sábado, 28 de janeiro de 2012

A Saga Asiática de James Clavell

James Clavell,  Escritor (1924-1994)
    James Clavell (1924-1994), escritor Britânico, nascido na Austrália devido ao facto do seu  pai, comandante na Marinha Britânica e vice-comandante na marinha britanico-australiana, ter vivido praticamente toda a sua vida no continente australiano.
   Quando rebentou a II Guerra Mundial, James Clavell, que seguira a vida militar para manter a tradição familiar, foi enviado para a Malásia para combater os japoneses, acabou por ser feito prisioneiro e enviado para um campo de concentração onde ficaria até ao final da guerra. Em 1946, um acidente de mota pôs fim à sua carreira militar. Inscreveu-se na Universidade de Birmingham para fazer uma licenciatura e onde permaneceria até 1953 quando decidiu ir tentar a sua sorte nos Estados Unidos.
   Além de escritor, Clavell foi também argumentista de cinema, em filmes de sucesso como "The Great Escape - A Grande Evasão" (John Sturges, 1963), "633 Squadron - Esquadrão 633" (Walter Grauman, 1964) ou "Satan Bug - O Veneno do Diabo" (John Sturges, 1965), entre outros. Foi também realizador de obras como "To Sir, with Love - O Ódio que gerou o Amor" (1967) ou "The Last Valley - O Vale Perdido" (1970). Em 1963, Clavell naturalizar-se-ia americano. Entre a sua vasta obra literária, conta-se uma séries de romances que ficaram conhecidos como "The Asian Saga - A Saga Asiática" e que foram a sua coroa de glória.
A Saga Asiática de James Clavell
   "A Saga Asiática" é composta por seis romances, escritos entre 1962 e 1993, e centram-se todos no estabelecimento e relacionamento dos europeus na ásia e exploram o impacto causado no oriente e no ocidente pelo choque das duas civilizações. Inicialmente, Clavell nunca nunca teve a intenção de que os livros formassem uma saga compacta, aliás, o termo só foi aplicado após o lançamento de "Shógun", o que levou a que alguns peritos em literatura e também em história universal o vissem como o inicio duma saga que já estava em desenvolvimento e começaram a referir-se a eles com uma ordem narrativa. Toda a obra pode ler-se na seguinte ordem cronológica:
- "Shogun" (1975) a acção decorre em 1600 no Japão Feudal;
- "Tai-Pan" (1966) a acção situa-se em Hong Kong em 1841;
- "Gai-Jin" (1993) situado no Japão em 1862;
- "King Rat - Rei Rato" (1962) cuja acção se situa num campo de prisioneiros japonês, em Singapura, em 1945;
- "Noble House - Casa Nobre" (1981) passado em Hong Kong, 1963
- "Whirlwind" com a acção situada no Irão, em 1979;

