sábado, 30 de julho de 2011

Heat - Cidade sob Pressão

    O género policial ganhou grande visibilidade a partir do filme "Bullit" (Peter Yates, 1968) e da sua hoje lendária perseguição automóvel pelas ruas de S.Francisco, foi evoluindo e hoje tem o seu espaço definido na sétima arte e muitos foram os filmes que contribuíram para a definição do género. "Heat - Cidade sob Pressão" limita-se a prolongar essa mesma definição levando-a pelos caminhos da quase perfeição.

   Vincent Hanna e Neal McCauley são dois homens que estão nos dois lados opostos da lei: Hanna é Detective-Tenente na policia de Los Angeles, McCauley é um ladrão profissional. Após um assalto, Hanna é o detective encarregado de investigar o roubo e Neal McCauley é o seu principal suspeito. Entre os dois nasce uma mútua admiração e vão-se apercebendo que têm mais em comum do que pensavam (Hanna é divorciado e não tem vida própria, até o seu mais recente casamento está por um fio; McCauley é um ex-condenado e não tem tempo para criar raízes sob pena de ter que largar tudo e fugir se se sentir ameaçado, como ele próprio o diz a dado momento a Eady, a sua namorada). Entre ambos está uma cidade sob pressão...
     "Heat" é baseado em "L.A.Takedown", um telefilme que Michael Mann realizou em 1989 e que seria o episódio-piloto de uma série policial que acabou por não ser feita. Mann aproveitou então o argumento do telefilme e reescreveu-o para este filme e em boa hora o fez porque ficámos todos nós (cinéfilos) a ganhar. O projecto inicial era uma espécie de "Miami Vice" (1984-1989), série criada por Mann, com todos os ingredientes da série anterior (felizmente sem Don Johnson), passada em Los Angeles...o que não traria nada de novo e a sensação que pairaria no ar seria a de um "dejá-vú" isto em qualquer lugar!
    
    Quando se juntam no mesmo filme os dois melhores actores do mundo (venha daí quem discordar!) perfeitamente secundados por um elenco de luxo, o resultado só pode ser um grande filme de muita qualidade.Al Pacino e Robert DeNiro só haviam contracenado juntos uma única vez no fabuloso "Padrinho - Parte II" (Francis Ford Coppola, 1974) mas não tiveram nenhuma cena juntos. Ambos lamentaram o facto durante anos e era sua vontade partilharem o écran. "Heat" permitiu que isso acontecesse e o resultado é, nada menos que, magia pura: as cenas entre ambos são autênticas batalhas de gigantes, absolutamente brilhantes, nenhum deles tem que se esforçar para se evidenciar; as suas interpretações são tão credíveis que dificilmente acreditamos que estamos a ver um filme: para conferir as minhas palavras basta ver com atenção a cena passada no café do aeroporto de Los Angeles onde um e outro se confrontam naquilo que mais parece uma conversa de amigos do que um confronto entre um policía e um ladrão: é das melhores cenas de interpretação que vi em toda a minha vida e se o filme terminasse ali, já teria valido só por isso. 
Do restante elenco salientam-se as interpretações do Val Kilmer, Tom Sizemore, Diane Venora e o regressado Jon Voight.
   
