terça-feira, 27 de setembro de 2011

O Cinema Épico

 

O épico foi um género de cinema muito em voga no inicio da década de 50 do século passado. O género resumia-se a enfatizar o drama humano em grande escala. Èpicos eram filmes cujo âmbito ia muito para além de qualquer outro género, embora tenha passado por quase todos eles, a sua ambição natural ultrapassava os géneros que mais próximos lhe estavam, tais como filmes de época ou até o próprio filme de aventuras. Eram marcados por altos padrões de produção, um elenco de milhares (entre os quais obrigatoriamente tinha de haver alguns nomes sonantes do cinema), por vezes uma banda sonora avassaladora ( a maior parte das vezes era um compositor de renome na indústria cinematográfica), que colocava estes filmes entre os mais caros de produzir.  O termo épico vem da  poesia e inspirado em obras poéticas de grande fôlego como "A Ilíada",  "A Odisseia", ou "O Mahabharata", poemas de grande fôlego e drama humano.
O primeiro épico do cinema
    O chamado épico habitualmente é passado ou em tempo de guerra ou durante alguma crise social e cobre um longo espaço de tempo, em termos quer dos acontecimentos retratados e em duração. Tipicamente, estes filmes  têm uma base histórica e a maior parte das vezes o conflito central  têm consequências a longo prazo e acabam por alterar o curso da história e as acções das personagens principais são decisivas na resolução deste ou daquele conflito. O épico está entre os mais antigos géneros de cinema cujo exemplo mais antigo é "Cabiria", realizado por Giovanni Pastrone em 1914, um filme mudo de mais de três horas sobre as Guerras Púnicas e que, de certa maneira, preparou o terreno para os épicos  de D.W.Griffith  "The Birth of a Nation - O Nascimento de Uma Nação" (1915) ou "Intolerance - Intolerância" (1916).
   Foi nas décadas de 50 e 60 que o épico atingiu a sua maior popularidade, numa altura em que Hollywood colaborava frequentemente com estúdios de cinema  estrangeiros, nomeadamente os famosos estúdios da Cinecittá, em Roma, para usar localizações exóticas em Espanha, Marrocos e outros sitíos para produzir os filmes épicos. Diz-se que este auge de co-produções internacionais terminou em 1963 com o megalómano e problemático "Cleópatra" de Joseph L. Mankiewicz, apesar de outros épicos como "The Fall of the Roman Empire - A Queda do Império Romano" de Anthony Mann (1964 ) ou o fabuloso "Doctor Zhivago - Doutor Jivago" de David Lean (1965) ou ainda esse grandioso exemplo do cinema épico que é "War and Peace - Guerra e paz", realizado por Sergei Bondarchuk em 1968 na então União Soviética e que se diz ser o filme mais caro de sempre, terem sido feitos depois.
   Alguns dos mais famosos épicos da história do cinema foram chamados "Épicos Históricos e Religiosos", porque a acção dos primeiros passa-se num passado em cujos protagonistas alteraram o curso da história, principalmente aqueles que foram feitos nas décadas de 50 e 60 e que eram passados na antiguidade, particularmente em Roma, Grécia ou Egipto e cujas particularidades principais que os distinguem de outro tipo de épicos são os seus cenários extremamente elaborados e grande quantidade de extras.Tais são os casos de, por exemplo, "Quo Vadis" (Melvin Le Roy, 1951, em que o forcado português Nuno Salvação Barreto, tem o seu momento grande ao fazer uma pega de caras a um touro na cena do Coliseu); "Ben-Hur" (William Wyler, 1959); "Spartacus" (Stanley Kubrick, 1960); "Lawrence da Arábia" (David Lean, 1962), ou o já citado "Cleopatra", para só referir alguns dos mais conhecidos.
A separação das águas em "Os Dez Mandamentos"
      Os segundos tinham uma índole mais religiosa e eram baseados em histórias religiosas ou retiradas da Bíblia, do Novo e Antigo Testamentos e mantinham as mesmas bases dos primeiros mas mostravam uma vertente mais religiosa como "The Ten Commandments - Os Dez Mandamentos" (Cecil B. DeMille, 1956); "The King of Kings - O Rei dos Reis" (Nicholas Ray, 1961); "The Greatest Story Ever Told - A Maior História de Todos os Tempos"(George Stevens, 1965); ou "The Bible - A Bíblia" (John Huston, 1966)
   
   Outro tipo de épico é o chamado "Romance Épico" em que, usando na mesma um fundo histórico, o romance é utilizado como contraponto à guerra, conflito social ou polítitíco inserindo-se no mesmo contexto histórico usado. O mais famoso exemplo deste sub-género é, ainda hoje, considerado o maior clássico da história do cinema, "Gone With the Wind - E Tudo o Vento Levou", realizado em 1939 por Victor Fleming em que a história de amor entre Scarlett O'Hara (Vivian Leigh) e Rhett Butler (Clark Gable) tendo como pano de fundo a Guerra de Secessão Americana, é practicamente imortal e, mesmo depois da famosa deixa de Rhett para Scarlett ("Frankly my dear, I don't give a damm!"), inesquecível.
   Podemos incluir no épico também  os filmes de guerra que conseguem retratar grandes batalhas numa escala raramente vista quer em grandiosidade quer em rigor, indo, alguns desses filmes, ao pormenor de filmar nos próprios locais onde se deu o confronto. Aqui David Lean foi o mestre incontestado, no pormenor e rigor com que filmou a sua chamada "trilogia épica": "A Ponte do Rio Kwai" (1957), "Lawrence da Arábia" (1962) e "Doutor Jivago" (1965), que lhe granjearam  19  Oscares da Academia!.
       Outros filmes que se destacaram pela seu rigor e pormenor neste género foram, por exemplo "Seven Samurai - Os Sete Samurais" (Akira Kurosawa, 1954); "The Longest Day - O Dia mais Longo" (Bernhard Wicki, Andrew Marton e Ken Annakin, 1962); "Waterloo" (Sergei Bondarchuck, 1970); "A Bridge too Far - Uma Ponte Longe Demais" (Richard Attenborough, 1977); ou mais recentemente "Saving Private Ryan - O Resgate do Soldado Ryan" (Steven Spielberg, 1998) em que o realizador recria uma parte do desembarque na Normandia de uma maneira extremamente realista e violenta como nunca se tinha visto em cinema ou televisão e com a qual elevou o cinema, e o filme de guerra em particular, a patamares nunca antes atingidos.
   Ao longo dos mais  de 100 anos de existência do cinema, o filme épico percorreu praticamente todos os géneros, o que contribuiu para a boa aceitação por parte do público do género e a propagação do mesmo ao longo do tempo e que em pleno século XXI, alguns dos maiores sucessos de bilheteira sejam épicos, basta lembrar o sucesso e a onda de entusiasmo gerada pelos três filmes de "O Senhor dos Anéis (Peter Jackson, 2001-2003) ou "Avatar" (James Cameron, 2009) para só citar os mais recentes sucessos de bilheteira..
   O filme épico continua a ser produzido, apesar de nos dias de hoje se usarem na maior parte dos casos imagens geradas por computador em vez do exército de extras que se utilizavam há 50 ou 60 anos atrás.
   Em 2006, num daqueles raros momentos de brilhantismo cinematográfico, os filmes Épicos foram reconhecidos e consagrados quanto à sua importância, numa  montagem exibida durante a cerimónia dos Oscares desse ano.



Nota: Todas as imagens  que ilustram este texto foram retiradas da Internet

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