terça-feira, 31 de julho de 2012

O Filme de Ficção Científica II - Os Anos da Afirmação


                        O Filme de Ficção Científica II
                    2.    Os Anos da Afirmação (1960-1969)


     A década de 60 não começou da melhor maneira para o filme de ficção científica. De facto,  depois do boom que foi a década de 50, fizeram-se muito poucos filmes do género nesta década, mas  os que se fizeram, viriam a transformar radicalmente a face do género.
Logo em 1960 “The Time Machine – A Máquina do Tempo”, realizado por George Pal, ainda a sofrer alguma influência das temáticas da década anterior, põe no écran um dos mais famosos livros de H.G.Wells e onde a ficção quase que iguala a realidade, na medida em que enquanto acompanhamos George e a sua viagem ao futuro, passamos por duas guerras e vemos um futuro onde a humanidade se encontra dividida em duas espécies. Grande sucesso de bilheteira, graças a um  tema que sempre apaixonou os cinéfilos,  viria a abrir inúmeras portas para outras obras futuras. Mas a década ainda estava no princípio e muito ainda iria acontecer.  
    Enquanto na América,  a concorrência crescente da televisão, forçava o cinema a fazer filmes de grande orçamento (as chamadas superproduções), a Europa acordava para um novo género de cinema completamente diferente daquilo a que se estava habituado: A “Nouvelle Vague” ou nova vaga. Iniciado em França no final dos anos 50, principio dos anos 60, foi um movimento artístico, contestatário, caracterizado pela juventude dos seus autores, dos quais Jean-Luc Godard, François Truffaut, Alain Resnais ou Claude Chabrol, entre outros, foram os principais mentores. Os dois primeiros haveriam de fazer a sua contribuição  para o filme de ficção científica, comentando e criticando  satiricamente a sociedade. 
      “Alphaville – Une Etrange Adventure de Lemmy Caution – Alphaville” (Jean-Luc Godard, 1965). Um detective privado  americano de nome Lemmy Caution é enviado para a cidade de Alphaville, que fica num planeta distante, onde tem que encontrar uma pessoa desaparecida e libertar a cidade do tirano que a governa.O filme obteria sucesso graças  à sátira que faz dos filmes policiais negros americanos dos anos 40.  Já “Fahrenheit 451 – Grau de Destruição” (François Truffaut, 1966) é um caso diferente. Baseado num romance homónimo de Ray Bradbury, o filme segue a história de um bombeiro solitário,  que vive num mundo onde todos os livros foram destruídos porque o governo teme uma sociedade de livres-pensadores, que começa a questionar a verdadeira natureza da sua missão. Truffaut, além de fazer uma discreta analogia entre o período da queima dos livros na Alemanha, da década de 30  por altura do Nazismo e o McCarthismo histérico que assolara os Estados Unidos na década de 50, faz também  uma censura política e um comentário social abarcando tanto a Europa como os Estados Unidos.
        Mas seria dos Estados Unidos que viriam os filmes que mais iriam influenciar o género e toda a produção que daí adviria. Em 1964 “Dr. Strangelove, or How I Learned to stop worriyng and love the Bomb – Dr.Estranhoamor”. No filme, um general americano da força aérea,paranóico, acredita que os soviéticos conseguiram envenenar as reservas de água dis Estados Unidos e ordena que os bombardeiros americanos se posicionem na União Soviética para ripostar enquanto na Sala de Guerra, governo e militares tentam impedir que aconteça uma catástrofe. Sátira brilhante, pela mão de Stanley Kubrick, aos efeitos da Guerra Fria iniciada na década anterior.