    "Shogun" é o primeiro romance da saga asiática de James Clavell. Tem inicio em 1600, no Japão feudal, vários meses antes da batalha de Sekigahara, que iria definir o futuro do país, conta a história da ascensão de Toranaga, um senhor feudal, ao shogunato, o mais alto cargo militar do país (uma espécie de ditador), visto através dos olhos de um marinheiro inglês a bordo de um navio holandês que é o primeiro dum país protestante a chegar ao japão. 
     Pode ser lido independente dos outros livros da série, apesar de "Gai-Jin", terceiro livro da saga, fazer a ponte entre "Shogun" e as aventuras de da familia Struan, já que se passa no japão, cerca de 20 anos depois dos acontecimentos narrados em "Tai-Pan" e acompanha a história de Malcolm Struan, neto de Dirk Struan, futuro Tai Pan da Casa Nobre, no Japão. O livro mergulha profundamente na situação politica do japão  e nas hostilidades sentidas pelos ocidentais num pais que ainda não saíra do feudalismo.
    "Tai-Pan", cronologicamente é o segundo volume da saga, marca o inicio da história da Casa Nobre da Ásia (assim apelidada pelos chineses devido á supremacia que a Struan's adquire no romance sobre as outras casas comerciais). No inicio da história, em 1841, a Inglaterra acabou de tomar posse de Hong Kong  e pretende iniciar relações comercias com China, então ainda fechada sobre si mesma. Dirk Struan e Tyler Brock, donos das duas maiores casas comerciais  de Hong Kong. Os dois eram amigos e antigos marinheiros e agora são dois ferozes adversários e a sua luta, comercial e pessoal, está no centro da acção da história, já que  Struan é o "Tai-Pan" (Chefe Supremo) e Tyler quer destruí-lo de forma a tornar-se ele o Chefe Supremo.
     "Rei Rato", quarto livro da saga asiática de James Clavell, passa-se em 1945, em  Changi, campo de prisioneiros japonês situado em Singapura e conta a história da amizade entre um cabo americano, conhecido simplesmente como "O Rei", já que se tornou no mais conhecido traficante e negociante dentro de Changi, e Peter Marlowe, Tenente-Aviador Britãnico, feito prisioneiro em 1942. A personagem de Marlowe é baseada  no próprio James Clavell e nos três anos que passou prisioneiro dos japoneses.
     "Casa Nobre" é o quinto volume da saga asiática e também o que obteve maior sucesso, talvez devido à proximidade da transferência de soberania de Hong Kong  da Grâ-Bretanha para a República Popular da China (que viria a ocorrer em 1997), a acção decorre em 1963 onde encontramos a Casa Nobre e o seu Tai-Pan, Ian Dunross, a tentarem salvar-se da situação financeira precária deixada pelo anterior Tai-Pan enquanto mantém a luta com o seu arqui-rival Quillan Gornt. A acção do livro decorre numa semana onde tudo acontece, desde assassinatos, bancarrotas, aquisições hostis até espionagem internacional que envolve o KGB e o MI6. Todo o saber e conhecimentos que James Clavell possuia estão  incluídos neste livro que, apesar das suas mais de 1000 páginas, se lê com enorme agrado e, sem querer, somos arrastados numa literatura envolvente.
    "Whirlwind", último livro da saga asiática, passa-se no Irão no inicio de 1979, e acompanha as aventuras dum grupo de pilotos de helicóptero da "Struan's", oficiais iranianos, prospectores de petróleo e respectivas familias nos dias que se seguiram à queda da Monarquia Iraniana e do Shah Reza Pahlevi e a ascensão do Ayatollah Khomeini. Pormenorizado e longo (mais de 1000 páginas), como todos os livros de Clavell, com diversas pequenas histórias, todas relacionadas entre si e entrelaçadas na cultura iraniana, além dum numeroso elenco de personagens. Em "Whirlwind", fica-se com essa ideia, não seria o último livro da saga. Soube-se, posteriormente, que o autor pretendia continuar a saga, o que infelizmente, por morte do autor, não chegou a acontecer.
     O cinema e a televisão descobriram o filão que os livros de Clavell constituiam e trataram de os adaptar. Assim em 1965, Bryan Forbes transformou "King Rat" em "O Rei de um Inferno", com George Segal no principal papel; "Shogun" foi adaptado em 1980 pela NBC para  mini-série com Richard Chamberlain e Toshiro Mifune. As 9 horas da mini série foram depois editadas e reduzidas para uma versão de cinema de duas horas em 1981;"Tai Pan" foi adaptado para cinema por Daryl Duke em 1986, com Bryan Brown e Joan Chen; "Noble House" foi adaptado para televisão em 1988 numa mini-série com Pierce Brosnan e John Rhys-Davies e foi também a única adaptação cujo tempo de acção foi mudando, passando a decorrer na década de 80.

