começou mais cedo, por volta de 1961 com um album dos "Ventures" intitulado "Colorful Ventures" em que cada tema correspondia a uma cor. Durante a década de 60, este grupo ficou conhecido por lançar discos cujas faixas giravam à volta de temas centrais como Música Country, Ficção Científica, Televisão e Música Psicadélica...o sucesso não foi grande porque o público ainda não estava preparado para este tipo de albums.
   Em 1966 as coisas começaram a mudar, na medida em que alguns grupos de renome lançaram albuns alegadamente temáticos, a começar pelos Beach Boys com "Pet  Sounds" que nada mais era do que um retrato musical do estado em que Brian Wilson se encontrava na altura, apesar do grupo dizer que não se tratava duma narrativa, havia um tema a unificar todo o disco e obteve um grande sucesso. No mesmo ano, "Freak Out" de Frank Zappa & The Mothers of Invention falava sardonicamente da música rock e da América como um todo e "Face to Face" dos The Kinks apresentava uma primeira série de estudos de Ray Davies sobre as pessoas vulgares.
   1967 viu nascer o primeiro Concept Album e o termo ganhou alguma projecção entre a crítica e o público, "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", dos Beatles conta a história de um ex-líder duma banda do exército e o seu envelhecimento. Embora Lennon e McCartney se distanciem do termo concept album aplicado a este trabalho, este pegou e inspirou outros artistas a trabalhar nesse sentido. No mesmo ano "Days of Future Passed" dos Moody Blues, conta a história de um dia na vida de um homem normal e utiliza uma orquestra conjugada com o grupo. "The Who Sell Out" dos The Who relata a história de uma emissão numa rádio-pirata. Contidos no disco estão  piadas comerciais gravadas pelo grupo  e jingles utilizados por verdadeiras rádios-piratas, misturados com canções que vão desde o pop ao hard rock e rock psicadélico que por esta altura, graças aos Pink Floyd, estava a ganhar algum espaço na cena musical.
Tommy, um concept album ousado para a época
   Em 1969 é editado "Tommy" pelos The Who, esta ópera rock, composta por Pete Townshend era apresentada em dois discos (algo pouco habitual nesta época)e conta a história dum jovem cego, surdo e mudo que se torna numa espécie de  líder messiânico dum movimento rock, foi também o primeiro concept album a apresentar uma história contínua e a obter enorme sucesso quer critíco, quer junto do público. em 1973 os mesmos The Who apresentariam uma outra ópera rock, "Quadrophenia", baseada nos confrontos ocorridos em Inglaterra nos anos 60 entre jovens "Mods" e "Rockers" e nas divergências existentes entre eles.  Obteriam ainda mais sucesso. Ainda no final da década de 60, os Kinks editam  "Arthur, Or the Decline and Fall of the British Empire" de 1969, e uma série de outros trabalhos considerados concept albuns que culminam em 1976 com "Schoolboys in Disgrace".
   Na década de 70, concept albuns estão na ordem do dia graças ao Rock Progressivo que se expandira práticamente pelo mundo inteiro. Logo em 1970 os Aphrodite Child's de Demis Roussos e Vangelis editam o duplo álbum "666" (The Apocalypse of John), baseado no Livro Bíblico do Apocalipse e obtêm um enorme sucesso. Os Pink Floyd, na sua melhor fase, depois dum inicio de carreira psicadélico lançam, em 1973, "Dark Side of the Moon", a sua obra-prima (ainda hoje considerado o terceiro melhor álbum das história do rock) e uma série de outras que só termina nesse objecto de culto musical chamado "The Wall" (1979); os Yes, entre vários concept álbuns que editam durante a década, está "Tales from Topographic Oceans" (1973), um álbum ambicioso, com quatro temas onde, por ordem de faixa, revelam conceitos sobre Verdade, Conhecimento, Cultura e Liberdade. Ainda antes de ser lançado, o álbum já era disco de ouro só pela quantidade de encomendas.
     Os Genesis, referência obrigatória dos anos 70, lançam em 1974 "The Lamb Lies down on Broadway", onde contam a história de Rael, um Punk de rua. Passado numa Nova York surreal, quase um álbum experimental e cujas apresentações ao vivo eram do mais teatral que alguma vez se vira na cena musical (tão ao gosto de Peter Gabriel, vocalista do grupo),  foi o maior sucesso da carreira do grupo e a sua obra-prima. Também David Bowie, camaleão do rock, se deixou encantar por este tipo de trabalhos e durante a década, edita três concept albuns que são os seus maiores sucessos "Aladdin Sane", "Diamond Dogs" "The Rise and Fall of Ziggy Stardustand the Spiders from Mars",  sendo este acerca duma personagem ficticia, Ziggy Stardust e a sua banda.
   Na segunda metade da década, Rick Wakeman, teclista dos Yes lança dois concept albuns que indiciam uma nova orientação na música, "Journey to the Center of the Earth" (1974), baseado no famoso livro de Julio Verne e "The Myths and Legends of King Arthur and the Knights of the Round Table"(1975), que, como o título indica , fala do Rei Arthur e é baseado na obra de Thomas Mallory "La Morte d'Arthur".    
O Primeiro Concept Album de Alan Parsons Project
   Também Alan Parsons, um engenheiro de som britãnico, que com o seu Alan Parsons Project e desde o seu primeiro álbum "Tales of Mystery and Imagination - Edgar Alan Poe" de 1976, inspirado pelos contos mais famosos do escritor americano, se especializou inteiramente em concept albums.
   Na década de 80, o rock progressivo  perde importância e os concept albums consequentemente também, embora ainda subsistam alguns grupos apostados em lançar trabalhos desses. Salientam-se os americanos  Styx que em 1981 ganham uma série de discos de platina com o álbum "Paradise Theater" onde contam a história de um teatro decadente em Chicago e que muitos viram como uma metáfora da infãncia e da cultura americana, assim como com "Kilroy was Here" de 1983 onde ensaiam uma espécie de ópera rock futurista onde uma sociedade moralista prende os rockers.
   As bandas de heavy metal começam a ganhar terreno nesta década e algumas chegam mesmo a editar concept albuns como Iron Maiden que, ao longo da década vão conhecer o sucesso mundial com diversos trabalhos, mas somente com "Seventh Son of the Seventh Son" (1988) é que editam o seu concept album, baseado nos mitos e folclore do Sétimo filho de um Sétimo filho com poderes Místicos. Já em 1985 "Phenomena", um supergrupo de músicos oriundos de diversas áreas,  anuncia o regresso dos concept álbuns com um toque de rock pesado. Os três álbuns editados lidam com o sobrenatural e com o inexplicável.
   Na década de 90 e inicio do século XXI, apesar do advento da música alternativa, alguns artistas ainda fazem concept albuns. O Anticristo do rock, Marilyn Manson edita três trabalhos em forma de rock ópera "Antichrist Superstar" (1996), "Mechanical Animals" (1998) e "Holy Wood" (2000) que, no entender do artista, formam uma trilogia em forma de concept album  e fazem parte duma história mais abrangente.
   Em 1999 os Dream Theater  com o álbum "Metropolis Pt.2: Scenes from a Memory", tentam reavivar "o concept Story album". Este álbum é a continuação de um tema que o grupo lançou no primeiro álbum  em 1992  intitulado "Images and Words", o tema, "Metropolis Pt.1: The Miracle and the Sleeper", introduzia a história e, apesar de outras partes desta história surgiram no mesmo  trabalho, o grupo só resolveu contar a história  toda num álbum só, quando obtiveram o controle absoluto no seu trabalho. "Metropolis Pt.2: Scenes from a Memory", é construído em torno dos conceitos musicais  apresentados na parte 1 e está considerado como uma das obras-primas do grupo.
   Em 2004 o grupo punk pop Green Day edita o multi-premiado "American Idiot"  um concept album e que é  seguido em 2009 por outro concept  "21st Century Breakdown". 
A Primeira Ópera Rock Punk na Broadway
   Em 2010 "American Idiot" torna-se na primeira ópera rock punk a chegar à Broadway. Recebe dois Tony's (Óscares do Teatro).
   Enquanto houver  interessados no formato e nas potencialidades que esta variante musical oferece, haverá sempre um concept album presente na discografia de cada artista, assim como público para o ouvir e julgar.


