segunda-feira, 30 de maio de 2011

Bandas Sonoras I

                                                       I - Breve história da música nos filmes

   A Banda Sonora, traduzindo do inglês "Soundtrack", refere-se, na totalidade,  ao conjunto  sonoro relacionado com um filme e estão incluídos, além da música, diálogos, som, efeitos acústicos. Para este texto, interessa apenas focar a importãncia da música no filme. A banda sonora de um filme pode incluir música original criada para o filme ou outras peças musicais como sejam canções ou excertos  de peças musicais anteriores ao filme. Pode dar-se também o caso de um tema musical, já existente, tornar-se universalmente conhecido só pelo simples facto de estar associado a um filme como por exemplo, o tema "Also Spracht Zaratrusta" (Assim Falava Zaratrusta) de Richard Strauss, hoje associado a "2001: Odisseia no Espaço" (Stanley Kubrick, 1968).
   Já em 1895, quando os irmãos Lumiére fizeram a sua famosa projecção de imagens, estas já tinham um acompanhamento musical, mas este não passava de um improviso feito por piano e raramente coincidia com a narrativa do écran. Assim foi no inicio e sómente a partir de 1910 é que se começaram a criar partituras para piano e orquestra, que criavam o clima apropriado para as cenas que passavam no écran. Mantinha-se, no entanto, o problema de sincronizar a acção com a banda sonora (o termo ainda não existia nesta altura, mas serve o seu propósito neste texto) que só seria resolvido na década seguinte quando se começou a "encomendar" os primeiros "Scores", ou seja: música incidental feita exclusivamente para determinado filme.
A Banda Sonora de um filme na década de 20
   O cinema alemão teve grande influência na altura do cinema mudo com filmes como "Os Nibelungos", de Fritz Lang (1924) ou "Metropolis" (Fritz Lang, 1927), contribuindo com bandas sonoras originais acompanhadas de orquestra completa e, no caso de "Nosferatu" (F.W.Murnau, 1922), temáticas.Alguns casos houve em que o compositor misturava, na mesma banda sonora, música de camâra e temas populares Apesar destas variantes, as bandas sonoras completas, nesta altura, ainda  eram raras. Excepção feita a Sergei Prokofiev que, juntamente com Sergei Eisenstein, um dos pais reconhecidos do cinema, criou a música de "Alexander Nevsky" e "Ivan - O Terrível", duas obras-primas cinematográficas difíceis de igualar.
   Com o advento do som, muitos realizadores quase deixaram de usar música nos seus filmes. Fritz Lang foi dos poucos que ainda a utilizou durante algum tempo, passando a utilizar todas as potencialidades que a nova invenção trouxera. Assim, em filmes como "M", onde Peter Lorre assobia uma peça criada especialmente para o filme, não existe práticamente nenhum acompanhamento musical; ou em "O Testamento do Dr.Mabuse", onde incluiu  uma peça musical que apenas se ouve no principio e no fim do filme e que serve  para enfatizar a insanidade da personagem.
   Apesar da década de 40 nada ter acrescentado, em termos de inovação técnica, às bandas sonoras, já os anos 50 viram nascer as bandas sonoras modernas influenciadas por géneros musicais já existentes  como o  Jazz. Elia Kazan, com o seu filme "Um Eléctrico chamado Desejo" (1951) e com a colaboração do compositor Alex North, deu o primeiro passo nesta modernização, ao combinar, na mesma banda sonora, elementos tão dissonantes como o Jazz e os Blues. O resultado deve ter agradado porque não tardaram a aparecer outras bandas sonoras e outros compositores a utilizar a mesma fórmula. Leonard Bernstein aplicou-a com sucesso em "Há Lodo no Cais" (Elia Kazan, 1954); Bernard Hermann, nos dez anos em que trabalhou com Alfred Hitchcock, nas bandas sonoras de filmes como "Vertigo - A Mulher que viveu duas Vezes" (1958), "Psico" (1960) ou "Os Pássaros" (1963), fez quase sempre um trabalho experimental que muito agradou ao realizador; Leonard Rosenman, na composição de "A Leste do Paraíso" (Elia Kazan, 1955) e "Fúria de Viver" (Nicholas Ray, 1955) experimentou criar música sem atonalidade e até Duke Ellington, nome maior do Jazz, ao criar uma banda sonora utilizando um formato de fusão entre Jazz tradicional e Jazz eléctrico para o filme "Anatomia de um Crime" (Otto Preminger, 1959), modernizou o panorama musical dos filmes.