Michael Mann
A realização de Michael Mann, autor de filmes como "Thief- Ladrão Profissional" (1981),   em que um ex-presidiário, arrombador de cofres, tenta reconstruir a sua família mas a Máfia não lhe facilita a vida; "Manhunter - Caçada ao Amanhecer" (1986), primeira incursão de Hannibal Lecter no cinema, anos antes de "O Silêncio dos Inocentes (Jonathan Demme, 1991); " Last of the Mohicans - O Último dos Moicanos" (1992), enésima versão cinematógráfica deste clássico da literatura mundial com Daniel-Day Lewis e uma excepcional banda sonora; "Collateral" (2004) com Tom Cruise no papel de um assassino contratado que "rapta" um taxista para que este o conduza de alvo em alvo, ou "Miami Vice" (2006) adaptação para o grande écran da série policial acima citada, é estilizada com muita influência televisiva ( a cena do assalto no incio do filme ou a trama a meio do filme com o assassino das prostitutas), a câmera sempre em movimento a  parecer que estamos perante um documentário, (toda a sequência do assalto ao banco e o tiroteio que se segue, em pleno dia e em hora de ponta ou a da perseguição no aeroporto, a fazer lembrar "Bullit"). Michael Mann filma tudo isto de maneira absolutamente credível e realista. 
     Outros dos trunfos do realizador, além de saber contar uma história, é a utilização da banda sonora que procura adequar ao material que filma (estranha e electónica em "Thief", melancólica em  "Heat"; épica em "Last of the Mohicans", moderna e barulhenta em "Miami Vice"). E Também a fotografia cuidada que usa nos filmes (Oscar da Academia em "O Último dos Moicanos"): o seu uso dramático da cor, é uma mais valia para cada filme: atente-se às cenas nocturnas em  "Heat", filmadas usando tons de azul, que ganham vida própria tornando-se parte integrante do filme e não apenas cenário.
   Estamos perante um dos melhores exemplos de cinema da década de 90 do século passado e um dos melhores policiais de sempre,uma obra-prima capaz de ombrear com clássicos do género como "Bullit", "French Connection" (William Friedkin, 1971) ou "Dirty Harry" (Don Siegel, 1971) para só citar alguns dos mais conhecidos."Heat" tem servido também de modelo a alguns filmes policiais recentes como  "We Own the Night - Nós controlamos a Noite" (James Gray, 2007) ou "The Town - A Cidade" (Ben Affleck, 2010), filmes que, de alguma maneira, têm marcado pela positiva o género.  

     Se dúvidas houver, quanto há grande qualidade de "Heat" é porque não vimos todos o mesmo filme!