 
 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Robert Ludlum

Robert Ludlum (1927- 2001)
    Escritor Americano, nascido a 25 de Maio de 1927, em Nova York, mas, porque o seu pai era um homem de negócios, Os Ludlum nunca tinham um poiso certo. Robert  teve lições privadas em casa e fez o parte da sua aprendizagem enquanto crescia em New Jersey, na Rectory School e mais tarde completou a sua educação na Academia de Chesire, no Connecticut. Aos 16 anos teve a sua primeira experiência de palco  e começou a aparecer regularmente em produções teatrais da escola. Mas a sua grande ambição era ser ponta-de-lança no futebol americano.
     Durante a II Guerra Mundial, Ludlum tentou entrar na Força Aérea Canadiana, mas não conseguiu e acabou por ingressar nos Marines onde serviu entre 1945-47. Colocado no Pacifico Sul, escreveu um manuscrito de cerca de 200 páginas com as sua impressões. Desmobilizado, ingressou na Universidade de Wesleyan (que anos mais tarde iria servir de modelo ao seu livro "The Matlock Paper - O Papel Prateado") , no Connecticut, onde se formou em 1951. Durante a década de 50, Ludlum foi actor de teatro e televisão, em 1957 tornou-se produtor de teatro e durante a década de 60 produziu mais de 300 espectáculos em Nova York. Mas queria mudar e fazer algo de mais importante na vida.
     Em 1971 Robert Ludlum publica o seu primeiro livro "The Scarlatti Inheritance - A Herança Scarlatti", uma história que gira à volta de nazis e financeiras internacionais. A ideia nasceu a partir de um artigo de jornal em que se via uma fotografia dum alemão a empurrar um carrinho de mão cheio de notas. Apesar de inicialmente ter sido rejeitado por diversas vezes, acabou por ser um best-seller e facilitou a continuação da sua carreira como escritor. No livro seguinte de Ludlum, "The Osterman Weekend - Operação Omega",  publicado em 1973, um apresentador e produtor executivo de noticiários de televisão, John Tanner, é recrutado pela CIA para desmascarar uma rede de agentes soviéticos infiltrados nos Estados Unidos e que são os seus amigos mais próximos. É a partir deste livro e de John Tanner, que se forma o protótipo de protagonista de Robert Ludlum nos seus livros, é mais sortudo e engenhoso do que os seus inimigos podem imaginar e que tem dificuldade em confiar nas pessoas que o rodeiam. Desde meados da década de 70, que Ludlum se tornou escritor a tempo inteiro e viajou imenso pelo mundo inteiro para recolher dados para os seus livros. Paris tornou-se a sua cidade favorita.
     Em muitos dos seus livros, as intrigas multinacionais, quase sempre de direita, nascem de razões económicas. Além de muitos paralelos que estabelece entre os nazis e fanáticos modernos sedentos de poder. Em "The Aquitaine Progression - A Conspiração dos Generais" (1984), a dado momento uma das personagens tem esta linha de raciocinio "Quando o caos se tornar intolerável, é chegada a hora de fazer avançar as forças militares, assumir o controle e inicialmente estabelecer a Lei Marcial". Ou em "The Matarese Circle - O Círculo Matarese" (1979), A CIA e o KGB juntam-se, tal como os Estados Unidos e a União Soviética na II guerra mundial, para lutar contra um círculo de terroristas que conspiram contra as superpotências. A dinastia Matarese regressaria à obra do autor em "The Matarese Countdown", publicado em 1997, no qual alguns membros estão infiltrados na CIA e tentam estabelecer uma nova ordem económica. Alias esta não seria a primeira vez em que o autor revisita a sua obra.
    Em 1980 Robert Ludlum inicia uma série de livros em que um super assassino contratado se confronta, com um seu igual de nome Carlos (supostamente baseado em "Carlos, O Chacal", assassino capturado em 1994) em diversas partes do mundo. Até aqui nada de novo, parece que já lemos isto milhares de vezes, mas Ludlum introduz algo inovador, que torna esta série diferente de tantas outras: O super assassino perdeu a memória e ficou amnésico! assim em "The Bourne Identity - A Identidade de Bourne", o protagonista é encontrado semi-morto e sem qualquer memória de quem é. Vem a descobrir que a CIA lhe criou uma identidade de nome Jason Bourne, cuja missão principal é encontrar e eliminar "Carlos", um assassino profissional, ao mesmo tempo que tenta descobrir qual a sua verdadeira identidade, mas que é traído pelos seus superiores. No segundo livro "The Bourne Supremacy - A Supremacia de Bourne" publicado em 1986, surge em cena um sósia de Bourne que assassina pessoas em Hong Kong com requintes sádicos. Finalmente, em 1990, no terceiro livro da série "The Bourne Ultimatum - O Ultimato de Bourne", o confronto final entre Bourne e Carlos tem lugar na Rússia e só um sairá vencedor. Após a morte de Ludlum, em 2001, os seus herdeiros autorizaram Eric Van Lustbader a dar continuidade às aventuras deste quase alter-ego de Ludlum, cujo primeiro livro (ou quarto como se quiser ler) intitulado "The Bourne Legacy" foi publicado em 2004.
   Autor de inúmeros romances de sucesso quer em nome próprio, como "The Gemini Contenders - Os Gémeos Rivais"(1976 onde a procura de um documento perdido há séculos, caso seja encontrado, pode alterar a história e lançar a civilização num caos; "The Chancellor Manuscript - O Manuscrito Chancellor" (1977) onde se especula se J.Edgar Hoover, criador do FBI morreu de morte natural ou terá sido assassinado por uma organização infiltrada bem dentro do governo dos Estados Unidos; "The Holcroft Covenant - O Convénio de Holcroft"(1978) onde o Quarto Reich aguarda o momento da nascer e apenas um homem pode impedir que isso aconteça,  ou utilizando vários pseudónimos, como "Trevayne - Nos Bastidores do Poder" (1973); "The Cry of the Hallidon" ( 1974), ambos sob o nome de Jonathan Ryder; "The Road to Gandolfo - A Estrada para Gandolfo" (1975), sob o nome de Michael Shepherd. Posteriormente, na década de 80 e 90, alguns destes títulos seriam reeditados em nome próprio. 