A Banda Sonora como parte integrante do filme
   Nas décadas seguintes, a banda sonora dos filmes continuou a adquirir uma cada vez maior importância. Começa a ser considerada parte integrante do filme e, nalguns casos, como  em  "Lawrence da Arábia" (David Lean, 1962) ou "Doutor Jivago" (David Lean, 1965), a genialidade sonora de Maurice Jarre marca  a cadência da própria acção, com alguns temas,  como por exemplo "Missão: Impossível" (1966) composto por Lalo Schifrin, ou "Star Trek - Caminho das Estrelas" (1966) por Alexander Courage, para  televisão, adquirem uma importância tal que são indissociáveis das séries para que foram criados. Henry Mancini cria "The Pink Panther Theme"  para o filme "A Pantera Cor-de-Rosa" (Blake Edwards, 1963) que viria a ser um sucesso enorme levando à criação de um desenho animado baseado na mesma personagem cor-de-rosa. "Maestro" Ennio Morricone sai do velho continente e adquire reconhecimento mundial graças às brilhantes partituras musicais que criou para os "Western-Spaghetti"  de Sergio Leone. "James Bond-007", torna-se no agente secreto mais famoso do mundo graças ao inconfundivel tema escrito por Monty Norman (1962) e que John Barry se encarregará de perpetuar no tempo através das bandas sonoras que compôs para vários filmes da série.
   Em 1968 o álbum "Yellow Submarine" dos Beatles serve de inspiração para a realização de um filme de animação, com o mesmo nome, realizado por George Dunning, no qual o grupo apenas contribui com as canções e fazem uma aparição no final. Em 1973 "Pat Garret and Billy the Kid" integralmente composta por Bob Dylan, marca o inicio da viragem das bandas sonoras. Pela primeira vez temos um artista popular na composição de música para filmes e um primeiro grande sucesso musical intitulado "Knockin on Heaven's Door". Serão estes sucessos que irão marcar as últimas duas décadas do século XX.
John Williams
   A década de 70 verá nascer algumas das melhores bandas sonoras de sempre, fruto do trabalho apurado de compositores emblemáticos e decisivos nesta e nas décadas seguintes como Jerry Goldsmith, John Barry, Bill Conti ou o incomparável John Williams que, em 1977, com a banda sonora de "Star Wars - Guerra das Estrelas", a maior saga cinematográfica de todos os tempos, mudou para sempre a face das bandas sonoras.
   As décadas de 80 e 90 viram surgir um novo tipo de banda sonora. para além do que já existia, passou a utilizar-se um novo conceito que incluia canções inspiradas pelo filme, ou seja, as edições de bandas sonoras passaram a ser feitas de dois modos distintos: por um lado havia a banda sonora  composta por um ou mais compositores; por outro passámos a ter aquilo que se poderia considerar uma colectânea de temas de vários grupos e cantores, inspirada pelo filme e destinada a complementar a banda sonora própriamente dita e neste campo nem sempre se ganhou em qualidade. De um modo geral, a maior parte das vezes era apenas marketing destinado a atingir a maior parte do público, avesso a músicas instrumentais e muitas vezes orquestrais.
   Em muitos casos a  banda sonora de um filme é tida como uma arte menor, mas no seu melhor, são considerados trabalhos importantes dos compositores instrumentais contemporâneos na música moderna. Cada um que julgue por si!
 