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quinta-feira, 21 de abril de 2011

Dune de Frank Herbert

   "Dune" (Duna ou simplesmente Dune em português) foi escrito por Frank Herbert em 1965. É considerado por muitos o maior romance de ficção científica de todos os tempos e também o mais vendido de todos os tempos. Em 1966 ganhou o prémio Hugo e recebeu também o Nebula para Melhor Romance logo no ano da sua estreia.
   A acção passa-se no futuro numa espécie de universo feudal governado por Casas Nobres planetárias que devem obediência à Casa Imperial Corrino. "Dune" conta a história da rivalidade secular entre as Casas Atreides e Harkonnen numa altura em que os primeiros são nomeados pelo Imperador para ir controlar o planeta Arrakis, seco e desértico, é onde se encontra a única fonte da Especiaria Melange que é a mais importante e valiosa de todo o universo e da qual todas as Casas são dependentes. Em Arrakis, também conhecido por Dune, a familia Atreides vai ser confrontada com a complexidade da politíca, religião, ecologia, tecnologia e emoções humanas, há medida que as forças do Império se defrontam pelo controle do planeta e da sua Especiaria.
   O interesse de Herbert pelo deserto começou em 1957, na altura ainda não era para ser cenário de livro, quando ele foi visitar em  Florence  no Oregon, as Dunas de Oregon. O Departamento de Agricultura do Governo dos Estados Unidos tinha-o convidado para escrever um artigo sobre "as experiências que estavam a ser levadas a cabo com colheitas pobres para estabilizar dunas de areia que poderiam danificar e engolir cidades inteiras, lagos, rios e até mesmo autoestradas". O artigo do escritor intitulado "They Stopped the Moving Sands", nunca foi completado, mas a sua pesquisa despertou-lhe o interesse pela ecologia.
O Autor Frank Herbert
   Herbert passou então os cinco anos seguintes a pesquisar, a escrever e a rever o texto que viria a ser o livro "Dune", que inicialmente aparecia na "Analog magazine" como dois pequenos trabalhos, "Dune World" (1963) e "The Prophet of Dune" (1965), mas que seriam aumentados, reescritos e rejeitado por inúmeros editores, até que, em 1965, o livro vê a luz do dia...e o resto é história!
   "Dune" tem sido considerado "o primeiro romance de ecologia planetária em grande escala". Mas a preocupação com as mudanças ecológicas e suas consequências só aconteceu a partir da publicação do romance "The Silent Spring" escrito por Rachel Carson em 1962. Em 1965 "Dune" respondeu a essa preocupação com as descrições complexas da vida em Arrakis, desde os gigantes Vermes da Areia que habitam o deserto profundo (para quem a água é mortal), até pequenas formas de vida tipo rato adaptadas para viver com água limitada. Os habitantes do planeta, "Os Fremen" têm um compromisso com aquele ecossistema, sacrificando alguma da sua vontade de verem o planeta carregado de água, para preservar os Vermes da Areia que são tão importantes para a sua cultura. Desde essa altura o romance, na sua criação de ecologias únicas e complexas, foi seguido por outros livros de outros autores. Ambientalistas, inclusive, disseram que muita da  popularidade do romance, ao descrever o planeta como uma coisa viva, por vezes complexa e surgir na mesma altura em que foram divulgadas as primeiras imagens da Terra vista do espaço, terá influenciado muitos movimentos ambientalistas  e terá sido decisiva na criação do Dia Internacional  da Terra.
   Grandemente influenciado pela cultura Árabe e Muçulmana, "Dune" utiliza termos dessas culturas na designação de muitas das suas situações, principalmente quando Paul Atreides, o estrangeiro que adopta os maneirismos do deserto e das suas gentes para tentar libertá-los, se torna no "Muad'Dhib", ou seja numa espécie de Messias (influência do Alcorão) que conduzirá os seus "Fremen" a uma "Jihad" (Guerra Santa) através do universo, vêmo-lo como uma espécie de T.E.Lawrence (mais conhecido como Lawrence da Arábia). A ascensão de Paul segue uma linha comum a todos os romances deste e de outros géneros onde  se decreve o nascimento de um herói. As circunstâncias são as de uma desgraça que cai sobre a personagem mas que, após um período de indecisão e exilio, ele enfrenta e vence o mal. Como tal, "Dune", é mais um representante dessa tendência que começara na ficção científica da década de 60, em que a personagem alcança um estatuto de semideus através de meios cientificos e eventualmente ganha uma espécie de omnisciência que lhe vai permitir assumir o controle do planeta e da galáxia e levar a que os fremen o adorem como a um deus. A diferenciação das personagens de "Dune" de outros superheróis como Superman acontece na forma como adquirem os seus poderes súbita e acidentalmente, Paul ganha os seus através de um lento e doloroso progresso pessoal e ainda ao contrário de outros heróis,  que eram excepções entre gente vulgar nos seus respectivos mundos, as personagens de Herbert cultivam os seus poderes através da aplicação de filosofias místicas e técnica. Foi aqui que "Dune" marcou a diferença que contribuiu definitivamente para o sucesso que ainda hoje tem.
A série original escrita por Frank Herbert
   Em 1969, devido ao grande sucesso obtido, Frank Herbert  publicava "Dune Messiah" dando continuidade ao romance anterior. 1976 vê sair o terceiro volume da série "Children of Dune", a que se seguiriam "God Emperor of Dune" (1981), "Herectics of Dune" (1984) e "Chapterhouse:Dune" (1985). Frank Herbert morreu em 1986.
Kevin J. Anderson & Brian Herbert
   Mais de uma década depois da morte do escritor, o seu filho Brian Herbert, usando notas deixadas pelo pai e em colaboração com Kevin J. Anderson, conceituado autor de alguns romances do universo "Star Wars", deram inicio a uma trilogia intitulada "Dune Prequel", "Dune: House Atreides" (1999)"; "Dune: House Harkonnen" (2000) e "Dune: House Corrino" (2001). A série passa-se anos antes dos acontecimentos de "Dune". O resultado foi acima do esperado, pelo que Herbert e Anderson resolvem  avançar com uma segunda trilogia intitulada "Legends of Dune" composta por "Dune: The Butlerian Jihad" (2002); "Dune: The Machine Crusade" (2003), e "Dune: The Battle of Corrin" (2004). Esta série, segundo Frank Herbert, teria ocorrido cerca de 10.000 anos antes dos acontecimentos de "Dune". O que para Herbert fora uma cruzada da humanidade contra computadores, máquinas pensantes e robots conscientes, é expandido por Brian Herbert e Kevin J.Anderson e transformado numa guerra de gerações entre humanos e máquinas.
   Em 2005 Brian Herbert encontrou 30 páginas dum esboço que seria a continuação de "Chapterhouse: Dune", que seu pai tinha fechado num cofre e intitulara simplesmente de "Dune 7". Novamente em colaboração com Anderson é editado "Hunters of Dune" (2006), seguido de "Sandworms of Dune"(2007), que completam a progressão cronológica da série original e resolvem situações que haviam começado com "Herectics of Dune". É o fechar de um ciclo iniciado em 1984.
   No prefácio de "Hunters of Dune", os autores afirmam pretender continuar a escrever livros sobre o universo de "Dune" num futuro próximo. Uma nova série intitulada "Heroes of Dune" já conta com dois títulos: "Paul of Dune" (2008) e "Winds of Dune" (2009) cuja acção decorre entre os períodos dos romances originais de Frank Herbert.
Esboço do cartaz de Dune realizado por Alejandro Jodorowski
   Claro que o cinema não poderia ficar à margem do sucesso de "Dune" e haveria de  querer adaptá-lo.  Durante a década de 70 várias foram as tentativas de transpor o romance para o grande écran, uma delas, a mais falada, seria pelo realizador Chileno Alejandro Jodorowski,  todas infrutíferas por esta ou aquela razão. 