       Mais ousado foi o filme “Fantastic Voyage – Viagem Fantástica” (Richard Fleischer, 1966). Para salvar a vida dum diplomata ferido, uma tripulação num submarino tem de ser miniaturizada e injectada dentro do fluxo sanguíneo para tentar desfazer o hematoma que o faz correr perigo de vida. Ver o interior do corpo humano cativou o público e fez do filme um sucesso relativo granjeando-lhe dois prémios da Academia para Melhor Direcção Artística e Melhores Efeitos Especiais. Ousado foi também “Barbarella – Barbarela” (Roger Vadim, 1968) a dar um toque de erotismo ao género. Num futuro longínquo, uma mulher extremamente sensual é encarregada de encontrar e destruir  Durand-Durand, um inventor maléfico que consegue criar um pecado a todas as horas.Pelo caminho, Barbarela, vai encontrando osmais diversos tipos de pessoas com quem se envolve emocional e fisicamente. O filme foi um sucesso relativo, graças à bonita e sensual actriz Jane Fonda, mas serviu também para prestar homenagem ao lado mais idiota do início da ficção científica.
        Em 1968 o filme de ficção científica estabelece-se definitivamente como  género maior. Dois filmes serão os responsáveis por esta mudança no género: “2001: A Space Odyssey – 2001: Odisseia no Espaço “ e “Planet of the Apes – O Homem que Veio do Futuro”. Em relação ao primeiro, pouco ou nada há a dizer. Trata-se da obra-prima do género, é o filme mais influente da década, uma história muito dificil de se resumir, que  sempre suscitou discussões apaixonadas. Baseado num conto de Arthur C. Clarke, e realizado com mestria por Stanley Kubrick,” 2001”, desde a sua estreia, sempre foi visto como um filme seminal dentro do género e foi o primeiro filme a conter um fundo filosófico que outros filmes nunca tinham tido nem tentado sequer. Incompreendido por muitos, é hoje visto como um dos melhores filmes de todos os tempos.
 Quanto a “Planet of the Apes – O Homem que veio do Futuro”, foi o maior sucesso de bilheteira do género na década, muito graças à sua história de uma nave que se despenha num planeta distante governado por macacos que falam e pensam como seres humanos enquanto estes estão impedidos de falar e são escravizados pelos governantes. Taylor, um dos astronautas, consegue fugir com a ajuda de dois macacos cientistas, renegados, mas o que vai descobrir é uma realidade mais chocante do que aquele mundo invertido. O filme, realizado por  Franklin J. Schaffner, baseado num livro que fora banido da américa na década de 50 porque o seu autor, Pierre Boulle, estava listado nas comissões do senador McCarthy, tornou-se num grande sucesso, abarcou quatro continuações ( o termo sequela ainda não se usava) e uma série de televisão, em parte porque a temática era original e algo medieval no tratamento da acção e das personagens e quase inédito no género..Aqui se percebe como é que o filme se tornou num filme de culto, porque depende muito do trabalho do realizador, que, utilizando paisagens desérticas e as suas formações rochosas, dá ao filme a necessária componente alienígena afastando-nos ainda mais da verdadeira realidade que nos cai em cheio no agora famoso final que é dos mais inesperados e chocantes finais da história do cinema.
A Ficção Científica afirmava-se como um género que estava para ficar.
                                                                              (Continua)

