quarta-feira, 13 de junho de 2012

Hill Street Blues - ...e a Televisão nunca mais foi a mesma coisa...


                                                               


            Em 1981, a cadeia de televisão Norte-Americana NBC fazia história na cerimónia dos “Emmy’s”, prémios de televisão, entregues anualmente, ao conseguir que, pela primeira vez desde 1949, ano em que começou a cerimónia, uma série, na sua temporada de estreia, recebesse oito prémios, num total de 21 nomeações, incluindo o prémio para Melhor Série Dramática. “Hill Street Blues – Balada de Hill Street”, assim se chamava essa série, viria a mudar radicalmente a face da televisão.
     A produtora “MTM Enterprises”, desenvolveu o projecto  em nome da NBC, encarregando os escritores Steven Bochco e Michael Kozoll de criar  uma possível série televisiva. Dando largas à sua imaginação, os escritores, uma vez que tinham liberdade criativa considerável, criaram uma série de novas ideias que se viriam a tornar fundamentais na produção televisiva futura:
- Os episódios apresentavam várias histórias ligadas entre si, algumas eram resolvidas naquele episódio, outras no decorrer de vários episódios.
- A vida, profissional e privada, das personagens, por vezes colide entre si.
- Cada episódio começa com uma sequência pré-genérico de briefing matinal (“Roll Call”), dado por um Sargento, a que toda a gente (Detectives e Polícias uniformizados) assiste, recebe as suas missões e prepara o seu dia de serviço.
- Todos os episódios são filmados de camera ao ombro, permitindo uma acção e corte rápidos entre as histórias, através duma montagem igualmente rápida. A existência de muito ruído e diálogo em fundo dá o efeito de “quase documentário” e de realidade necessários. Esta técnica foi usada desde o episódio-piloto, produzido em 1980 e inspirado no documentário “The Police Tapes”, realizado em 1977 e no qual os realizadores usavam cameras ao ombro para poderem seguir os polícias no Bronx. Já em 1971 o realizador William Friedkin utilizara parcialmente esta técnica na sua obra-prima “The French Connection – Os Incorruptíveis contra a Droga”.
- A maioria dos episódios termina numa situação doméstica em que as personagens do Capitão Frank Furillo e da Advogada Joyce Davenport, discutem o seu dia de trabalho.
      Inspirada em variada matéria sobre o assunto, tais como: casos processuais, outras séries e romances policiais e de detectives, principalmente o livro de Ed McBain “Cop Hater”, escrito em 1956, “Hill Street Blues” relatava o dia-a-dia duma Esquadra de Polícia situada numa qualquer cidade americana, os problemas com que se deparavam os seus funcionários, a dificuldade, muitas vezes também, a impossibilidade de fazer respeitar a lei e a justiça.  A frontalidade real e brutal com que a série descrevia a vida urbana, a violência (houve quem a considerasse gratuita e desnecessária) e as diferenças sociais existentes na década de 80 foi considerada revolucionária para a época. Embora filmada em locais específicos da baixa de Los Angeles, ou utilizando algumas sequências filmadas em Chicago para o genérico inicial  e também nos estúdios da CBS, nunca se sabe realmente qual a cidade em que se situam os bairros problemáticos onde se passa a acção, o que foi uma decisão inteligente dos criadores tornando a série muito mais abrangente porque se pode situar tanto em New York, como em Los Angeles, ou em qualquer outra grande metrópole dos Estados Unidos.
   A cultura de gangs também foi muito bem explorada ao longo das diversas temporadas. As negociações que aconteciam entre os líderes dos gangs decorriam geralmente na esquadra e tinham tanto de cómico ( o visual e a maneira de falar dos diversos líderes) como de dramático (quando os líderes não se entendiam uns com os outros ou com a polícia e acontecia uma cena de pancadaria). As interações entre polícia e gangs centravam-se à volta do gang “Los Diablos” e a relação difícil, a princípio, depois consolidada através de admiração, colaboração e mutúo respeito entre o carismático líder do gang, Jesus Marinez e o capitão Furillo.
   Ao longo de sete temporadas, os espectadores habituaram-se a conviver com personagens quase familiares: desde o chefe da esquadra de Hill Street, o incorruptível e pouco permissivo Capitão Francis Furillo, passando pelos detectives, polícias uniformizados, pelo negociador Henry Goldblume, o vice-chefe da esquadra Ray Calletano, a Defensora Pública Joyce Davenport, Fay Furillo, a complicada ex-mulher do capitão, Jesus Martinez, o chefe de “Los Diablos”, um dos gangs poderosos da zona, terminando no Sargento Phil Esterhaus, uma figura quase paternal e consciência de todos os que trabalham na esquadra.
O Elenco fixo de Hill Street Blues
  O elenco, composto de 13 personagens  fixas, manteve-se sempre o mesmo até meio da quarta temporada, quando morreu  Michael Conrad, o actor que interpretava o Sargento Phil Esterhaus, a 22 de novembro de 1983.  A personagem ainda apareceu esporadicamente, nas “Roll Calls” matinais que já estavam previamente gravadas, em alguns episódios até fevereiro de 1984, onde faz a sua última aparição, no episódio intitulado “Grace Under Pressure”, que lhe foi dedicado. O episódio foi dos mais vistos em termos de “share” televisivo, não só pela carga emocional que se apoderou de toda a equipa quando o gravaram, como também por conter o mais inesquecível e memorável final de episódio de todas as temporadas: é noite, o capitão Furillo, Ray Calletano, Howard Hunter, Mick Belker, Henry Goldblume, Bobby Hill e Andy Renko, caminham por um beco nas traseiras da esquadra. Na mãos do capitão vai um vaso contendo as cinzas do Sargento. À vez, cada um deles, pega numa mão-cheia de cinzas e atiram-nas contra o vento, dizendo algumas palavras de apreço pelo amigo, cumprindo assim uma última vontade testamentária do falecido que queria que os seus restos mortais permanecessem em Hill Street. Perante um final destes, pouco habitual nesta série, é impossível ficar-se indiferente. A partir deste desaparecimento, a série, que quebrou as regras televisivas, não conseguiu sobreviver ás suas próprias regras, ressentiu-se disso e nunca mais foi a mesma. É como se aquela perda não tivesse solução.
"Let's be careful out there", a inesquecível frase do Sargento Phil Esterhaus
   “Hill Street Blues”, durante as suas sete temporadas, foi nomeada para 98 Emmy’s, venceu 52, venceu também 3 Globos de Ouro  e, entre 1981 e 1984, foi 4 vezes consecutivas vencedora do prémio para Melhor Série Dramática e partilha com “L.A.Law – As Teias da Lei” e “West Wing – Os Homens do Presidente”, o recorde de maior número de elementos do elenco a ser nomeado para Emmy numa única temporada: nada menos que nove!
Série inesquecível, um marco em televisão, a sua influência foi decisiva em séries posteriores como “ER - Serviço de Urgência” (1994-2009), criada por Michael Crichton ou “NYPD Blues – A Balada de Nova York” (1993-2005) do mesmo Steven Bochco e que pode ser considerada como a segunda parte do díptico do criador sobre as forças da lei.
     “24”, a Unidade de Contra-Terrorismo (CTU), e os dias difíceis e intermináveis de Jack Bauer ainda estavam para nascer.

Nota: todas as imagens e vídeos que ilustram o texto foram retirados da Internet


 

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