    No inicio da década de 80, Dino De Laurentiis, o super-produtor internacional e responsável por vários sucessos ao longo das décadas de 60 e 70, a pedido da filha Rafaella, adquire os direitos de livro de Herbert e entrega a realização a David Lynch, realizador que dera nas vistas com o filme "O Homem Elefante" (1980) e que recusara realizar um dos episódios da saga espacial "Star Wars".  Ao fim de cerca de dois anos de filmagens, com cenários idealizados por Salvador Dali e com Frank Herbert a bater a primeira claquette, "Dune"estreia em 1984 nos Estados Unidos e é exibido em ante-estreia em portugal no inesquecível ciclo de ficção científica organizado pela Cinemateca Portuguesa e a Fundação Calouste Gulbenkian (1984-85). A superprodução de ficção científica  idealizada por Lynch, tinha mais de quatro horas de duração e que, segundo o produtor, não podia ter mais de duas e vinte, é um enorme fracasso nas bilheteiras, fruto talvez de uma enorme expectativa gerada à volta do filme que saiu gorada e da qual Dino De Laurentiis nunca recuperou totalmente. Em 1988 o filme foi remontado numa versão para televisão, com cerca de três horas de duração, mas que Lynch nunca aceitou e mandou retirar o seu nome dos créditos.
   Em 2000 o Sci-Fi Channel estreia uma mini-série intitulada "Frank Herbert's Dune" baseada no livro "Dune" mas que em portugal nunca foi nem estreada, nem editada comercialmente. Em 2003 surge a sequela "Frank Herbert's Children of Dune", que adapta "Dune Messiah" e "Chidren of Dune" e que, ao contrário da sua antecessora, foi editada comercialmente, embora com os títulos despropositados de "Dune:   Império Atreides", "Dune: Império Corrino" e "Dune: Império Harkonnen". É claro que os três filmes vistos assim, não fazem sentido absolutamente nenhum, falta-lhes um principio...coisas à portuguesa, já estamos habituados a elas...
   Seja como for, o universo de Dune ainda não disse tudo o que tem a dizer e é sempre com alguma expectativa que se aguardam novas adições àquele mundo imaginado por Frank Herbert.


                Nota: todas as imagens e vídeos deste texto foram retirados da Internet


                        

sábado, 16 de abril de 2011

Os Pilares da Terra de Ken Follet

                                                                             
                                              
                                                                     
                                                                                                                                                                    

   Desde "O Nome da Rosa" de Umberto Eco, publicado em 1980, que um livro não gerava um consenso tão grande à sua volta. Aclamado pelos critícos literários de todo o mundo e considerado desde logo um clássico  da literatura universal, nomeadamente na sua vertente de romance histórico, o livro de Eco foi um dos grandes sucessos literários do final do século XX.
   Publicado em 1989, "The Pillars of the Earth" (Os Pilares da Terra), romance histórico escrito por Ken Follet viria a redefinir o género de formas nunca antes vistas e trazer o seu autor, mais conhecido por escrever livros de guerra como "Chave para Rebecca", "Vôo Final" ou "Noite sobre as Águas"; thrillers como "O Homem de SamPetersburgo", "O Vale dos Cinco Leões", "Contagem Decrescente", "O Terceiro Gémeo" ou "A Ameaça", para a ribalta.
   A acção de "Os Pilares da Terra" passa-se em meados do século XII,  gira á volta da construção de uma Catedral na cidade de Kingsbridge, Inglaterra, num período que ficou conhecido como Anarquia e que vai desde o afundamento do "White Ship", no Canal da Mancha, ocorrido em 25 de Novembro de 1120 por causas desconhecidas e onde morreram William Adelin, filho legítimo do rei Henry I de Inglaterra e sua corte, até à tentativa de assassinato de Thomas Beckett, Arcebispo da Cantuária.
   Se por um lado seguimos o desenvolvimento da arquitectura gótica para fora da antiga arquitectura românica pela mão de Tom Builder, o Pedreiro que se propõe levar a cabo a tarefa quase impossível de erguer a Catedral, por outro gravitam a ambição religiosa, a intriga social e a luta pelo poder, tendo tudo como pano de fundo acontecimentos históricos verdadeiros.