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O Filme de Ficção Científica I - As Primeiras Décadas


                       
                  1.    As Primeiras Décadas (1900-1959) 


                  Desde que o cinema começou,  que se encontra a Ficção Científica em filmes. Definir quais os filmes que pertencem ao género nunca foi uma tarefe fácil, já que não existe nenhuma definição universalmente aceite do que é o género. Existe, no entanto, uma definição que funciona como uma espécie de sumário de todas elas “O filme de ficção é um género que especula e enfatiza o método científico, num contexto social com o sempre presente transcendentalismo da religião e da magia numa tentativa de reconciliar o homem com o desconhecido”.  Esta definição assume que existe uma continuidade entre o empirismo do mundo real e o transcendentalismo do sobrenatural, em que a ficção científica está do lado do empirismo, enquanto o filme de terror e o fantástico ficam do lado do transcendentalismo, embora existam casos em que o terror e a ficção científica  “andam de braço dado”            
            Filmes de ficção científica apareceram cedo, ainda na altura do cinema mudo, tipicamente eram curtas-metragens filmadas a preto-e-branco, por  vezes com alguma tintagem colorida, a temática era tecnológica e por vezes cómica. Em 1902 estreou “Le Voyage dans la Lune – Viagem à Lua”, geralmente considerado o primeiro filme de ficção científica. Realizado por Georges Méliès, utilizou truques fotográficos para mostrar, em três minutos, uma nave que viajava até à lua. A literatura de ficção cientifica serviria de base a muitos filmes do género. Em 1916 “As 20000 Léguas Submarinas” de Júlio Verne foi transformado em filme, a primeira das muitas  adaptações que se iriam fazer. Já em 1910  com “Frankenstein”, baseado no livro  de Mary Shelley e em 1913 com “Dr. Jekyll and Mr.Hide” de Robert Louis Stevenson, o cinema introduziu o conceito do “cientista louco” no cinema. Outro conceito viria a ser introduzido nesta altura,  muito devido ao sucesso obtido por “The Lost World”, em 1925, adaptação do livro de Sir Arthur Conan Doyle, que foi dos primeiros exemplos a usar imagens fotográficas animadas, dando origem aos conceitos de ficção científica de monstros, dinossauros e mundos escondidos.
            Na europa, na década de 20, o filme de ficção científica evoluiu de maneira diferente em relação ao cinema americano. Os realizadores europeus utilizaram o género para fazer previsão e comentário social. Na rússia, o filme “Aelita” (1924) discutiu a Revolução no contexto duma viagem a marte. Outras obras importantes desta altura incluíam “The Cabinet of Dr.Caligari - O Gabinete do Dr.Caligari “ (Robert Wiene,1919), “Paris Qui Dort - Paris que Dorme” (René Clair, 1925), “Luch Smerti” (Lev Kuleschov,1925), entre.outras. Porém, em 1927, na Alemanha surgiu uma obra importante, não só no contexto do cinema europeu, como no contexto do cinema mundial.  Fritz Lang, um pioneiro do cinema e do expressionismo europeu, realiza “Metropolis”, um filme, cuja acção se passa em 2026 e que, além de ser o mais caro filme da altura, apresentava todos os elementos-chave de ficção cientifica: um robot autónomo, um cientista louco, uma sociedade distópica do futuro e cenários altamente futuristas (inspirados na cidade de Nova York) e, posteriormente, face aos acontecimentos que se deram na europa e no mundo, durante a década seguinte, foi considerada uma das grandes obras de antecipação da história do cinema.