    Ludlum, é também autor de dois livros que se tornaram obras-primas da literatura de acção e espionagem: o primeiro é "The Parsifal Mosaic - O Mosaico Parsifal" lançado em 1982. Michael Havelock, funcionário do Departamento de defesa norte-americano, assiste, impotente, à morte de Jenna Karas, que se provou ser  espia do KGB. Dois anos depois, Michael vê-a na estação ferroviária de Roma e dá inicio a uma corrida contra tudo e contra todos para a encontrar. Neste livro ficam patentes o ambiente da guerra fria e possibilidade de guerra nuclear, que caracteriza alguma da obra do autor e a sua aversão ao fanatismo. É um daqueles livros que não se consegue parar de ler.

     A outra obra-prima chama-se "The Icarus Agenda - Agenda Ícaro"  ,publicado em 1988 e é quase um retrato fiel do que se passa nos dias de hoje. Em Masqat, capital do Sultanato de Omã, a embaixada americana é tomada de assalto por terroristas e são feitos reféns. Graças aos conhecimentos que mantém no país, Evan Kendrick, congressista americano consegue a libertação dos reféns , não sem a perda de vidas. Um ano depois Kendrick está prestes a ser nomeado candidato á vice-presidência, quando o seu passado vem a lume e a partir daquele momento. ele é um alvo a bater, não só pelos árabes, como também por assassinos domésticos. O livro trata novamente da temática de fanatismo. Mantém um ritmo imparável, talvez seja o livro de Ludlum com mais acção por capítulo. Apesar das suas mais de 600 páginas, lê-se com muito agrado. É considerado como uma sequela de "O Manuscrito Chancellor", já que são apresentadas personagens neste livro que voltaram a aparecer em "A Agenda Ícaro".
   O seu último foi romance foi "The Prometheus Deception" lançado em 2000 e é considerado o  livro mais profético de toda a sua obra. Na história acontecem uma serie de atentados terroristas envolvidos numa conspiração internacional para restringir os Direitos Civis da população e aumentar a vigilância electrónica por razões de segurança. A ideia é boa: proteger as cooperações e impedir guerras e crimes de acontecerem.  Ludlum deixa um aviso claro: não se deve aceitar como dados adquiridos tudo o que é geralmente aceite como verdade clara, assim como não se deve tomar por verdadeira a palavra dum líder mundial ou até mesmo do Secretário-Geral das Nações Unidas!. Uma vez mais temos o agente, rodeado de inimigos, a lutar contra tudo e todos, incluindo organizações governamentais, a CIA, o FBI, o KGB, e muitos outros.
   Claro que o cinema e a televisão estiveram atentos ao sucesso deste escritor e, com maior ou menor qualidade, transpuseram alguns dos seus livros para o écran:  "The Rhinemann Exchange" (Burt Kennedy, 1977) foi adaptado para televisão, assim como "The Bourne Identity - Memória à flor da Pele" (Roger Young, 1988). Já o cinema soube tirar melhor partido de alguns títulos do escritor: "The Osterman Weekend - O Fim-de-semana de Osterman" (Sam Peckinpah, 1983); "The Holcroft Covenant - O Documento Secreto" (John Frankenheimer, 1985). Mas seria  já depois da morte do autor que viria a melhor adaptação dos livros de Ludlum: "The Bourne Identity - Identidade Desconhecida" (Doug Liman, 2002) com Matt Damon,. A adaptação actualiza a história para o século XXI e põe ao seu serviço toda uma parafernália de efeitos especiais e uma realização dinâmica fazem do actor uma estrela e do filme um sucesso, que levou a que as duas continuações também fossem adaptadas ao cinema. "Bourne Supremacy - Supremacia" e   "Bourne Ultimatum - Ultimato" foram adaptados em 2004 e 2007 por Paul Greengrass, tendo o último obtido um sucesso à escala planetária e ganho três Oscares da Academia.
   Autor de uma obra que redefiniu o género de acção, mestre incontestado da espionagem, tem vindo a ser descoberto por um público novo. Robert Ludlum tinha o dom especial de captar a imaginação dos seus leitores desde as primeiras páginas  e mantê-los absortos na história até ao final, capacidade que, como é sabido, somente alguns é que a têm.