   Ambientado durante o reinado do Rei Stephen, "Os Pilares da Terra" traça uma rica tapeçaria de intrigas e conspirações e onde explora temas tão diversos como arquitectura medieval, guerra civil, conflitos religiosos e a inevitável ambição política e envolve-nos de tal maneira, transportando-nos para os cenários da acção, que é muito dificil largá-lo. A fabulosa galeria de personagens, principais e secundárias, que vão desde o já citado Tom Builder até ao astucioso e ambicioso bispo Waleran Bigod que não olhará a meios para atingir os seus fins, passando por Ellen, considerado uma bruxa, vive na floresta com o seu filho e guarda um segredo terrível, Aliena e seu irmão Richard filhos do Conde de Shiring, William Hamleigh um sádico e obcecado por Aliena, o Prior Philip, homem bondoso e dedicado á missão de deus, só quer ver Knightsbridge desenvolver-se, é tão bem desenvolvida, as suas accções estão tão bem delineadas, a própria história está tão bem elaborada que, apesar das suas mais de 800 páginas, o livro nunca perde interesse nem se torna monótono.




                                                                                                             


"Os Pilares da Terra" tornou-se o livro mais vendido de Ken Follet, conheceu sucessivas edições. Em portugal foi editado em 1991 numa única edição que rapidamente desapareceu de circulação e onde esteve esgotado até 2007. Graças à mini-série realizada em 2010 para televisão, o livro voltou aos tops e alcançou um novo  público. Em 2003, através dum inquérito, foi considerado na Inglaterra "O Livro mais apreciado pelos leitores".

Sequela literária de "os Pilares da Terra"
   Em Outubro de 2007, Ken Follet escreveu  uma sequela intitulada "A World without End" (Um Mundo sem Fim), cuja acção se passa cerca de 200 anos depois do livro original em Knightsbridge e que foi um sucesso de vendas (através da internet) ainda antes de ser lançado.



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domingo, 10 de abril de 2011

