segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O Padrinho - Parte III, Uma Saga Completa III




                                                           
    
     Quando nada o fazia prever...eis que 16 anos depois de "O Padrinho Parte II", surge a terceira parte daquele que já era um diptíco incontornável na história do cinema...16 anos depois de um dos mais belos planos de solidão de um ser humano (Michael Corleone sentado numa cadeira no meio de um silêncio total), ficamos a saber qual vai ser o destino da familia Corleone. Mas este não foi um parto fácil. No tempo que passou, a ideia de um terceiro capítulo esteve sempre  presente na mente dos cabecilhas dos estúdios da Paramount e várias foram as tentativas de fazer Coppola regressar ao tema e este resistiu sempre. Mesmo antes do seu regresso, todo o processo de criação foi tortuoso e sofreu inúmeros reveses.
       A ideia tomou forma em Julho de 1977 com uma ideia delineada por Michael Eisner, na altura um dos administradores da Paramount, apresentou um primeiro rascunho que rapidamente foi arquivado. O mesmo aconteceu com outro rascunho, escrito por Mario Puzo e Charles Bludhorn, outro administrador da Paramount, em 1978.                       

Um ano depois, Dean Riesner apresentou um argumento em que a familia Corleone, uma outra familia da Mafia e a CIA estavam em conflito aberto. Não houve qualquer desenvolvimento até 1985 quando Nicholas Gage, produtor e argumentista, reescreveu o argumento de modo a situá-lo na década de 70 com Michael a tentar legalizar o negócio da familía. Novamente a ideia presente no filme anterior ganhava aqui uma forma mais actual e tornava possível  o tão ansiado novo capítulo na saga. Então, em 1986, foi pedido a Mario Puzo que escrevesse outro rascunho utilizando as ideias de Gage, o que o escritor fez.
Até 1987, nada menos que quatro rascunhos foram apresentados. Os dois  primeiros, focavam a sua atenção mais na década de 30 do que no presente. Por serem semelhantes ao argumento de "O Padrinho - Parte II" foram recusados. O terceiro, fazia o contrário dos dois primeiros e também foi recusado. Finalmente, em Março de 1987, um quarto rascunho foi apresentado e aceite (não diferia muito do terceiro mas, segundo o estúdio, era bem melhor!).
   No outono de 1988, Frank Mancuso, na altura administrador da Paramount,mandou chamar Francis "Ford" Coppola para conversarem sobra a possibilidade deste realizar o terceiro capítulo de "O Padrinho". Os seus últimos filmes não tinha tido o tão esperado sucesso que o realizador almejava. O seu último sucesso tinha sido "Peggy Sue got Married - Peggy Sue Casou-se" em 1986 e ele precisava dum grande sucesso. Coppola aceitou fazer o filme mas impôs condições para voltar. Uma delas era que o filme se chamasse "Mario Puzo's the Death of Michael Corleone". O estúdio recusou a ideia dizendo que o título era dúbio e  considerava-o muito sombrio e negativo, preferindo o título de "Godfather - Part III" que Coppola eventualmente aceitou mesmo considerando que a saga era constituída apenas por dois filmes e que o terceiro deveria ser considerado como um epílogo que fechava a história num círculo perfeito. Durante alguns anos, Mario Puzo acalentou a ideia de um quarto filme cuja acção se situaria no início do reinado de Don Vito Corleone, mas que a sua morte, ocorrida em 1999, não deixou ver a luz do dia.
    Finalmente a 27 de Novembro de 1989 começou a rodagem de "O Padrinho - Parte III" e que iria durar até Maio de 1990, num total de 125 dias, dividindo-se entre Atlanta, Nova York, os estúdios da Cineccitá em Roma (onde Fellini rodou a maior parte dos seus filmes) e Palermo. A rodagem decorreu  sem sobressaltos, ao contrário do que acontecera com o primeiro filme. O resto do ano, como acontecera com os filmes anteriores, foi passado na sala de montagem para que o filme estreasse a tempo de se apresentar para a cerimónia dos Oscares.
     Passaram-se quase 20 anos desde que Michael Corleone iniciou a tentativa de legitimar a sua familia mas os tempos são dificeis e as adversidades mais que muitas. Mesmo não querendo, ele vai ser de novo arrastado para a voragem da violência.
   Tal como nos filmes anteriores, e para dar a ideia de continuidade, vê-se um écran escuro, surge o título "The Godfather, Part III"(embora na edição do DVD com o restauro de Coppola lançada em 2008, o inicio seja ligeiramente diferente), depois o filme abre com a última cena de "O Padrinho - Parte II", onde se vê Michael no meio da sua solidão, em seguida vemos imagens, da propriedade da familia Corleone  em estado de completo abandono, que se dissolvem umas nas outras sob um céu escuro vê-se a silhueta da estátua da Virgem Maria, tudo isto ao som do famoso tema de "O Padrinho" e sobre este ouve-se a voz rouca, idosa, de Michael a falar...só depois é que percebemos que ele está a escrever uma carta aos seus filhos.
    Algumas partes do filme do filme são baseadas em acontecimentos verídicos tais como o final do reinado do Papa Paulo VI ou o colapso do Banco Ambrosiano, escândalo que assolou a Cidade do Vaticano em 1982.  Mas o mais assustadoramente próximo da realidade histórica é a eleição do Cardeal Lamberto (grande interpretação, embora secundária, de Raf Vallone, principalmente na cena em que escuta a confissão de Michael)  como Papa João Paulo I, que sucedeu a Paulo VI, e que é encontrado morto pouco mais de um mês depois da sua eleição. O mesmo aconteceu na realidade com o verdadeiro Papa João Paulo I, que reinou apenas 33 dias antes de ser encontrado morto nos seus aposentos. Por vezes a ficção tem bases assustadoramente reais...
