Drácula, Frankenstein, Lobisomens ou até
mesmo zombies sempre fizeram parte do cinema. Quase desde os primórdios da
sétima arte que o género terror sempre fez parte do imaginário dos
espectadores. O que ninguém estava era preparado para o choque que, em 1973, "O Exorcista" provocou em todo o mundo.
Regan McNeil é uma jovem americana como
tantas outras que vive com a mãe depois dos pais se terem separado. A jovem
começa a ter comportamentos estranhos que a mãe associa ao facto do pai se ter
esquecido do seu aniversário. mas os comportamentos dela tornam-se ainda mais
estranhos e bizarros e a mãe resolve consultar os médicos que, após uma série
de testes e análises, não conseguem encontrar nenhuma explicação lógica para o
que se passa com a jovem. Então alguém adianta a Chris McNeil, a hipótese da
filha estar possuída por algum espiríto pelo que a única solução possível será
um exorcismo.
Realizado
por William Friedkin, que acabou por ser uma escolha do próprio William Peter
Blatty, depois de vários outros realizadores como Arthur Penn, Peter
Bogdanovich, Mark Rydell ou até Stanley Kubrick, terem sido contactados e terem
recusado o projecto. Blatty acabou por se fixar em Friedkin, já que queria
neste filme a mesma energia que o realizador pusera em "French
Connection - Os Incorruptíveis contra a Droga" (1971), o seu filme
anterior, com o qual ganhou o Óscar de Melhor Realizador, um dos cinco que o
filme ganhou, incluindo o de Melhor Filme do Ano. A sua realização, embora algo dura, já que
utilizou durante a rodagem métodos pouco ortodoxos para com os seus actores
(desde agressões verbais até agressões físicas onde chegou ao ponto de
esbofetear um actor para obter dele a reacção necessária para conferir o
realismo à cena), é normal nas cenas em que mostra a impotência da
ciência em explicar o que se passa com Regan e também como as McNeil (mãe e
filha) se relacionam com o Padre Damian Karras, pároco recém colocado, com
remorsos devido ao recente falecimento da mãe. Karras é a pessoa a quem Chris
recorre quando lhe é apresentada a hipótese de Regan estar possessa por um
espírito. Relutante, o padre aceita investigar o que se passa, quando se
conclui o que realmente a jovem tem, o padre nada pode fazer pois necessita da
supervisão de alguém mais experiente. É então chamado o Padre Lancaster Merrin
(Max Von Sydow, no papel mais famoso da sua já longa carreira), que já
sobrevivera a um exorcismo. A partir daqui, o trabalho de Friedkin torna-se
ainda mais intenso e , fruto de uma montagem engenhosa e avançada para a época,
competente e inventivo na famosa sequência do exorcismo.
O argumento de William Peter Blatty é
supostamente baseado numa história verídica,ocorrida em 1949 na cidade de
Cottage no estado de Maryland, com um jovem de nome Roland Doe ,está cheio de
contrastes de ciência versus religião, o que torna a história e posteriormente
o filme ainda mais interessante.
O filme foi um grande sucesso de bilheteira em
todo o mundo, foi nomeado para dez Óscares da Academia,incluindo Melhor Filme
do Ano, tendo sido o primeiro filme de terror da história do cinema a ser
nomeado nesta categoria, vencendo apenas dois nas categorias de Melhor Som e
Melhor Argumento Adaptado.
Como não podia deixar de ser, o sucesso
do filme daria origem a duas sequelas (numa altura em que o termo ainda não se
usava) e outras tantas prequelas: quanto ás primeiras, "Exorcista II - O
Herege" (John Boorman,1977) é francamente mau e habitualmente ignorado
quando se fala desta série; já "Exorcist III - Exorcista III"
(William Peter Blatty, 1990), é diferente: ignora o segundo filme e continua a
história, anos depois, segue outro caminho mas sem nunca perder de vista
personagens e situações que nos reportam para o primeiro filme, é muito
interessante mas, inexplicavelmente, não conseguiu convencer o público.
Quanto às segundas, já a história é
outra: foram feitos dois filmes para contar a história de como tudo começou
sendo que a produção não gostou de um dos filmes, despediu o realizador e
contratou outro para contar a mesma história. O resultado final foram dois
filmes: "Exorcista: O Princípio"(Renny Harlin, 2004) que foi o
segundo filme a ser feito e é muito mau, para não dizer ridículo!; o outro é
"Dominion: a Prequel to the Exorcist" (Paul Schrader, 2004) e é
superior ao seu sucessor.
Lamentavelmente
nenhum, se exceptuarmos "Exorcist III", se aproximou da qualidade do
primeiro, principalmente no tocante a cenas marcantes como a cena da rotação da
cabeça a 360 graus; ou a cena em que Regan se auto-viola com um crucifixo.
O original é o melhor de todos e ficou como uma referência do género e um filme
marcante para tudo aquilo que se fez posteriormente.
Em 2000, foi lançada uma edição intitulada
"Director's Cut - A versão que você nunca viu", onde constam mais 11
minutos de cenas inéditas que apenas completam o que já se conhecia, mostram
mais uma ou duas cenas de Regan já possuída pelo demónio, incluindo uma cena em
que ela desce uma escada como uma aranha e um final diferente em
que, na última cena, já depois da familia McNeil ter partido, o padre Dyer e o
Tenente Kinderman conversam enquanto se afastam da casa que é vista no último
plano e onde se vê uma espécie de "presença" a deslocar-se no quarto
de Reagan a indicar-nos que a casa ainda não estava limpa, abrindo então
caminho para uma possível continuação...
Ao longo dos anos a importância de
"O Exorcista" cresceu consideravelmente e influenciou um manancial de
imitações, mas também inspirou muitos filmes de qualidade, incluindo "O
Silêncio dos Inocentes" (Jonathan Demme, 1991) que levaria para casa cinco
Oscares, incluindo o de Melhor Filme do Ano, tornando-se no primeiro filme de
terror a levar este prémio para casa e seria um dos três únicos filmes da
história do cinema (até ao momento) a levar para casa os cinco prémios
principais da academia: Filme, Realizador, Actor, Actriz e Argumento.
Em 2008,
"O Exorcista" foi considerado um dos 11 mais assustadores
filmes de sempre e a revista cinematográfica "Empire" considerou-o um
dos 500 melhores filmes de sempre. Seja qual for a versão que se veja,
"O Exorcista" continua a ser uma referência obrigatória do cinema e
do género em particular.
Nota: As imagens e vídeos que ilustram este texto foram retiradas da Internet
É de facto curioso, porque O Exorcista é um filme que até nem tem muitas cenas ditas gore e consegue ainda hoje, sobretudo pela ambiência que cria, tornar-se numa obra verdadeiramente assustadora. Esse é um trunfo que provavelmente nenhuma das sequelas que foram feitas (se exceptuarmos o terceiro filme da autoria do próprio William Peter Blatty) conseguiram fazer funcionar.
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