Uma Viagem Pelo Cinema Português II

                                                  II - O Cinema Português depois de 1974

   A Revolução do dia 25 de Abril de 1974 seria decisiva para o futuro do cinema português, nomeadamente pelas liberdades que introduziu nas prácticas sociais e culturais do país. No IPC (Instituto Português de Cinema) são criadas Unidades de Produção que, utilizando meios técnicos de produção e post-produção disponibilizados pelo Instituto e a funcionar com um espírito colectivista, têm como objectivo garantir a actividade dos profissionais de cinema, ilustrar as transformações sociais e politicas com que o pais se confronta, fazê-las chegar a locais onde nunca tinham chegado, educar e agitar as consciências. O filme colectivo "As Armas e o Povo" feito pelos Trabalhadores do Sindicato do Cinema e Televisão é o melhor exemplo dessa nova tendência de renovação e inicia um novo ciclo apostado no cinema militante. Nesta nova práctica vão envolver-se António de Macedo, Luis Galvão Telles, Fernando Matos Silva, Alberto Seixas Santos, Rui Simões, um realizador independente que com o seu filme "Deus, Pátria, Autoridade" (1975) faz um dos marcos cinematográficos do cinema político, que repetirá anos mais tarde com o documentário "Bom Povo Português"(1980).
   Retrato duma época, os filmes de intervenção alinhavam todos num mesmo sentido: intervir, viabilizando o cumprimento de um desejo que deixara de ser uma utopia. Qual arma automática, a câmara de filmar era perfeita para ajudar na reviravolta. O documentário é o género preferido de certos cineastas que arriscam uma visão pessoal das coisas, mas a ficção não se deixa abater e é nela que surge algo contraditório: confrontando-se com a realidade da vida "tal qual ela é", a ficção militante cultiva narrativas irreais, exprime-se em alegorias e esboça caricaturas. É o que acontece em "Os Demónios de Alcácer-Quibir" de José Fonseca e Costa (1976), "A Santa Aliança" de Eduardo Geada (1978) ou "A Confederação" de Luís Galvão Telles (1978) que, apesar de terem estado presentes no Festival de Cannes, acabarão por ser considerados como estando fora do tempo.
   A década de oitenta seria, no panorama do cinema nacional, uma década reveladora. Pode-se mesmo considerar uma segunda época de ouro, pelo volume das produções, pela novidade e diversidade nas formas e nos conteúdos. A ficção, logo em 1980, revela novos autores e novas tendências, "Passagem ou A Meio Caminho" de Jorge Silva Melo, "Cerromaior" de Luis Filipe Rocha expressam inovação e algum regresso ao neo-realismo da década de 60, são consensualmente aceites como filmes-chave das novas tendências. Alguma influência do passado está patente em "Manhã Submersa" de Lauro António (1979), onde se explora o rigor formal e alguma memória de repressão; "A Culpa" de António Victorino de Almeida que espelha de forma sarcástica algum sentimento nacional pela guerra colonial que ainda estava bem patente na memória colectiva. A crítica mostra o seu desagrado enquanto o público gosta e quer mais.
   O filme"Verde por Fora, Vermelho por Dentro" de Ricardo Costa (1981) vem de encontro à vontade do público, é, no entanto, um filme insólito, não só pela produção (sem qualquer subsidio do estado), como pela caricatura surrealista nacional (símbolos nacionais  e personalidades delirantes em intrigas políticas - a lembrar Frederico Fellini no seu melhor), o filme seria crucificado pela crítica nacional mas seria bem recebido em festivais internacionais. Com "Oxalá" de António-Pedro Vasconcelos (1980) explora o  um retrato social questionanado a consciência de uma minoria: a do jovem intelectual refugiado em França para escapar  à guerra colonial e que regressa à sua terra. Primeiro filme produzido por Paulo Branco, seria um grande êxito de bilheteira.
Manoel de Oliveira, o mais velho cineasta do mundo ainda em actividade
   A aposta feita por Paulo Branco viria a revelar-se decisiva não só para a continuação da tendência de intervenção de cineastas jovens, como também permitiu que Manoel de Oliveira, após um longo interregno, se tornasse oficialmente um cineasta com  a sua adaptação de "Amor de Perdição" (1978) e filmando até hoje ao ritmo de cerca de um filme por ano (aos 102 anos de idade, completados em 2010, o mais velho cineasta do mundo continua em actividade e sem dar mostras de querer parar!).  Aos novos cineastas como João Botelho que, com "Conversa Acabada" (1981) ganha alguns prémios nacionais e internacionais ou João Mário Grilo que com "A Estrangeira" (1982) está presente em Veneza, João César Monteiro com "Silvestre" (1981) está seleccionado para Veneza, juntam-se também António de Macedo, Fernando Lopes, José Fonseca e Costa, entre outros terão presença relevante ao longo da década.