   



   Nota: Os vídeos e imagens que ilustram este texto foram retirados da Internet

sábado, 21 de maio de 2011

Apocalypse Now: O Inferno segundo Francis F. Coppola


     A Guerra do Vietname deverá ter sido o acontecimento que mais marcou o cinema nas últimas três décadas do século XX. Na sua extensa filmografia, podemos encontrar os melhores e os piores exemplos dessa guerra. Mas obras marcantes, usualmente conhecidas como obras-primas, bastam apenas os dedos duma mão para as enumerar. "Apocalypse Now" é o exemplo mais marcante. É um dos filmes que vem logo à cabeça quando se fala do Vietname.
     O Capitão Benjamin Willard encontra-se de licença quando é contactado para levar a cabo uma missão perigosa. Deve ir até ao Cambodja localizar e eliminar um coronel renegado das forças especiais americanas que se entronizou no meio duma tribo local. Ao longo do percurso que faz enquanto sobe o rio, Willard estuda o seu alvo e questiona-se sobre o porquê da sua escolha.
O Cor.Lucas explica a missão a Willard
   Há uma cena logo no inicio, onde nos é apresentado o tema, à volta do qual girará todo o filme: É a cena em que Willard é levado ao comando, onde lhe é explicada, pelo Coronel Lucas (Harrison Ford num papel secundário e discreto), a missão que vai levar a cabo; estão presentes além de Lucas, um civil de nome Jerry que se percebe pertencer aos serviços secretos americanos, e o General Corman (G.D.Spradlin); a dado momento, Corman diz para Willard "...porque existe um conflito no coração de cada ser humano entre o racional e o irracional, entre o bem e o mal...e o bem nem sempre triunfa (...)...todo o ser humano tem o seu ponto de ruptura...você e eu temos...Walter Kurtz atingiu o seu e óbviamente enlouqueceu..." e é precisamente sobre este conflito permanente entre o racional e o irracional que "Apocalypse Now" caminha. 
   Desde o seu inicio, com as imagens de destruição, o som das pás dos helicópteros aos quais se sobrepõe o tema "The End" dos "The Doors" e que lentamente se vão dissolvendo no som e na imagem duma ventoinha de tecto de um quarto de hotel, até às imagens finais de um Willard completamente transtornado pelo seu acto, de destruição e da imagem final de um ídolo sobre a qual se houve uma voz assombrosa a exclamar "O horror, o horror" antes do écran ficar negro e surgir o genérico final, a ténue linha entre a racionalidade do ser humano e a irracionalidade do mesmo, é perfeitamente delineada em todo o filme.
Francis Ford Coppola a pensar na solução final...
    Juntamente com a trilogia de "O Padrinho" (1972-1990), esta é outra obra-prima que Francis Ford Coppola filmou, mas a um preço que, duvido, qualquer cineasta, digno desse nome, dificilmente gostaria de pagar. Inicialmente a rodagem, que deveria demorar seis meses, demorou dois anos e meio e pelo caminho houve muita adversidade desde a mudança de actor para o papel de Willard (Coppola queria Steve McQueen que recusou, depois teve Harvey Keitel que abandonou as filmagens em conflicto com o realizador, acabou por finalmente ter Martin Sheen), as constantes alterações ao argumento, a falta de financiamento para o projecto até sets destruídos, actores hospitalizados um rol enorme de desgraças que muitas vezes fizeram perigar o projecto. A tudo isto Coppola, visionário como sempre, sobreviveu e brindou-nos com a sua visão (magnifíca) dum conflicto que mudou completamente a face da sociedade americana. 