Nota: Todas as imagens que ilustram este texto foram retiradas da Internet
   
   

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Barry Lyndon - Os Quadros de Stanley Kubrick

   
                                                                                                         


      Kubrick sempre quis fazer um filme histórico. Uma biografia de napoleão foi um projecto que ele acarinhou durante muitos anos mas que nunca lhe foi possível realizar porque nunca obteve financiamentos para isso. Herdou "Spartacus" (1960) de Anthony Man, depois deste ter sido despedido pelo produtor do filme. Mas a sua associação a "Personas non gratas" em Hollywood como Kirk Douglas, ou Howard Fast, autor do livro em que se baseia o filme, restringiram-lhe a sua liberdade criativa e levaram-no a ter problemas na distribuição da obra em terras americanas. Em 1975 "Barry Lyndon" acabou por ser a sua única obra histórica.
    Redmond Barry é um jovem Irlandês sem eira nem beira, vive com a mãe viúva e apaixona-se por uma prima que, no entanto, está prometida a um capitão do exército Inglês. Não suportando ser trocado por um oficial britânico, Redmond desafia-o para um duelo e mata-o sendo obrigado a fugir do país começando assim a sua odisseia por uma europa turbulenta em busca da sua própria identidade.
     Baseado num romance de William Makepeace Thackeray,"The Memoirs of Barry Lyndon, Esquire", escrito em 1844, onde se conta a história, as tribulações, provações e a má sorte de um irlandês, contada a partir do seu ponto de vista. "Barry Lyndon", divide-se em duas partes e um epílogo, como se de um livro se tratasse,  passa-se no século XVIII, um período conturbado na história da europa assolada por guerras, palco onde Redmond se vai tentar afirmar. De soldado britânico a jogador de cartas profissional e por fim Lord, mercê de sua inteligência e de um ou outro golpe, umas vezes de sorte outras de azar, a ascensão de Barry é quase meteórica, ao contrário do filme que avança lentamente, sem nunca ser monótono, graças ao perfeccionismo visual e  técnico a que a obra foi sujeita.
 Produção sumptuosa e uma reconstituição histórica rigorosa, aliados a uma fotografia nada menos que fabulosa fazem de "Barry Lyndon" uma obra que não envelhece com o tempo...Kubrick tinha esse dom: fazer filmes que nunca passam de moda!
    A sua realização é, como sempre, genial e inventiva (as marcas fortes de Stanley Kubrick), sem mácula. Utilizando, como já o fizera em "Laranja Mecânica"(1971), uma narrativa em voz off, Kubrick consegue, em tons irónicos por vezes, dramáticos noutras, ilustrar o filme com imagens e cenas que deliciam qualquer cinéfilo que se preze de o ser. Cada imagem é como se fosse uma tela onde o artista (neste caso Stanley Kubrick) pinta (filma) criando cenas de uma beleza tal que faziam inveja a qualquer pintor ou fotógrafo.
Em "Barry Lyndon" Kubrick tira partido de toda a luz natural não usando para o efeito nenhum holofote para iluminar os cenários, nem mesmo nas cenas nocturnas ou de interiores onde usou a luz de velas para filmar o que dá um efeito real, mas ao mesmo tempo sobrenatural e grotesco, das personagens em cena, mercê duma lente especial feita pela NASA e adaptada pelo realizador para utilizar nas câmaras de filmar. Mais um ponto a favor do realizador que ao utilizar esta técnica inovadora, elevou a história da fotografia a outros patamares.
    Para interpretar Redmond Barry, Kubrick chamou Ryan O'Neal, conhecido pelo seu papel em "Love Story" (Arthur Hiller, 1970), um dos filmes-referência da década de 70 do século passado. História de amor entre um rapaz de classe social alta e uma rapariga de baixa condição social e os problemas que se lhes deparam. Ryan O'Neall junta à sua carreira um papel que lhe deu alguma projecção mas que nunca passou disso.