   A década trará também sucessos de bilheteira. Desde "Kilas, o Mau da Fita" de José Fonseca e Costa (1980) até "A Mulher do Próximo" do mesmo Fonseca e Costa (1988), serão vários, o maior deles será "O Lugar do Morto" de António-Pedro Vasconcelos (1984), este magnifico filme rompe com todas as formas narrativas utilizadas em Portugal, homenageando de uma vez só o policial, o drama e o thriller num exercício de cinema que nunca se vira numa produção nacional. As interpretações sólidas de  Pedro Oliveira (jornalista de profissão) e de Ana Zanatti (locutora de continuidade e actriz ocasional) contribuíram para o sucesso do filme, como contribuiu também a sua estrutura narrativa (o final em aberto terá ocasionado inúmeras discussões entre o público). Continua ser um filme incontornável na cinematografia nacional e um dos melhores filmes portugueses de sempre. Mantendo um pouco a tendência de "O Lugar do Morto", Joaquim Leitão estreia-se  auspiciosamente na realização em 1986 com "Duma vez por Todas" um filme semi labirintíco filmado numa lisboa estranha e desconhecida, com o músico Pedro Ayres Magalhães, tendo o filme obtido um relativo sucesso entre o público mais jovem.
   A década de noventa vê surgir uma nova geração de cineastas, muitos deles vindos do Conservatório Nacional, favorecidos por critérios de apoio oficiais a primeiras obras, impondo uma nova renovação no panorama cinematográfico: Pedro Costa, Teresa Vilaverde, João Canijo, Joaquim Sapinho, entre outros, iniciam as suas carreiras. Alguns dos realizadores mais antigos como João César Monteiro ou Manoel de Oliveira continuam a filmar com regularidade. A partir de 1995 começa uma alternãncia entre realizadores mais novos e mais antigos. "Adão e Eva" de Joaquim Leitão (1995) obtém um enorme sucesso; "A Comédia de Deus" de João César Monteiro (1995) ou "O Convento" de Manoel de Oliveira (1995) obterão sucesso além fronteiras; dos novos, Joaquim Sapinho com o seu "Corte de Cabelo" (1997) foca-se no público mais jovem e ganha a aposta. Em 1997 os realizadores, encorajados pelos sucessos obtidos, aventuram-se em terrenos perigosos: "Tentação" de Joaquim Leitão e "A Sombra dos Abutres" de Leonel Vieira são os primeiros a aperceber-se que existe pouca gente a deixar-se levar por esses caminhos. 
   Nos últimos anos do século XX, ainda temos tempo para regressar à guerra colonial e ás suas memórias com "Inferno" de Joaquim Leitão (1998); visitar bairros marginais de Lisboa com "A Zona J" de Leonel Vieira (1998); conhecer a exploração do trabalho  infantil em "Jaime" de António-Pedro Vasconcelos (1999) ou analisar as duras realidades da vida no Alentejo em "Sapatos Pretos" de João Canijo (1998). Com frequentes toques melodramáticos, como nos velhos tempos, na ficção domina a tendência realista.
   No século XXI, a primeira década é dominada por filmes de autor, apesar de esporádicos regressos aos fantasmas da já longínqua guerra colonial com os "Imortais" de António-Pedro Vasconcelos (2003) ou "20,13"de Joaquim Leitão (2006), a tendência é para um experimentalismo e uma aposta em temas ousados como "O Fantasma" de João Pedro Rodrigues (2000), que aborda uma certa obsessão e o fetiche da homossexualidade masculina de uma forma provocatória; ou "O Crime do Padre Amaro" de Carlos Coelho da Silva (2004), baseado na obra de Eça de Queirós actualizada para a nossa época; e polémicos como "Camarate" de Luis Filipe Rocha (2001) ao abordar o tema incómodo do acidente de Camarate que vitimou o Primeiro Ministro de Portugal em 1980; incómoda é também a história duma filha perdida algures na cidade de Lisboa em "Alice" de Marco Martins (2005). Alguns destes filmes foram mesmo enormes sucessos de bilheteira apesar dos temas que abordam.
   Mas nem tudo é tão intenso neste novo século, "O Filme da Treta" de José Sacramento (2006), baseado num formato de televisão, pôs Portugal inteiro a rir à gargalhada com as conversas de Tony e Zézé, assim como José Fonseca e Costa com o seu filme de época "Viúva Rica Solteira não Fica" (2006) e Fernando Lopes com "98 Octanas" (2006), assumem-se como autores em busca de melhores audiências com temas apelativos e actores conhecidos, mas o público está com a atenção voltada para outros campos que estão ao alcance do teclado e do rato de um computador tornando tudo muito mais fácil e sem incómodos de qualquer espécie.
   Com este novo fenómemo audiovisual sofrem os cineastas que ficaram conhecidos por terem sido eles que outrora encheram salas de cinema em décadas do século passado, cuja imaginação não consegue acompanhar os novos tempos, outros há que perfilham as novas tendências audiovisuais e filmam com esse objectivo. O público nacional, é certo e sabido que consome o que de mais comercial aparece nas salas de cinema, é quem mais ganha com este estado de coisas, o cinema nacional é quem mais perde com isto porque poucos são os filmes nacionais que recebem um aval de exploração comercial nacional e mesmo esses poucos não conseguem triunfar nem dentro nem fora de portas.