Nota: As imagens e vídeos utilizados neste texto foram retirados da Internet

domingo, 24 de julho de 2011

O Musical - Um Género por Excelência

   Em 1974, por ocasião da comemoração dos 50 anos da  MGM (Metro-Goldwyn-Mayer), no filme-documentário "That's Entertainment - Isto é Espectáculo!", realizado por Jack Haley Jr.,  Frank Sinatra, um dos apresentadores, disse que o filme musical tinha adquirido a sua importância no cinema devido aos enredos simples que continha: "O rapaz conhece a rapariga, o rapaz e a rapariga apaixonam-se, não se entendem, o rapaz canta uma canção e o rapaz fica com a rapariga!" e, como veremos, não andava muito longe da verdade.
   O Musical é um género de filme que se apoia predominante ou exclusivamente em sequências de canções, música e dança coreografadas como forma de narrativa. O musical, sabe-se, foi um desenvolvimento natural da peça de teatro. A maior diferença entre os dois tipos de espectáculo é a utilização de cenários grandiosos por parte do filme musical, e que seria impraticável no palco. Os números musicais contêm reminiscências do teatro; os intérpretes habitualmente executam os números de dança e as canções como se estivessem a actuar perante uma assistência. De certo modo, o espectador torna-se o centro da atenção já que o intérprete olha directamente para a câmara e actua para ela.
   As décadas de 30, 40 e 50 são habitualmente consideradas como sendo a época de ouro do musical, embora tudo tenha começado um pouco antes. Em 1923-26, Lee De Forest fez diversas curtas metragens que chamou musicais utilizando bandas, vocalistas e dançarinos, nos quais uma banda sonora musical tocava enquanto os intérpretes representavam as suas personagens tal e qual se fazia nos filmes mudos: sem nenhum diálogo. Porém, em 1927, tudo mudou com o advento do som.
O Primeiro filme sonoro do cinema
   "The Jazz Singer - O Cantor de Jazz"  foi, não só, o primeiro filme sonoro da história do cinema, como também o primeiro filme musical, no qual Al Jolson cantava vários temas. Embora apenas os números de Jolson tivessem som, a maior parte do filme era mudo, todas as pessoas  na audiência sentiram que algo estava a mudar. Em 1928 os cinemas apressaram-se a instalar os novos equipamentos de som enquanto os estúdios se apressavam a contratar os compositores da Broadway para escreverem musicais para o cinema. O primeiro filme totalmente sonoro "Lights of New York" (Bryan Foy, 1928) incluia um número musical num clube nocturno. O entusiasmo das audiências foi tal que, em menos de 1 ano, todos os grandes estúdios estavam a produzir musicais.
   Em 1929, antes da crise económica, a MGM de Sam Goldwyn, torna-se no principal estúdio de cinema a produzir filmes musicais, graças ao filme "Broadway Melody", realizado por Harry Beaumont. Apresentdo pelo estúdio como o primeiro filme "totalmente falado, totalmente cantado, totalmente dançado", cuja história de duas irmãs do mundo do espectáculo, a competirem pelo amor de um talentoso cantor e dançarino, conseguiu cativar o público, foi um grande sucesso e ganhou o Oscar de Melhor Filme do Ano.
A Imagem-marca de Busby Berkeley
   No inicio da década de 30, Hollywood produziu cerca de 100 musicais, mas apenas uns meros 14 em 1931. As audiências pareciam estar, nesta altura, saturadas de filmes musicais e os estúdios viram-se forçados a cantar as partes musicais dos filmes em produção. Mas, em 1933, o gosto pelos musicais reavivou novamente, muito pelo trabalho do realizador/coreógrafo Busby Berkeley que, pouco a pouco, iria modificar os números de dança no filme musical. Em filmes como "42nd Street" ou "Gold Diggers of 1933", Berkeley deixou uma marca indelével e um estilo único: os seus números geralmente começavam num cenário específico, depois abriam para espaços maiores, onde as suas geniais coreografias envolviam corpos humanos como que a formarem padrões próprios, tipo caleidoscópio e em cuja intenção principal é que o espectador veja a acção de baixo para cima. 