A Fotografia da "Famiglia" Corleone
    Quase todo o elenco das duas partes anteriores regressa, excepção feita a Robert Duvall que recusou retomar o seu papel de Tom Hagen a não ser que fosse pago de igual modo que  Al Pacino e Diane Keaton, o que lhe foi recusado pelos produtores, então os argumentos, para explicar a sua ausência, inventaram a sua morte e substituíram-no por um discreto mas competente George Hamilton no papel do novo "Consigliere" da familia Corleone, B.J. Harrison. Aos repetentes juntam-se os nomes de Andy Garcia, como Vincent Mancini, filho bastardo de Sonny e protegido pela tia Connie (Talia Shire, no seu melhor papel), Joe Mantegna, como Joe Zaza, um dos inimigos da família Corleone, Bridget Fonda, como Grace Hamilton, jornalista apaixonada por Vincent, Eli Wallach, veterano actor que aqui faz o papel de Don Altobello, o padrinho de Connie, entre outros.
    Mas o filme pertence todo a Al Pacino. A sua interpretação é, talvez, a melhor da sua já longa carreira. Ou será que alguém consegue ficar indiferente à cena perto do final em que Michael vê a filha morrer nos seus braços, a sua expressão, o grito, que embora não se ouça, um achado brilhante do realizador, retrata toda a dor de um pai que quase não conheceu os seus filhos; inesquecível!
Sofia Coppola
    Mas todas as obras-primas têm o seu senão. Aqui, ela chama-se Sofia Coppola. Para interpretar  Mary Corleone, Coppola precisava de  alguém que estivesse à altura do papel que é, nem mais, nem menos, o segundo mais importante do filme e ela não estava, claramente, nem à altura, nem à vontade no papel. Inicialmente várias actrizes foram considerados para o papel de Mary Corleone. Nomes como Uma Thurman, Madeleine Stowe, Diane Lane (quase uma veterana na obra do realizador),  Mary Stuart Masterson, Jennifer Grey, Molly Ringwald, até Julia Roberts, fizeram testes, mas por uma ou outra razão, não ficaram com o papel. A primeira escolha acabou por ser Wynona Ryder, mas, pouco antes do inicio da rodagem, a actriz alegou um enorme cansaço psicológico e desistiu. Entrou em cena Madonna que queria interpretar o papel, mas Coppola achou que ela era velha de mais para interpretar uma rapariga de pouco mais de vinte anos. Com o calendário da rodagem a apertar, o realizador virou-se para a sua filha, Sofia, que no ano anterior colaborara com ele no argumento de um  dos segmentos de "New York Stories- Histórias de Nova York", um filme a três mãos e, de resto, já participara no primeiro filme da saga (é o bebé que é baptizado no filme). A sua muita criticada interpretação resultou numa troca de impressões menos agradável entre o realizador e a imprensa e que prejudicou grandemente o filme quando estreou.
O génio por detrás da trilogia
     O filme é fabuloso, com uma realização magnifica, um argumento sólido e um trabalho de montagem absolutamente estonteante principalmente na sequência da òpera montada em paralelo com a eliminação dos adversários de Michael, a fazer lembrar o primeiro filme na sequência do ajuste de contas e do baptizado. Mas Coppola é um mestre na arte de fazer cinema e demonstra-o uma vez mais na cena final do filme em que vemos Michael, muito velho, sentado numa cadeira, a pensar nas mulheres da sua vida e vêmo-lo em fases distintas da sua vida: primeiro na Sicília (Apollonia), depois no Nevada (Kay) e por fim em Nova York (Mary), e, num plano de camera afastado, vemo-lo cair da cadeira e morrer, tal como o seu pai, Don Vito e sózinho como sempre vivera.
   Nomeado para sete Oscares da Academia, incluindo Melhor Filme e Melhor realizador, "O Padrinho - Parte III", ficou-se por aí mesmo, sendo  derrotado por "Danças com Lobos", realizado por  Kevin Costner, embora se ache que o filme ter ficado a zero no tocante a prémios, tenha sido um bocado exagerado porque existem cenas no filme que são de  brilhantismo cinematográfico puro.
      Assombrado pelo peso dos dois filmes anteriores, "O Padrinho Parte III", ressente-se disso em termos de temática e de estilo, acabando por não ser tão brilhante em termos técnicos como os dois primeiros filmes, não deixa, no entanto, de ser uma obra importante no cinema, um triunfo para o realizador, um epílogo, como Coppola gosta de dizer, da mais famosa trilogia sobre a Mafia  da história da sétima arte...depois disto, os filmes de gangsters nunca mais foram a mesma coisa!!
 

Nota: As imagens e vídeos que ilustram o texto foram retirados da Internet

3 comentários:

  1. Pois de facto este não foi um filme tão brilhante como os dois primeiros capítulos, mas ainda assim não deixa de ser interessante como epílogo. Quanto a Sofia Coppola, deve-se ter perdido aqui uma actriz, mas por um lado, ainda bem, pois tem-se vindo a revelar uma realizadora interessante em obras que pouco ou nada têm a ver com as do pai. Grande abraço.

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  2. "...vemo-lo cair da cadeira e morrer, tal como o seu pai, Don Vito e sózinho como sempre vivera."
    Esta imagem é representação genial do "vazio" do poder e da miséria da condição humana. Não haveria melhor cena para o fim da saga.

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