Nota: Todas as imagens foram retiradas da Internet

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Uma Viagem pelo Cinema Português I

                                            I - Das Origens a 1974



Curta-Metragem de Aurélio Paz dos Reis
     O cinema em Portugal teve o seu início em 1896, na cidade do Porto com a exibição das primeiras curtas-metragens de Aurélio Paz dos Reis "A Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança". Este não é nem mais nem menos do que  uma réplica do filme dos Irmãos Lumière "La Sortie de l'usine Lumière à Lyon" (1894-1895) que é considerado o primeiro filme da história do cinema e, ao mesmo tempo, o primeiro documentário. Paz dos Reis quer explorar o seu cinematógrafo e para isso organiza alguns espectáculos que não obtêm os resultados esperados. Desiludido, viaja para o Brasil para tentar a sua sorte mas regressa pouco tempo depois, junta-se a Manuel Maria da Costa Veiga, para fabricar imagens animadas e tornar-se exibidor de filmes em Lisboa.
   O cinema em Portugal, como indústria , terá o seu inicío em 1918 e durante a década subsequente dedica-se quase exclusivamente à transposição de clássicos da literatura portuguesa para o grande écran, entregando a realização a realizadores estrangeiros. "O Primo Basilío" baseado no romance de Eça de Queirós de George Pallu em 1922; "A Sereia de Pedra" de Roger Lion em 1922 ou ainda as aventuras de "José do Telhado" de Rino Lupo em 1929 são alguns exemplos da produção nacional. Alguns destes nomes serão determinantes na abordagem que os realizadores irão fazer ao cinema, principalmente George Pallu na forma como utiliza a paisagem para enquadrar a vida como ela é, quer seja no campo ou na cidade. Leitão de Barros será grandemente influencido pelo realizador francês, ao recorrer a temas já explorados mas inovando na forma para tentar gerar outro sentido. Com novas fantasias, a ficção explora a realidade.


   O mesmo Leitão de Barros realiza "A Severa" em 1931, o primeiro filme sonoro em Portugal. No ano seguinte constroem-se os Estúdios da Tobis Portuguesa de onde saírão muitas obras do cinema português.Com o desaparecimento do cinema mudo, surge uma nova geração de cineastas que influenciarão  muito o cinema nacional.
   Em 1935 é criado o Secretariado Nacional de Informação e percebe-se o interesse que o cinema tem para o regime. António Lopes Ribeiro torna-se a voz cinéfila de Salazar. A propaganda ideológica e política do regime tem que ser bem gerida como mostra  António Lopes Ribeiro em "A Revolução de Maio" (1937). Nos filmes que o público corre para ir ver, seduzido pelas imagens animadas, reinam actores de revista: Beatriz Costa, António Silva, Vasco Santana, Maria Matos, etc. É a época auréa da comédia. Temas prometedores como a vida boémia e raparigas bonitas em "A Canção de Lisboa" de Cottinelli Telmo de 1933; as touradas eternas em "Gado Bravo" de António Lopes Ribeiro de 1934; a pastora infeliz que vem servir para Lisboa em "Maria Papoila" de Leitão de Barros em 1937; a pureza da vida rural com  "A Aldeia da Roupa Branca" de Chianca de Garcia em 1939 ilustram  bem a cinematografia nacional.