   Foi pela sua mão que nomes como Fred Astaire ou Ginger Rogers, entre outros, se tornaram muito populares durante os anos dourados do género.  A dupla Astaire-Rogers resultou numa série de filmes de sucesso, hoje clássicos, como "Top Hat - Chapéu Alto" (Mark Sandrich, 1935), "Swing Time - Ritmo Louco" (George Stevens, 1936) ou "Shall we Dance - Vamos Dançar?" (Mark Sandrich, 1937) onde canções, danças e sapateado, ao serviço de  argumentos simplistas  e banais histórias de amor faziam as delícias do público. Surpreendentemente muitos actores e actrizes que ganharam fama com outros papéis, começaram como no filme musical. James Cagney, famoso pelos seus papeis de gangster e homem duro, começou como cantor e dançarino, mas  teve poucas  oportunidades de mostrar estes seus talentos, por isso não é de admirar que o seu único Oscar de Melhor Actor seja por "Yankee Doodle Dandy - A Canção Triunfal" (Michael Curtiz, 1942) onde  canta e dança.
Arthur Freed, responsável pela renovação do Musical
    Nas décadas de 40 e 50, a MGM, fez a transição entre a fórmula repetitiva e já ultrapassada dos musicais antigos, para algo novo. Arthur Freed foi o principal responsável por esta mudança. Trabalhando independentemente do estúdio principal, a chamada "Unidade Freed"produziu alguns dos melhores filmes do género e da história do cinema. Começou em 1944 com "Meet me in St.Louis - Não há como  a Nossa Casa" realizado por Vincente Minnelli,  continuou com "Easter Parade - Quando Danço Contigo" (Charles Walters, 1948), "On the Town - Um dia em Nova York" (Stanley Donen & Gene Kelly, 1949) este foi o primeiro musical a ser filmado em exteriores e que se tornaria prática comum nas décadas seguintes e  que "Seven Brides for Seven Brothers - Sete Noivas para Sete Irmãos" (Stanley Donen, 1954 ) é um exemplo acabado disso mesmo, ao tirar o melhor partido dos exteriores em que foi filmado (as montanhas do Utah) ou "Band Wagon - A Roda da Fortuna" (Vincente Minnelli, 1953) que trouxe de volta à ribalta Fred Astaire  depois de um breve período de retiro a que o actor se votara. Esta nova era do musical trouxe outros nomes que se tornariam símbolos do género: Vincente Minnelli, Judy Garland, Gene Kelly, Cyd Charisse, Donald O'Connor, Ann Miller, Howard Keel, entre outros.
   A década de 50 viu também surgirem aqueles que ainda hoje são considerados os melhores filmes do género, igualmente pela mão da "Unidade Freed": "An American in Paris - Um Americano em Paris" realizado por Vincente Minnelli em 1951, que conta a história de Jerry (Gene Kelly) um ex-soldado americano que após o final da II Guerra Mundial, fica em Paris para tentar a sua sorte como pintor. As músicas de George Gershwin adaptadas em coreografias geniais por Gene Kelly (principalmente a fabulosa sequência-título do Ballet final que dura cerca de 17 minutos), os exteriores filmados numa quase declaração de amor a Paris, um elenco de secundários como Leslie Caron (o objecto da paixão de Jerry), Oscar Levant, Nina Foch ou George Guetáry, fizeram do filme um grande sucesso de bilheteira e o fiel depositário de seis Oscares da Academia, incluindo o de Melhor Filme do Ano e garantiu a Kelly um prémio especial pela coreografia genial na sequência do ballet.
   O outro filme é "Singin' in the Rain - Serenata à Chuva" realizado pela dupla Stanley Donen e Gene Kelly em 1952 e é considerado o melhor musical da história do cinema. A história passa-se durante a transição do cinema mudo para o cinema sonoro e conta as dificuldades sentidas pelos actores dum estúdio quando é decidido que o seu último filme tem que ser um musical.  Este filme consegue, no mesmo espaço, misturar drama, comédia, música, canções e dança, numa brilhante auto-paródia graças aos talentos dum elenco que parece ter sido reunido para este efeito: Gene Kelly, Donald O'Connor e Debbie Reynolds brilham como nunca nos fabulosos números musicais que enchem o filme "Mak' Em Laugh", "Moses", "Good Morning" ou na "Broadway Melody Ballet" (em que Cyd Charisse e Gene Kelly deslumbram completamente num número genialmente  coreografado por Kelly),  mas é no fabuloso número que dá o título ao filme, que este se destaca de todos os outros, pela simplicidade da cena e ganha o seu estatuto: Kelly, completamente encharcado, a cantar e dançar sob uma chuva cada vez mais intensa, encanta e convence tudo e todos e o filme torna-se na obra-prima do género por excelência. A face do musical nunca mais seria a mesma.