   A sua mulher, Eleanor, que o acompanhou nesta verdadeira descida aos infernos, escreveu um livro, intitulado "Notes - On the making of Apocalypse Now" (1979)  em forma de diário onde regista, passo a passo, os avanços e recuos do filme e produziu um documentário "Hearts of Darkness: A Filmmaker's Apocalypse" (Fax Behr e George Hickenlooper, 1991) onde é  documentado com testemunhos directos de Martin Sheen, Robert Duvall, Francis F.Coppola, John Millius, ente outros, a aventura que foi filmar "Apocalypse Now".  
   Vagamente baseado no livro "Heart of Darkness" de John Conrad, escrito em 1901, cuja acção se passa no congo belga no final do séc.XIX. Coppola e John Millius aproveitaram a ideia-base e o nome das personagens e transportaram a acção para o Vietname. O livro seria adaptado em 1993 para televisão por Nicolas Roeg com John Malkovich e Tim Roth.
Marlon Brando e Martin Sheen
   Excepcionalmente bem realizado e interpretado por um elenco escolhido a dedo, encabeçado por um Marlon Brando que tem aqui a sua última grande interpretação, apesar de secundária pois só surge no último terço do filme, é hipnotizante e deixa-nos colados ao écran com os seus quase monólogos de um homem atormentado por tudo aquilo por que passou e que se sente grato por ser Willard quem o vem libertar; Martin Sheen, Frederic Forrest, o já citado Harrison Ford (cuja personagem, Lucas, nada mais é de que uma piscadela de olho ao amigo George Lucas), Dennis Hopper, com o seu visual acabado de sair de "Easy Rider" (Dennis Hopper, 1969), Laurence Fishburne completam o elenco onde nem falta Robert Duvall naquele que será talvez o seu melhor papel da sua já longa carreira. Bill Kilgore, conhecido como "Big Duke" (outra piscadela de olho do realizador desta vez a John Wayne o eterno cowboy do cinema), é quem vai pôr Willard a caminho da sua missão e para que isso aconteça, aproveita o facto do grupo do capitão incluir um antigo campeão de surf, ordena um ataque a uma aldeia para permitir que Willard comece a sua missão e satisfazer um capricho seu: fazer surf. Assim começa aquela que é a mais conhecida sequência de todo o filme e uma das melhores sequências de guerra da história do cinema.
Um filme técnicamente brilhante
     Técnicamente brilhante em termos de realização, fotografia, montagem, e superiormente interpretada por Duvall, a cena abre com a chegada do barco de Willard que vem ao encontro da 1ªDivisão aérea do 9ºde Cavalaria (uma piscadela de olho aos westerns do mestre John Ford) onde surge Kilgore, vestido a rigor como nos tempos do velho oeste, a falar mal e depressa, rápidamente ficamos cativos desta magnifica interpretação que foi completamente ignorada na cerimónia dos Óscares (não passou duma nomeação para o actor). 
Robert Duvall no melhor papel da sua carreira
   Robert Duvall, apesar do Óscar de Melhor Actor que ganharia pela sua interpretação em "Tender Mercies-Amor e Compaixão" (Bruce Beresford, 1983), será sempre recordado por esta interpretação do militar fanático por surf. Raramente se viu um papel ser interpretado com tanta convicção e credibilidade. É um dom que só alguns têm: Absolutamente fabulosa e inesquecível. Assim como também o é a sequência do ataque à aldeia onde nem sequer falta a componente musical e onde se comprova, uma vez mais, a genialidade do realizador; ao usar "A Cavalgada das Valquírias" de Richard Wagner, Coppola encontra aquilo que precisava para completar brilhantemente a sequência: a música dá um tom verdadeiramente apocaliptíco e, porque não, demencial a uma cena já por si realista que chegue. 
  Esta é daquelas cenas em que a conjugação da racionalidade e da irracionalidade do ser humano se torna mais que evidente. Coppola sabia-o e mostra-nos isso mesmo, assim como o coronel Kilgore, depois de arrasar uma aldeia para ir fazer surf, não satisfeito, manda bombardear uma floresta inteira e depois de se vangloriar de mais uma das sua acções, diz, em tom de pesar, para um espantado Willard "...sabes um dia esta guerra vai acabar": terrivelmente fabulosa. 
    Coppola gostou tanto de fazer esta sequência que ele próprio faz uma aparição no filme (é o realizador da equipa de televisão que filma o ataque dos americanos). Esta sequência marca, de certa maneira, o fim da parte racional do filme e o triunfo, se quisermos, do bem. Daqui para a frente o tom do filme torna-se mais irracional, onde não faltam cenas a comprovar isso mesmo e onde nos apercebemos também, da verdade contida nas palavras do general Corman quando fala do eterno conflicto humano.
Apresentado pela primeira vez em Cannes, onde foi mostrada uma versão incompleta, montada (que o realizador chamou "A Work in Progress")para o certame, "Apocalypse Now" ganharia a Palma de Ouro juntamente com "O Tambor" (Volker Schlondorff, 1979) e serviria para aguçar a curiosidade do público europeu que viria a tornar o filme num dos maiores sucessos de bilheteira do ano no velho continente enquanto nos estados unidos o filme estreou rodeado de polémica devido ao tempo interminável da rodagem, não passou de um modesto sucesso. 
    Nomeado para oito Óscares da Academia, o filme venceria apenas em duas categorias: Melhor Som e Melhor Fotografia. recompensa pouco modesta para um filme desta envergadura, mas como as cicatrizes da guerra ainda eram muito profundas, entende-se perfeitamente este esquecimento vetado ao filme, tendo em conta que no ano anterior "O Caçador" de Michael Cimino, ganhara os prémios mais importantes da Academia e que, seis anos mais tarde, uma outra visão, esta mais pessoal, do conflicto, viria a vencer os prémios principais da Academia. "Apocalypse Now" apareceu cedo demais e ninguém entendeu o que o realizador quis fazer.
   Em 2001, Francis Ford Coppola remontou o filme, acrescentando-lhe mais 50 minutos de cenas inéditas na versão normal. Não acrescentando nada de novo ao filme, esta versão serve apenas para projectar mais ainda uma visão já de si grandiosa. Se acreditarmos nas palavras do realizador quando fala desta versão a que chamou "Apocalypse Now Redux", percebemos que ainda não foi tudo dito acerca do filme.




 


Nota: Todas as imagens e vídeos que ilustram este texto foram retirados da Internet

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Atlântida - O Continente Misterioso