Cena do filme "Camões" (1946)
     Aproveitando o sucesso da Exposição do Mundo Português de 1940, o regime promove o nacionalismo e obras, de grande fôlego épico recebem luz verde, como "Inês de Castro" (1944) ou "Camões" (1946) ambos de Leitão de Barros. Este último Salazar considera ser de interesse nacional, apresentado em Cannes em 1946 e seria o filme mais caro alguma vez feito em Portugal. Mas a década já começara com "Pai Tirano" de António Lopes Ribeiro (1941) e "O Pátio das Cantigas"  de Ribeirinho (irmão de A.Lopes Ribeiro) em 1942 e são ambos comédias bem ao gosto nacional. Também Manoel de Oliveira começa oficialmente a sua carreira de realizador com "Aniki-Bóbó"em 1942 e o filme, ao abordar de forma directa a vida e os amores de uma certa juventude na cidade do Porto, vai contra as regras do jogo.
   Para o grande público, Artur Duarte realiza "O Costa do Castelo" (1943) e "A Menina da Rádio" (1944); Armando de Miranda refaz "José do Telhado" (1945) e obtém um grande sucesso de bilheteira que repetirá com "Capas Negras" em 1947; "Fado, História de uma Cantadeira" de Perdigão Queiroga (1947), Com Amália Rodrigues e Virgilio Teixeira, explora a vertente populista daquele género de música e, ainda no mesmo ano e para o mesmo público, "Leão da Estrela" de Artur Duarte satiriza os adeptos do desporto-rei com enorme sucesso.
   As décadas subsequentes trariam períodos de estagnação e mudança, anunciando certas rupturas  no panorama do cinema nacional. Enquanto António Lopes Ribeiro tenta moralizar o público com "Frei Luís de Sousa" (1950) e Perdigão Queiroga fala ao imaginário da burguesia com "Sonhar é Fácil" (1951), Manuel Guimarães dá o primeiro sinal de mudança ao mostrar, com um toque de neo-realismo, o lado mais cru das coisas. "Saltimbancos" (1951) e "Nazaré" (1952) acentuam esse neo realismo que nunca acontecerá como o realizador pretendia. "Chaimite" de Jorge Brum do Canto de 1953 apela ainda a um certo nacionalismo mas os ventos são mesmo de mudança.
   Na década de sessenta a mudança opera-se numa ruptura dupla: de género e estilo, no que toca ao modo de filmar e o modo de produção, e é política. "Dom Roberto" de José Ernesto de Sousa (1962) e "Verdes Anos" de Paulo Rocha (1963) vêm imbuídos deste espiríto de mudança e de denúncia e marcam o início do chamado Cinema Novo. Fernando Lopes, António de Macedo ou António da Cunha Telles são nomes importantes nesta nova tendência da sétima arte portuguesa que tenta criar condições de auto-suficiência na produção de filmes e conciliar cinema de arte com cinema de grande público, o que nem sempre foi conseguido. No entanto filmes como "Belarmino" (1964), "Domingo à Tarde" (1965), "Sete Balas para Selma" (1967) ou "O Cerco" (1969), este último foi a Cannes, obteve êxito comercial e ainda ganhou alguns prémios oficiais,  são bons exemplos desta tendência.
   Alguns destes cineastas ainda seguem, já na década de setenta, o movimento do Novo Cinema. São eles: António de Macedo com "Nojo aos Cães", de 1969, mas estreado em 1970 e proibido pela censura;  Fernando Lopes com "Uma Abelha na Chuva" (1971) e ainda "O Cerco", três filmes produzidos com recurso a capitais pessoais,  material emprestado, e ajuda de amigos. Já com outros meios de produção, ainda alinham neste movimento realizadores como José Fonseca e Costa com "O Recado" (1971); António Pedro Vasconcelos com "Perdido por Cem" (1972), Fernando Matos Silva com "O Mal-Amado"(1973), Eduardo Geada com "Sofia e a Educação Sexual" (1973) ou Alberto Seixas Santos com "Brandos Costumes" (1974). António de Macedo exibe o resultado deste movimento em Cannes em 1973 com "A Promessa", seleccionado para a competição, é apenas o terceiro filme nacional a merecer tal distinção.
   A década vai ver nascer, ainda sob a égide do Estado Novo, o Instituto Português de Cinema em 1973, que era destinado a gerir financiamentos públicos para a produção de filmes nacionais. Surge também o recurso a uma inovação técnica originária dos anos sessenta: o uso de máquinas de filmar de 16 mm que vieram revolucionar não só as técnicas de filmar, como a própria linguagem cinematográfica, permitindo grande agilidade na filmagem e uma considerável redução nos custos de produção. A abordagem de certos temas torna-se mais fácil que levará alguns cineastas portugueses a optarem por praticar cinema directo, explorando assuntos que até então tinham escapado ao olhar da objectiva sob a forma de documentário. O filme político, o cinema militante, a docuficção e a etnoficção são géneros que marcam a cinematografia que se fez em Portugal na primeira metade da década de setenta e que nela se reinventam.
                                                                                                                          (continua)

                             
Nota: Todas as imagens foram retiradas da Internet




                          

  
  

EMERSON, LAKE & PALMER II

            O trio, depois de um longo período de férias, sentindo-se revigorado, reuniu-se novamente em 1976, nos “Mountain Studios”, em Mo...