   Os anos 60 ainda viram alguns musicais obterem sucesso, foi o caso de "West Side Story - Amor sem Barreiras" (Robert Wise & Jerome Robbins, 1961) actualização do drama de William Shakespeare "Romeu e Julieta" para a actualidade,  apesar dos dez Oscares da Academia que ganhou, incluindo o de Melhor Filme do Ano, as tensões raciais não conseguiram convencer o público; "My Fair Lady- Minha Linda Lady" (George Cukor, 1964) a história de amor entre o professor snob e a florista conseguiu convencer o público e o filme receberia oito Oscares da Academia, incluindo o Melhor Filme do Ano; assim como "The Sound of Music - Música no Coração" (Robert Wise, 1965) cuja história semi-veridica da familia Von Trapp numa Áustria pré-II Guerra Mundial conseguiu cativar tudo e todos, levando a que o filme fosse um dos grandes  sucessos de bilheteira de sempre  e ganhasse cinco Oscares da Academia, incluindo o de Melhor Filme. Mas o maior sucesso de bilheteira da década seria "Mary Poppins" (Robert Stevenson, 1964), a história da ama mágica contratada para tomar conta dos filhos dum ocupadíssimo bancário, conseguiu cativar o público ao longo das gerações fazendo deste filme um dos maiores êxitos de bilheteira da Disney.
   Apesar do sucesso de alguns filmes musicais, outros houve que não conseguiram obter o sucesso pretendido. Filmes como "Camelot", "Hello Dolly", "Sweet Charity" "Paint your Wagon" ou "Song of Norway" mutilaram financeiramente  alguns estúdios no inicio da década de 70. Percebeu-se que o musical já tinha tido os seus dias e que era preciso repensar tudo.
   Considerado perigoso, o musical foi sendo progressivamente substituído pelo uso de música de cantores e grupos rock como pano de fundo, sempre na expectativa de se conseguir vender essa banda sonora ao público. O percursor neste novo estilo de musical foi "The Rocky Horror Picture Show - Festival Rocky de Terror", realizado em 1975 por Jim Sharman, que foi um fracasso de bilheteira quando estreou, mas que, as sessões à meia-noite nos cinemas, que estiveram na moda  durante os anos 80, o  tornaram num filme de culto. A década de 70 não haveria de terminar sem Bob Fosse, coreógrafo de sucesso nas décadas de 50 e 60, tornado realizador no final dos anos 60, apresentar o seu "All That Jazz - O Espectáculo vai Continuar" em 1979, um filme semi-autobiográfico onde Roy Scheider tem uma das grandes interpretações da sua carreira ao mostrar que sabe cantar e Jessica Lange surge mais angelical que nunca. O filme ganha diversos prémios, incluindo a Palma de Ouro em Cannes e torna-se numa das grandes obras da década e também do cinema.      
   Outros filmes que apareceram, durante a segunda metade da década utilizando este novo formato de Hollywood fazer musicais, como "Bugsy Malone", "Lisztomania", "New York, New York" foram sucessos relativos de bilheteira, ou "Grease" que foi um dos maiores sucessos  da década e que abriu caminho para, nas décadas seguintes, outros filmes provarem que esta fórmula estava correcta e que, com uma ajudazinha dada pela Broadway e pelo West End Londrino, chegou-se à conclusão que afinal ainda se podiam fazer  musicais com alguma confiança. Foi o caso de "Hair"(Milos Forman, 1979), "Annie"(John Huston, 1982), "Victor Victória"(Blake Edwards,1982) ou esse enorme sucesso de bilheteira que foi "Fame - Fama" (Alan Parker, 1980), "Absolute Beginners - Absolutamente Principiantes" (Julian Temple, 1986), "Evita" (Alan Parker, 1996).
   O final do século XX veria o musical estender-se aos filmes de animação, predominantemente da Disney, graças ao trabalho apurado de Howard Ashman, Alan Menken ou Stephen Schwartz que produziram inesquecíveis canções em filmes como "A Pequena Sereia", "Aladdin" "O Corcunda de Notre Dame", "A Bela e o Monstro" ou "Rei Leão" e que deram ao género um novo fôlego.
   No século XXI, o género parece ter ganho alguma popularidade com adaptações da Broadway para o grande écran. Filmes como "Moulin Rouge" (Baz Luhrmann, 2001), "Chicago" (Rob Marshall, 2002), "Phantom of the Opera - O Fantasma da Ópera" (Joel Schumacher, 2004), "Sweeney Todd - O Terrível Barbeiro de Fleet Street" (Tim Burton, 2007) ou "Mamma Mia" (Phyllida Lloyd, 2008), têm, de certa forma, feito reviver um género que se diz estar extinto, e que, uma nova geração de cineastas, actores e actrizes e público em geral, tem vindo a descobrir fazendo com que, tal como o Western, se adie a sua extinção.
   Só o tempo é que o poderá dizer.