   É um dos mistérios mais antigos da humanidade, a existência ou não da Atlântida.  A lenda conta que era  uma ilha ou um continente. 
   Nos diálogos de Platão, ela é uma potência naval, cuja capital se situava em "frente das Portas de Hércules" (estreito de Gibraltar), que conquistou muitas partes da Europa Ocidental e África e que, aproximadamente, em 9600 a.C. "num dia e noite de azar" se afundou no oceano Atlântico.
   Estudiosos destas coisas  dividem as suas opiniões entre o facto de Platão ter sido inspirado por antigas histórias perpetuadas na memória colectiva de antigos acontecimentos como a erupção de Thera ou a Guerra de Tróia ou então por acontecimentos contemporâneos à sua existência como a destruição de Helique em 373 a.C. ou a fracassada invasão Ateniense da Sicília entre 415 e 413 a.C.
   Platão menciona pela primeira vez a existência da Atlântida nos seus famosos diálogos "Timeu e Crítias", escritos por volta de 360 a.C., principalmente no primeiro porque, por razões desconhecidas, nunca completou o segundo. Platão conta-nos que foi Sólon, político grego, quem primeiro tomou conhecimento da existência da Atlântida, no decurso de uma das suas viagens pelo Egipto, ele ouve um sacerdote de Sais, no delta do Nilo, falar das tradições ancestrais relacionadas com uma guerra perdida nos anais do tempo entre os Atenienses e o povo atlante. Segundo o sacerdote, o povo da Atlântida viveria numa ilha localizada nos "Pilares de Heracles", onde o Mediterrâneo terminava e o Oceano começava. 
   Ela seria uma ilha rica em vegetais e minerais e não só era prolifíca em depósitos de ouro, prata, cobre, ferro, etc, como ainda era rica em "Oricalco", um metal raríssimo que brilhava como fogo. Os seus reis teriam mandado erguer pontes, canais, passagens fortificadas, os muros das cidades eram revestidos de bronze no exterior e a estanho no interior e os edifícios eram construidos em pedra branca, preta e vermelha. Pouco mais se sabe da Atlântida a não ser que a riqueza e a prosperidade do comércio e a inexpugnável defesa das suas muralhas, se tornariam a imagem de marca que passaria para o futuro.
A hipótese mais provável do destino da Atlântida
   O tema da Atlântida tem servido para diversas interpretações Alguns, mais cépticos, referem-se a ela como uma metáfora referente a uma catástrofe global (estudos recentes neste campo relacionam-na com o Dilúvio escrito no Velho Testamento), que teria sido assimilada pelas tradições orais de diversos povos e culturalmente adaptada segundo as suas próprias regras. Consideram também que a narrativa, inserida numa dada mitologia, pretendia explicar transformações geológicas e geográficas. Outros, mais dedicados ao assunto, acreditam que a Atlântida poderia ser uma mistificação da cultura minóica, que existiu na ilha de Creta até ao final do séc. XIV a.C. Os antepassados dos gregos, os micénicos, tiveram contacto com essa civilização cultural e tecnológicamente muito avançada. Com ela terão aprendido arquitectura, navegação, elementos que serão vitais na cultura helénica posterior. Dois fortes terramotos e maremotos no Mar Egeu terão destruído as cidades e os portos minóicos e a civilização Cretense rápidamente desapareceu. As suas histórias teriam ganho proporções míticas ao longos dos séculos e viriam a culminar no conto de Platão.
A mais fantástica das teorias sobre a Atlântida
   Uma das teorias mais fantásticas sobre a Atlãntida é a chamada "Teoria Extraterrestre" e que consta do seguinte: partindo da descrição apresentada por Platão, a Atlãntida seria então uma gigantesca nave espacial que teria vindo numa missão colonizadora e esteve em vários pontos do planeta onde apenas sobrevoava ou se instalava, esta seria uma das razões pelo facto de existirem relatos onde se dava conta da sua presença ora no Mediterrãneo, ora na Indonésia, ora no Atlântico, ora nos Pólos: Atlântida era sempre a mesma, quer fosse citada nas epopeias dos Egipcíos, dos Maias, dos Astecas ou até dos Sumérios. Ainda segundo esta teoria, o continente (ou nave espacial) não se afundara como sendo parte duma catástrofe global, mas sim intencionalmente por fazer parte do projecto colonizador que o seu povo realizava no planeta. Após permanecer algum tempo no fundo do mar como cidade submarina cumprindo os propósitos da sua missão, a nave partia em direcção ao espaço, provocando com a sua massa e a sua descolagem uma poderosa onda circular (Tsunami) no oceano onde estivera oculta. Os sobreviventes, após a tragédia, teriam julgado que a Atlântida se afundara quando apenas tinha voltado para o seu espaço natal...teoria fantástica, esta, sem dúvida!