Para o papel de Lady Lyndon, o realizador foi buscar uma ex-top model da revista "Vogue" para a qual Kubrick trabalhara no inicio da sua carreira como fotógrafo e onde conhecera a modelo. Usando a sua beleza algo melancólica, Kubrick consegue alguns dos mais belos planos jamais fotografados: A cena em que Lady Lyndon, completamente abstraída da realidade toma banho semi-nua, ladeada pelas suas duas criadas é duma beleza plástica dificil de igualar.
Utilizando uma banda sonora maioritáriamente de compositores como Haendel, Schubert,Vivaldi, Bach ou Mozart, Kubrick consegue a melhor banda sonora para o seu filme e conferir-lhe o realismo necessário para o tornar credível ao olhar mais incrédulo que possa surgir.
    O trabalho de Kubrick neste filme é, como habitualmente, irrepreensível. Já não há adjectivos que o possam qualificar, apenas podemos repetir o que já foi dito por tanta gente que comentou e comenta a sua obra: um génio absoluto e que muita falta faz ao cinema de hoje.
     De "Barry Lyndon" retemos algumas cenas que são absolutamente inesquecíveis: O prólogo onde a voz off introduz a obra, onde vemos um duelo de pistola e a realização nos enquadra na cena; As cenas de batalha em que Redmond se destingue e onde são apresentadas ambas as perpspectivas
do campo de batalha; A cena do funeral de Byran onde o trabalho de realização e a banda sonora se fundem num momento sublime de cinema: um grande plano dum caixão vai abrindo gradualmente e o tema "Sarabande " de Haendel faz as honras daquela que será talvez a imagem mais marcante de todo o filme: o cortejo fúnebre; O confronto entre Lord Bullington e Barry Lyndon em que o brilhantismo de realização o torna no duelo  mais longo da história do cinema. São cenas assim que tornam este filme num momento único.
    Pode-se também dizer que este filme não surgiu por acaso na filmografia do realizador. Ao aparecer a seguir a "Laranja Mecânica", Kubrick, que nesse filme delapida um futuro pouco radioso à sociedade, quis com "Barry Lyndon", além de fazer o seu filme histórico, dizer que a estupidez humana pode levar àquela situação; por outras palavras, quis dizer que, se a humanidade não aprender com o seu passado (aqui o séc.XVIII, que foi, em termos de guerras, tão mau, como o foi o séc.XX), poderemos muito bem estar perto do tempo da acção de "Laranja Mecãnica". Kubrick era isto mesmo: um visionário capaz de olhar para o passado e criticá-lo assim em "Barry Lyndon", mas também olhar para o futuro e torná-lo tão credível como o presente. Tal capacidade é previlégio só de alguns!
    Nomeado para sete Óscares da Academia, "Barry Lyndon" venceu quatro, todos de categoria técnica incluindo o de Melhor Fotografia que seria um verdadeiro atentado se tal prémio não viesse parar a este filme.
    Filme tantas vezes referenciado na obra do realizador, mas algo ignorado no seio da sua filmografia. Será que se pensou que este filme, tal como "Eyes Wide Shut" (Stanley Kubrick, 1999), nunca seria feito tal era o desagrado do realizador nesta época? nunca o saberemos. O que sabemos é que "Barry Lyndon" é, e será sempre, um filme de Stanley Kubrick, incontestávelmente um dos melhores realizadores de todos os tempos, cuja obra continuará a ser um manancial da sétima arte.
A não perder.

Nota: Todas as imagens e vídeos que ilustram o texto foram retirados da Internet

EMERSON, LAKE & PALMER II

            O trio, depois de um longo período de férias, sentindo-se revigorado, reuniu-se novamente em 1976, nos “Mountain Studios”, em Mo...