Nota: todas as imagens utilizadas neste texto foram retiradas da Internet


sábado, 16 de julho de 2011

Os Pequenos Vagabundos, uma série emblemática




  Sábado, 9 de Julho de 2011, 17:00, tive a certeza que a geração nascida na primeira década do século XXI, nunca se vai divertir nem ter imaginação para isso, como outras que as antecederam, principalmente a que cresceu na década de 70 do século passado. Passo a explicar: estava em casa, tinha acabado de vir do trabalho, o resto da familia ainda estava para chegar, quando me apeteceu ir ver qualquer coisa no DVD. Depois de alguma indecisão, optei por uma coisa antiga mas que sempre que a vejo faz-me regressar à minha infância. Estava a começar a ver quando chegam os meus filhos, "Pai - pergunta o mais velho - o que é que vais ver?" "Olha - digo eu - vou ver Os Pequenos Vagabundos" " O que é isso? - insiste ele" "é uma série do tempo em que o pai tinha a vossa idade...é  de aventuras..." "É como o Bando dos Quatro? - pergunta a mais nova" "É melhor - respondo eu - muito melhor!" "Então, vamos ver contigo!! - respondem em uníssono". Sentámo-nos e começamos a ver "Os Pequenos Vagabundos".
   "Les Galapiats" ou "Le Trésor du Château sans nom" no original,  "Os Pequenos Vagabundos", como se chamou em portugal,  está para o geração que cresceu na década de 70, como "O Verão Azul" está para a geração que cresceu na década de 80.
   Série televisiva co-produzida pelas televisões francesa, belga, suiça e canadiana, realizada por Pierre Gaspard-Huit, realizada em 1969, constituída por 8 episódios de cerca de 30 minutos cada, foi um enorme sucesso nos países onde foi exibida, incluindo portugal que a transmitiu na RTP1 (ainda a preto e branco), várias vezes ao longo da década de 70.
Os Pequenos Vagabundos
   Jean-Loup é um jovem francês que vai de férias para um acampamento de jovens na bélgica. Lá, conhece outros jovens de várias nacionalidades, apaixona-se pela bela Marion des Neige e todos juntos vão viver a aventura duma vida.
   Filmada na Bélgica, a cores (o que em 1969 era muito raro em produções europeias) e num tempo recorde de cerca de dois meses entre Maio e Julho de 1969, teve o condão de transformar os diversos locais onde foi filmada em autênticos locais turistícos na altura da exibição da série entre dezembro de 1969 e fevereiro de 1970 e que, em 2003 foram revisitados pelo actores da série.

   Série de culto, ainda hoje mantém toda a frescura que tinha na altura, é considerada A SÉRIE por excelência de todos aqueles e aquelas que cresceram durante a década de 70 do século passado e tem sido objecto de uma constante descoberta por quem não viveu naquela década.
   Sábado, 9 de Julho de 2011, por volta das 21.30, no écran da televisão corre o générico final de "Os pequenos Vagabundos" ao som do tema que ainda hoje, passados estes anos, trauteio com agrado. "Pai - diz o meu filho mais velho - é muit'a gira esta série!" "Eu sei, - digo -  vejo-a sempre com agrado...ainda bem que vocês gostaram..." "Oh Pai - pergunta a minha filha com os olhos a brilhar - tens mais filmes destes?" "Tenho outras, sim..." "Podemos vê-los?" "Sim, quando quiserem!" - disse eu enquanto retirava e guardava o DVD no armário. Porém, uma dúvida assolou a minha mente - Como é que uma geração que tem tudo ao seu alcance, ainda precisa destas relíquias para se divertir? - seguidamente juntei-me ao resto da família.




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sexta-feira, 8 de julho de 2011

O Polvo - O segredo do sucesso

 