            O cinema da década de 30 foi grandemente influenciado pelo advento do som e também pelos efeito da Grande Depressão. Logo em 1930, o fracasso o filme “Just Imagine - 1980”, realizado por David Butler que foi o primeiro filme de ficção científica musical cuja história se passa em 1980 num mundo completamente diferente daquele que existia,   quando a personagem principal, depois de ter sido atingido por um raio, em 1930, é ressuscitado 50 anos depois e descobre que tudo aquilo que conhecera no seu tempo fora substituído por outras coisas. Rebaptizado com o nome de "Single O", é escolhido por um cientista para fazer parte duma expedição de quatro meses a Marte e quando lá chegam descobrem que o planeta está cheia de mulheres cobertas  da cabeça aos pés que fazem números de dança e idolatram um homem pequeno e gordo.  Também o filme britânico “Things to Come - A Vida Futura” (William Cameron Menzies,1936), baseado no livro de H.G.Wells, que projetava o mundo 100 anos no futuro e já previa a II Guerra Mundial, não conseguiu render o suficiente nas bilheteiras e os estúdios tornaram-se relutantes em financiar grandes projetos futuristas. 
       Em vez disso, começam a surgir os filmes -série: produções de baixo orçamento, feitos rapidamente sem grande preocupação a nível de argumento, mas com acção e muito armamento sofisticado. Algumas das séries mais populares desta altura foram a série de filmes sobre “Flash Gordon” ou as atribulações de “Buck Rodgers”, entre outras e continuavam a usar elementos de ficção científica como as viagens no tempo, alta tecnologia, assim como ideias de dominação mundial ou cientistas loucos que iriam estar também presentes na produção cinematográfica da década de 40 e na mais importante criação desta década: a série animada de “Superman”, o super-herói patriota. Apesar de alguma propaganda disfarçada e o facto de alguns heróis de banda desenhada, como “O Capitão América” ou “Batman”, terem ido também combater na II Guerra Mundial, o cinema de ficção científica andou algo adormecido durante os anos de guerra.
            Na década de 50, dois acontecimentos que tiveram impacto nos filmes de ficção científica: o desenvolvimento da Bomba Atómica levou a um interesse redobrado pela ciência, assim como  a ansiedade e medo dos efeitos duma guerra nuclear. Nesta altura começou também o período conhecido como A Guerra Fria e a paranoia da expansão do comunismo nos Estados Unidos. Estes  últimos levaram a um maior incremento de filmes de ficção cientifica, ao longo da década, criando assim uma Época de Ouro de filmes de ficção científica semelhante aquela que acontecera na literatura. 
           Filmes com pequenos orçamentos foram sucessos de bilheteira assim como alguns com orçamentos maiores e efeitos especiais impressionantes, não deixaram de maravilhar um público ávido, como por exemplo “The Day the Earth stood Still – O Dia em que a Terra parou” (Robert Wise, 1951), “The Thing from another World – A Ameaça” (Howard Haws e Christian Nyby, 1951), “The War of the Worlds – A Guerra dos Mundos” (Byron Haskin,1953), “20.000 leagues under the sea – 20.000 Léguas Submarinas” (Richard Fleischer, 1954),  “The Forbidden Planet – O Planeta proibido” (Fred M. Wilcox,1956), Invasion of the Body Snatchers – A Terra em Perigo” (Don Siegel, 1956) ou “On the Beach – A Hora Final” (Stanley Kramer, 1959). 
           Ainda durante esta década criou-se uma espécie de ligação entre os filmes de ficção cientifica e aqueles que foram  chamados “Monster Movies - filmes de monstros" (literalmente traduzido), de que Ray Harryhausen, um dos grandes nomes dos Efeitos  Especiais, foi o grande impulsionador. Usando imagens fotográficas animadas para criar efeitos especiais para alguns dos mais notáveis filmes da época e da ficção cientifica tais como “Them - O Mundo em Perigo” (Gordon Douglas,1954), “The Beast from 20.000 Fathoms - O Monstro dos Tempos Perdidos” (Eugene Lorié,1953),  “It Came from Beneath the Sea - O Octopus” (Robert Gordon, 1955) ou “The Blob - A Bolha Assassina” (Irvin S. Yeaworth,1958), Harryhausen tornou-se num dos nomes incontornáveis da magia cinematográfica.
            Estava a chegar uma nova década, com novos desafios, novas temáticas e também alguma revisão da matéria dada. A Face do cinema de ficção cientifica nunca mais iria ser a mesma.
                                                                                      (Continua)