Uma das prováveis localizações da Atlântida
   Existem diversas hipóteses sobre onde se situaria a Atlântida realmente e quem seriam os seus habitantes.  Algumas teorias sugerem que a Atlântida seria uma ilha sobre a Dorsal Oceãnica que teria sido destruída pelos movimentos bruscos das placas tectónicas naquela zona  (cujos cumes são Açores, Madeira, Canárias ou Cabo Verde). Esta teoria baseia-se nas coincidências existentes entre os templos construídos em forma de pirâmide na América Central e do Sul, e as pirãmides do Egipto. Essa coincidência só poderia ser explicada com a existência de um povo, no meio do oceano que separa os dois continentes e as civilizações, tecnológicamente avançado para navegar à África e á América para dividir os seus conhecimentos. Tal posição geográfica explicaria a ausência de vestígios arqueológicos sobre este povo.
   A possível existência da Atlântida foi objecto de grande discussão ao longo de toda a Antiguidade Clássica, embora seja normalmente rejeitada e ocasionalmente parodiada por autores modernos. Quase ignorada na Idade Média, a história da Atlântida foi redescoberta pelos Humanistas na Idade Moderna. A descrição de Platão inspirou trabalhos de vários escritores durante a Renascença, principalmente Roger Bacon que, com o seu ensaio "A Nova Atlântida", de 1627, descreve uma sociedade utópica a que chamou Bensalem, que ficaria localizada na Costa Oeste da América. Uma das personagens conta uma história da Atlântida muito semelhante à descrita por Platão e localiza-a na América. Bacon não especifica se se trata da América do Norte ou do Sul.
   Durante o século XIX, ideias sobre a natureza lendária da Atlântida, foram misturadas com histórias de outros continentes perdidos como Lemúria ou Mú e encontram bastante aceitação popular, principalmente aquando do lançamento do livro "Atlantis: the Antediluvian World" em 1882, escrito por Ignatius L. Donnelly, que pareceu estimular ainda mais o interesse pela lenda. Donnelly tenta fazer passar a ideia de que todas as civilizações antigas conhecidas descendiam da Atlântida, a qual ele via como uma cultura tecnológicamente sofisticada, dizendo que os Atlantes tinham inventado a pólvora e a bússola milhares de anos antes de o resto do mundo ter começado a escrever.
   O século XX também não ficaria indiferente ao fenómeno da Atlântida. Uma das primeiras referências à lenda, data de 1923 e foi feita pelo vidente Americano Edgar Cayce que sugere que ela era um continente que se estendia desde o Arquipélago dos Açores até ás Bahamas. Era uma civilização  muito desenvolvida, tinha navios e aviões movidos por uma misteriosa fonte de energia cristalizada. Ele previu que em 1968 ou 1969, partes da Atlântida iriam emergir (!). Em 1938 o conceito da Atlântida também atraiu os teóricos Nazis. Heinrich Himmler, o nº2 do partido Nazi, organiza uma expedição ao Tibet para ir em busca de "Atlantes Arianos", diz-se que o verdadeiro objectivo da expedição era localizar vestígios dos "Europides", uma raça que se dizia ser a génese do povo europeu, da qual os alemães dizem ser os verdadeiros descendentes. Já em 1934, o filósofo e escritor Julius Evola, cuja obra terá inspirado os movimentos neonazis e neofascistas no século XX, dizia que os Atlantes eram Hiperboreanos, uma raça de superhomens Nórdicos que tinha vindo do Pólo Norte.
   A localização da Atlântida no Oceano Atlãntico tem o seu quê de apelativo dada a relativa proximidade de nomes, pelo que a cultura popular gosta de a situar lá, perpetuando assim a localização original de Platão. 
   Ainda hoje, como noutros tempos, a atlântida inspira a literatura ( "A Queda da Atlântida", de Marion Zimmer Bradley; "Atlantis Found" de Clive Cussler ou "Atlãntida" de David Gibbins, para só citar alguns exemplos recentes), a banda desenhada ("O Enigma da Atlântida" de Edgar Pierre Jacobs,1957) e até o cinema ("Atlantis, the Lost Continent" de George Pal, 1961, ou "Atlântida" dos estúdios da Disney) e sempre que se fala sobre civilizações antigas perdidas, o seu nome é uma referência obrigatória e a vontade de se saber mais, continua a aumentar.