   É uma das séries Italianas mais famosas de sempre. "La Piovra", assim se chama no original. Em Portugal foi exibida com o título de "O Polvo", na RTP1 (no tempo em que só havia dois canais) e em horário nobre,  que, na década de 80, só as novelas brasileiras tinham direito. Em Portugal, como nos cerca de 80 países onde foi exibida, a série obteve enorme sucesso.
   Produzida pela RAI entre 1985 e 1999, a série teve 10 temporadas, umas melhores, outras menos boas, mas nunca perdeu qualidade, conseguindo mesmo obter  audiências pouco habituais no país: só a primeira série conseguiu no primeiro episódio uma audiência de cerca de 8 milhões de espectadores e chegou ao sexto e último com as audiências situadas nos 15 milhões de espectadores  que iriam culminar no último episódio da quarta série (1989) com o maior share de audiência em  televisão alguma vez visto. As séries foram realizadas por alguns dos mais conceituados nomes do cinema e televisão italianas, como Damiano Damiani, Luigi Perelli, Florestano Vencini ou Giacomo Battiato.
    Corrado Cattani, comissário da polícia Italiana é enviado para a Sicília para chefiar a Brigada Móvel da policia local, ao mesmo tempo que é encarregue de chefiar a investigação da morte do seu antecessor. Cedo se apercebe que o crime tem ramificações profundas, que o conduzem  até ao tráfico de droga, na sociedade local onde existe uma espécie de conspiração de silêncio para lhe dificultar o trabalho e a própria investigação. Decide então dar inicio a uma verdadeira cruzada contra os traficantes locais, sem olhar ás consequências que serão muitas para si e para a sua vulnerável família, ao longo das séries seguintes. O Polvo ainda agora tinha começado a estender os seus tentáculos sobre a sociedade. A proporção de inimigos que gravitam em volta do corajoso comissário cresce na mesma medida em que lhe vão surgindo os aliados mais improváveis como a corajosa Juiza Silvia Conti  que, a partir da quinta série, assume o protagonismo e a chefia da cruzada policial contra a Máfia enquanto investiga as razões que estão por detrás do assassinato do comissário Cattani. A ela junta-se David Licata, um antigo policia que tem um problema do seu passado a resolver. Juntos tentam descobrir e denunciar  a Cúpula de "O Polvo", a missão não se revela nada fácil e haverá novamente  consequências imprevisíveis.
   Particularmente importante é a forma como a narrativa se desenvolve e nos é apresentada. Esta  mostra como o crime organizado se expande de  forma tentacular (daí o título da série): começa como sendo uma investigação de homicídio, cedo se descobre que tem ramificações com o tráfico de droga local, ligações ao tráfico de armas, evolui para as lojas de receitas do Estado, depois avança para os bancos, cujas movimentações de dinheiro os torna  associados à Mafia e cujo centro de operações se situa a norte de  Itália e ainda se intensifica mais quando "O Polvo" tenta atingir os Seguros Internacionais e criar o caos financeiro na Itália e em toda a Europa (a acção passa-se antes da União Europeia). Toda esta  história de intriga politica, financeira e criminal é inspirada em acontecimentos reais que se passaram em Itália nos anos que antecederam a série e a ideia que fica é que a verdadeira Mafia não é aquela que nos dada a conhecer como sendo uma história de controle e vingança levada a cabo por homens de boné e arma na mão, mas sim algo bem mais complexo e perigoso, o que originou alguma  polémica ao longo das  primeiras séries e levou a que os produtores, a dada altura, tenham alterado substancialmente a acção. Somos então confrontados com um flashback que nos transporta até aos anos 50 e 60  (8ª e 9ª séries) na Sicília e ao inicio da ascensão da máfia local, surgem personagens e situações  que  terão importância futuramente e irão condicionar a acção. De certa maneira funcionam como prólogo à série.
A morte de um justo
   A 20 de Março de 1989, a série faz história e, por acréscimo a RAI. No final do último episódio da quarta série, O comissário Corrado Cattani morria debaixo dos tiros da cilada que a Máfia lhe montara. Não obstante o facto de se saber antecipadamente o que iria acontecer, porque os produtores assim quiseram, os índices de audiência subiram acima dos 90%. Nessa noite praticamente toda a Itália estava em frente aos televisores a assistir ao desfecho da quarta temporada da série de televisão mais vista de sempre. O mesmo aconteceu em todos os países onde foi exibida, inclusive em portugal onde a RTP1 obteve  um share televisivo de cerca de 80% . Para o Guiness Book of Records ficou  o maior share televisivo jamais atingido na Europa (onde ainda hoje permanece).
    O elenco, marcado pela forte presença de  Michele Placido, como comissário Corrado  Cattani, Patricia Milardet como a Juiza Silvia Conti, Remo Girone como Tano Caridi, o arqui-inimigo de Corrado Cattani e de Silvia Conti; além dum elenco de secundários onde pontuam nomes como Florinda Bolkan, Bruno Cremer, François Périer, Vittorio Mezzogiorno, entre outros, só teve a ganhar com a sua participação neste clássico televisivo pois as suas carreiras ganharam novos fôlegos.
   Referência obrigatória no panorama televisivo da década de 80 do século passado, ganhou rapidamente notariedade e foi elevada ao estatuto de clássico e serviu de inspiração a outras séries que abordaram os meandros da Máfia, algumas com grande sucesso, como por exemplo "Os Sopranos" (1999-2007) e mantém, ainda hoje, a frescura, a originalidade e principalmente o realismo de então.



 




Nota: Todas as imagens e vídeos que ilustram este texto foram retirados da Internet
 

EMERSON, LAKE & PALMER II

            O trio, depois de um longo período de férias, sentindo-se revigorado, reuniu-se novamente em 1976, nos “Mountain Studios”, em Mo...