sábado, 4 de junho de 2011

Bandas Sonoras II

                                                 II - O Processo criativo da Banda Sonora

   A Partitura musical de um filme é, regra geral, fruto do trabalho de um ou mais compositores,  de acordo com as indicações do realizador e/ou produtor, habitualmente tocada por um grupo de músicos onde se incluem uma orquestra, uma banda, coro e vocalistas.
   As partituras musicais abarcam uma variedade de estilos músicais, dependendo do género de filme para a qual se está a trabalhar. Desde sempre que uma partitura musical era um trabalho orquestral com ramificações da música clássica ocidental. Desde os anos 50 que esta tendência mudou afim de incluir influências de Jazz, Pop, Rock, Blues, electrónica, além duma variedade enorme de música étnica , de modo a que uma banda sonora feita actualmente seja um híbrido de música orquestral com elementos de música electrónica.
   O compositor geralmente entra no processo criativo já perto do final da rodagem ou na altura em que o filme está na post-produção, ou seja, na sala de montagem, apesar de, em alguns casos, o compositor estar presente quando é pedido aos actores que tenham de cantar, como acontecia no tempo do musical.
Maurice Jarre e o realizador David Lean
   Ao compositor é então mostrada uma primeira versão (chamada "rough cut") do filme antes da montagem final. Em conjugação com o realizador e /ou produtor, o compositor decide sobre que tipo de música, em termos de tom e estilo, vai ser utilizada no filme. Um e outro assistem ao filme. Durante este processo, o compositor tira notas sobre quais as cenas que vão necessitar de música. Ocasionalmente, ao contrário da norma, o realizador pode montar o filme sobre música previamente composta, como o fez Sergio Leone com o final de "O Bom, o Mau e o Vilão" (1966), ou os seus filmes  "Aconteceu no Oeste" (1968) ou "Era uma Vez na América" (1983) foram montados de acordo com as bandas sonoras de Ennio Morricone, cuja amizade e colaboração com o realizador, lhe permitiu tê-las prontas muito antes das produções estarem completas. Similarmente, a montagem final de "E.T. - O Extraterrestre" (Steven Spielberg, 1982) foi feita de acordo com a banda sonora composta por John Williams, colaborador habitual do realizador. Ao que parece, Spielberg deu liberdade total ao compositor para criar a banda sonora sem o filme.
   Menos frequente é a um compositor ser pedido que componha uma banda sonora baseada nas impressões que ele (a) retirem do argumento, sem verem qualquer imagem filmada, é-lhes dada maior liberdade criativa sem haver necessidade de estarem ligados a qualquer especificação musical ou ao tom musical desta ou daquela cena, como aconteceu com o filme "Sorcerer - O Comboio do Medo" (William Friedkin, 1977) em que a música foi toda composta pelo grupo alemão Tangerine Dream sem nunca terem visto uma imagem ou uma cena  filmada, baseada apenas no argumento que o realizador lhes deu. Esta aproximação  pode ser feita pelo realizador sempre que entender que é o melhor para o seu filme e pode sempre ser inserida durante o processo de post-produção.
O Método tradicional da escrita duma partitura musical
   O método de escrita de uma partitura musical varia de compositor para compositor. Alguns preferem o método tradicional utilizando a pauta musical e, com uma caneta, vão escrevendo notas enquanto executam ao piano as ideias e alterações que vão surgindo; outros preferem escrever directamente em computador usando um equipamento sofisticado para criação de música. Em qualquer um dos métodos, o tempo que o compositor tem para criar a música varia de projecto para projecto: dependendo do tempo que possa levar a post-produção do filme, ele tem desde duas semanas a três meses para fazer o trabalho. Em circunstâncias normais, o processo de escrita, do princípio ao fim, nunca leva menos de seis semanas. Tudo isto depende do tipo de música que se quer para o filme e o que se pretende que ela mostre. Uma banda sonora pode conter centenas de combinações sonoras, de instrumentos, de vozes, pode ter a ver com o período e localização em que decorre a acção, gostos musicais das personagens. Como parte da preparação duma banda sonora, o seu autor tem que fazer uma pesquisa sobre as diferentes técnicas e géneros musicais apropriados para aquele projecto.
A Gravação duma banda sonora
   Depois da escrita, segue-se a fase do arranjo e da gravação. Aqui também varia de compositor para compositor, consoante o tipo de projecto. Mas basicamente, o arranjo pega no trabalho feito pelo compositor, escreve-se a partitura musical para cada instrumento que cada elemento da orquestra vai tocar. A maior parte das vezes, o compositor é também quem faz os arranjos da sua própria partitura podendo assim tirar partido de todo o seu trabalho. Pode dar-se o caso de  o compositor ser menos detalhado e pedir a algum orquestrador que lhe "preencha os espaços em branco", contribuindo este com alguma criatividade para dinamizar mais a banda sonora permitindo que esta se torne parte integrante do filme. Composta a música e feitos os arranjos, a partitura está pronta para ser gravada. Chega a vez da orquestra ou do grupo tocarem o material, a maior parte das vezes com o compositor a conduzir o trabalho. Esta gravação é feita em frente a um écran grande onde passa o filme ou , em alguns casos, uma série de cenas com um contador de tempo que permite ao maestro sincronizar a música com a duração das cenas no filme. Os músicos nunca são creditados no filme e, muitas vezes, nem o são no álbum resultante dessa gravação, mas esta política tem vindo a mudar.
   As bandas sonoras têm uma estrutura própria que é  traduzida em diferentes temas para as personagens, acontecimentos, ideias, objectos, etc., estes são tocados em diferentes variações, de acordo com a situação que querem mostrar, espalhadas por música incidental. O melhor exemplo desta técnica está contido nas bandas sonoras da saga de "Star Wars", compostas por  John Williams e os numerosos temas associados ás personagens como Darth Vader, Luke Skywalker, Princesa Leia Organa e muitos outros que se entrelaçam ao longo de seis filmes e seis bandas sonoras. A mesma técnica tem sido utilizada por outros compositores como Ennio Morricone ou Howard Shore na magnifica trilogia de "O Senhor dos Anéis". Casos há em que a banda sonora original é rejeitada em favor de outra composta por peças musicais já existentes. É o caso de "2001: Odisseia no Espaço" (Stanley Kubrick, 1968) em que o realizador optou por outra banda sonora em detrimento da original composta por Alex North.
   As canções habitualmente não são consideradas como fazendo parte da banda sonora de um filme. A partitura musical nunca contempla canções e deve ser considerada como um todo instrumental. Nas últimas décadas esta tendência tem vindo a modificar-se, com o advento de alguns filmes filmes "ditos musicais",  em que  canções pop ou rock, ganham alguma expressão quando o compositor escreve uma canção específica para enfatizar o tom de determinada cena. Nascem assim as bandas sonoras cujo conteúdo é  constituído por canções  inspiradas no filme ou na sua música.
   As bandas sonoras, sejam elas instrumentais ou não, têm vindo a ganhar algum espaço tanto no filme, como fora dele e, hoje em dia, com o advento dos vídeoclips  e estes a servirem de apresentação a esses mesmos filmes, é quase impossível dissociar uma do outro.


Nota: Todas as imagens que ilustram o texto foram retiradas da Internet
   

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