Nota: Todas as imagens que ilustram este texto foram retiradas da Internet

sábado, 7 de maio de 2011

Blade Runner - A História de um Filme-Culto

   Desde que o cinema existe como entretenimento de massas, existiram sempre filmes marcantes e decisivos nesta ou naquela década, neste ou naquele género. Nas últimas décadas do século passado, filmes como "2001: Odisseia no Espaço" (Stanley Kubrick, 1968), as trilogias "Star Wars" (George Lucas, 1977-2005), "Matrix" (Andy & Larry Wachowski, 1999-2003), "Senhor dos Anéis" (Peter Jackson, 2001-2003), foram filmes marcantes nas diversas gerações de espectadores e na evolução do cinema. Mas talvez nenhum filme tenha ganho tanto carisma e sido tão rapidamente elevado ao estatuto de filme-culto como "Blade Runner".
   A acção situa-se em 2019 numa Los Angeles futurista. Após um motim a bordo de uma nave espacial levado a cabo por um grupo de "Replicants"  da série "Nexus-6", os mais avançados do mundo, idênticos aos humanos, mas muito mais fortes, regressam á Terra em busca do seu Criador para que este lhes aumente o tempo de vida limitado a 4 anos. Para os encontrar e "retirar" (matar) é chamado o ex-"Blade Runner",  Rick Deckard,  considerado o melhor no seu trabalho e que relutantemente aceita. O que parecia, à partida, mais uma missão para Deckard, transforma-se, a partir do momento em que conhece Rachel, numa outra busca.
   Publicado em 1968, o livro "Do Androids Dream of Electric Sheep?" escrito por Philip K. Dick,  chamou desde logo as atenções pela maneira como tendo como pano de fundo uma história policial, o autor levantava questões morais sobre "o que é ser humano? o que é verdadeiro? o  que é falso?"  `as quais Rick Deckard tenta responder enquanto, um a um, vai "retirando" os "replicants". 
   No livro, a população vive em cidades decadentes, a humanidade foi quase destruída por uma guerra e ao posterior envenenamento radioctivo que destrói os genes humanos, os animais estão quase extintos , são raros e os seres humanos  são convidados a ter animais em sua posse para os poderem proteger e preservar, embora muita gente prefira ter um animal sintético por ser mais barato. No principio da história, Deckard teve uma ovelha real mas depois desta morrer, ele substitui-a por uma eléctrica.
   O autor, na altura, foi abordado por Martin Scorsese  que estava interessado em adaptar o livro para o grande écran, mas que nunca optou por o fazer. Durante a década de 70, vários produtores compraram os direitos do livro com intenção de o filmar apareceram mesmo diversos argumentos baseados na obra, mas Philip K. Dick nunca se mostrava suficientemente impressionado com o resultado. Finalmente em 1977, o argumento escrito por Hampton Francher  recebeu luz verde, mas o projecto não tinha pernas para andar.
   No inicio da década de 80, o produtor Michael Deeley interessou-se pelo argumento de Francher e convenceu o realizador Ridley Scott a utilizá-lo para fazer o seu primeiro filme americano. Scott que, anos antes, recusara o projecto, tinha acabado de abandonar a pré-produção de "Dune", queria fazer algo diferente do seu "Alien - O 8ºPassageiro" (1979), juntou-se ao projecto. Quando leu o argumento de Hampton Francher, que se focava mais nas questões ambientais do que nas questões humanas e da fé, que têm grande peso no livro, Scott  quis fazer mudanças. Francher abandona o projecto em divergência com o outro argumentista, David Peoples, que Michael Deeley tinha contratado para reescrever o seu argumento, embora tenha voltado mais tarde para contribuir com novas ideias.
   Philip K. Dick, ao tomar conhecimento deste novo desenvolvimento do projecto, ficou preocupado pois ninguém lhe tinha dito  nada acerca dum eventual filme, uma vez que ele fora muito crítico em relação ao primeiro argumento de Hampton Francher. Quando leu a revisão de David Peoples, Dick mostrou-se muito entusiasmado com o trabalho e com o resultado final para o grande écran que lhe foi mostrado pelo estúdio num visionamento particular. Agradeceu a Ridley Scott por este ter criado um mundo para o filme exactamente como ele tinha o tinha imaginado. Pouco tempo antes da estreia, Philip K. Dick morreu sem poder ver o sucesso que iria obter. O filme foi-lhe dedicado pelo realizador e pelos produtores.
Cartaz Original de 1982
   Apesar de ser primeiramente um filme de ficção científica, "Blade Runner" vai mais longe que isso, opera em múltiplos níveis quer dramáticos quer narrativos e é percorrido pelas convenções do "film noir"  dos anos 40 e 50: a mulher fatal, o protagonista-narrador ( a voz-off numa das primeiras versões para o cinema), a fotografia escura e cheia de sombras, o visual, de questionável moral, do herói (propositadamente, neste caso, usado para incluir reflexões sobre a sua humanidade). É um filme de ficção cientifíca literária cuja temática joga directamente com manipulação genética envolvida com questões filosóficas, religiosas e morais. Estes elementos temáticos providenciam uma atmosfera de incerteza ao longo do tema central de todo o filme: examinar a humanidade. Para isso é usado um teste de empatia, com perguntas acerca do tratamento a animais  designado para provocar uma resposta emocional que define quem é humano e quem não é. Enquanto os replicants mostram alguma compaixão e preocupação uns com os outros, o ser humano é mostrado como sendo  frios e sem personalidade ( as multidões que enchem as ruas de Los Angeles ao longo do filme são disso exemplo). O filme vai tão longe nesta questão que a própria humanidade de  Deckard é posta em dúvida e, através dela, somos levados a reavaliar o que é ser humano. Nem autor, nem realizador, nem argumentistas respondem a esta questão e ela tem sido tema para muitas discussões, contribuindo assim para o crescente interesse em volta do filme.
   A recepção crítica ao filme foi diversa; enquanto alguns ficaram espantados pela grandeza da visão futurista e complexidade temática do filme, outros, mais conservadores, consideram o filme uma traição ao livro ao inverter as personagens de Rick Deckard, que no livro é um homem sem moral, no filme, a sua própria moral é posta em dúvida ao questionar se o que faz é moralmente aceitável ou não e de Roy Batty, o líder dos "Replicants" que no livro não é tão vilão como parece que no filme não olha a meios para ir ao encontro do seu Criador  e atingir a  humanidade. 
Na Europa, a recepção ao filme foi calorosa e foi um dos grandes sucessos de 1982 ( em Portugal foi o 2º filme mais visto, logo a seguir a "E.T. - O Extraterrestre") e hoje  "Blade Runner" é considerado um dos melhores filmes de sempre e um dos mais influentes nas décadas de 80 e 90.
   Desde 1982 que existem ao todo sete versões de "Blade Runner" que resultaram de mudanças feitas pelos executivos dos estúdios que queriam que o filme fosse um sucesso depois do enorme investimento inicial 2, 5 milhões de dólares na pré-produção e de 21,5 milhões de dólares durante a rodagem, que era uma fortuna no início da década de 80. As diferentes versões do filme são:
- A "Workprint version" (1982, 113 minutos), exibida para testar o impacto junto do público. Em 1990      foi exibida como sendo uma "Director's Cut" sem a aprovação de Ridley Scott.
- A "Sneak Preview version", semelhante  à "Workprint version" com três cenas adicionais.
- A "Versão Original" (1982, 116 minutos),  é a mais conhecida de todas as versões. Contém as diversas alterações impostas pelos produtores, incluindo a "voz off" e o final feliz.
- A "Versão Internacional" (1982, 117 minutos), apenas estreada e exibida na Europa e na Ásia, contém mais acção e violência que a versão original. Proibida durante anos nos Estados Unidos, seria editada em "Laser Disc" por ocasião do 10º aniversário do filme em 1992.
- A "Versão para Televisão" (1986, 114 minutos) é a versão original montada para televisão sem as cenas de violência.
- A "Versão do Realizador" (1991, 116 minutos), finalmente o filme idealizado por Ridley Scott e recusado pelos produtores, via a luz do dia e estreava em todo o mundo com grande sucesso. Inclui mudanças significativas na versão original: a "voz off" é removida, acrescenta-se a sequência-sonho do unicórnio e o final feliz, imposto e causa de todas as polémicas entre realizador e produtores, é retirado. Era o renascer de um filme de culto. 
- A "Versão Final" (2007, 116 minutos), no 25º aniversário de "Blade Runner", realizador e produtores estão de acordo e dão liberdade criativa a Ridley Scott para ultimar a versão definitiva do filme. Melhorias a nível de imagem e de som, inclusão de alguns planos deixados de fora em versões anteriores, são o prato forte desta versão final que nada mais é que uma versão remasterizada da versão do realizador.
A Edição definitiva de "Blade Runner"
   Algumas destas versões estão disponíveis, além dum sem número de documentários, entrevistas e outra documentação na excepcional edição de cinco dvd's ou  cinco blu-rays intitulada "The Ultimate Blade Runner Collection", editada em finais de 2007. 
   Sendo baseado num livro de sucesso  teria de acontecer, inevitavelmente tal como no cinema, surgirem sequelas à obra de Philip K. Dick. O encarregado disso foi K.W. Jeter, amigo e seguidor de Dick, escreveu até agora três livros que continuam a história de Rick Deckard e tentam resolver as  muitas diferenças assumidas entre o filme e o livro: "Blade Runner 2 - A Fronteira do Humano" (1995); "Blade Runner - A Noite dos Andróides" (1996) e "Blade Runner - Eye and Talon" (2000).
   Culturalmente influente desde a sua estreia, muito devido ao seu estilo negro e design futurista, "Blade Runner" influenciou grandemente o estilo dos filmes de ficção cientifica subsequentes, animação, vídeojogos e até em séries de televisão, mais recentemente na re-invenção de "Battlestar Galactica" (2003), cujos produtores Ronald D. Moore e David Eick, dizem ter sido influenciados pelo filme de Ridley Scott.

Nota: Todas as imagens deste texto foram retiradas da Internet



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