Nota: As Imagens que ilustram este texto foram retiradas da Internet

quarta-feira, 18 de julho de 2012

De Olhos bem Fechados - O Voyeur em cada um de Nós


                                              


    É hoje um dado adquirido que os filmes do realizador Stanley Kubrick (1928-1999), foram feitos não para a altura em que ele os realizou, mas sim para serem entendidos muito depois da altura em que apareceram. 
   A sua obra nunca foi de modas e muitos dos seus filmes ou apareciam muito á frente  da sua época ("200:Odisseia no Espaço" ou "A Laranja Mecânica", só para citar duas das suas obras-primas), ou surgiam quando os temas já estavam fora de moda ("Nascido para Matar", sobre a guerra do Vietnam ou "Barry Lyndon", sumptuosa superprodução e ainda hoje um dos filmes mais incompreendidos do realizador) e, não raro, suscitavam discussões acaloradas sobre o que se acabara de ver. 
   Com "Eyes Wide Shut - De Olhos bem Fechados", manteve-se esta tradição naquele que será talvez o filme mais enigmático do realizador, principalmente em relação ao final, que dos mais desconcertantes da obra do realizador. A última frase, que Alice Hartford pronuncia com a palavra F.... bem audível, nunca tinha sido dita daquela maneira tão brusca e ao mesmo tempo tão convincente
   William Harford, médico de Nova York, parte numa odisseia nocturna de busca e consolo sexual, depois da sua esposa admitir que teve um sonho erótico em que o atraiçoava com um desconhecido.
  "De Olhos bem Fechados" passa-se em pouco mais de uma noite e um dia e acompanhamos a odisseia de um homem afectado pela confissão de quem ele menos esperava. É o desejo de esquecer, de fazer pagar na mesma moeda, de quem fica abalado por aquilo que ouviu, que o leva a vaguear por uma Nova York invernal, cheia de tentações, mas também perigosa.
  O filme tem também um pouco de voyeurismo (tão ao gosto de Kubrick!) principalmente a partir do momento em Bill Harford toma conhecimento, através do seu amigo Nick Nightingale, das festas privadas onde todas as pessoas estão mascaradas e prácticam sexo. Ao acompanharmos Bill, tornamo-nos cúmplices dele e, por acréscimo, de Kubrik.
   Não é qualquer actor ou actriz que suspende a sua actividade por mais de um ano para se dedicar única e exclusivamente a um só projecto. Eles fizeram-no e ganharam a aposta.Tom Cruise e Nicole Kidman têm aqui desempenhos acima da média. Kubrik explora as suas potencialidades ao máximo: é nítido o gosto com que o realizador filma Nicole Kidman/Alice, mostrando toda a sua sensualidade, mesmo num registo algo secundário, assim como o Bill de Cruise consegue fazer-nos esquecer outras personagens interpretadas pelo actor  e mostrar que, quando quer,até consegue convencer e mostrar que tem talento,  e o filme ganha com isso.
     O empenho dos actores foi tal que as suas carreiras ganharam novos fôlegos. Salienta-se também a prestação excepcional, embora secundária, de Sydney Pollack, num papel especialmente criado para ele, já que tal personagem não existe no romance original e surge aqui como representando uma certa sociedade, uma certa riqueza e um prestígio a que Bill Hartford anseia pertencer mas que não consegue alcançar como Ziegler lhe explica perto do final e ficamos com a ideia de que Kubrick criou aquela personagem para representar o pior de Bill e, num sentido mais lato, o pior de cada um de nós.   
   Stanley Kubrick baseia o seu filme no livro de Arthur Schnitzer "Traumnovelle", escrito em 1926, cuja acção se situa no início da década de 20 em Viena de Austria, mas que o realizador actualizou para a Nova York da década de 90.  Este era um projecto hà muito tempo acarinhado pelo realizador. O seu perfeccionismo é, como em toda a sua obra, obsessivo, genial mesmo.
  
O uso da cor nas suas formas primárias, cada uma com o seu simbolismo, é simplesmente espectacular: o vermelho representa a tentação e o sexo; o amarelo significa traição; o azul simboliza medo e ao mesmo tempo perigo. A fotografia notável é um constante desafio, é a própria cidade, através da lente do realizador,  do ritmo lento, as figuras cuidadosamente compostas e os movimentos deslizantes da câmara que nos convidam a entrar em cena. O próprio realizador, na sua breve aparição (quando Bill conversa com Nick no café Sonata, um dos elementos do casal que se encontra lá é Stanley Kubrick) estende-nos esse convite. 
   O filme atinge o seu ponto máximo na cena iniciática e na orgia sexual que se lhe segue. De certa maneira, os rostos ocultos por detrás das máscaras podem, ou não simbolizar as máscaras que todos usamos na Sociedade ou pode ser também  uma imagem  simbólica, como se fosse um espelho, mais negra, da  fachada de Victor Ziegler, em oposição à festa de natal que acontece no início do filme. Uma vez mais, Kubrick nada nos diz, deixa ao critério de cada um o que pensar e apenas nos aponta um caminho: seguir em frente.  
  O seu (nosso) voyeurismo é intenso e não se consegue desviar o olhar. A câmara de Kubrik passeia-se pelos corredores da mansão e provoca-nos de tal maneira que, no final, tal como Bill Harford, estamos prontos a sofrer as consequências do seu (nosso) acto. Verdadeiramente genial e sublime o trabalho de realização.
    Estreado em 1999, meses depois da morte do realizador, “De Olhos bem Fechados” não ficou isento de alguma polémica em relação à carga sexual que emana, levando a que, nos Estados Unidos, fossem cortados alguns minutos à cena orgiática e no Canadá a cena foi remontada para, em ambos os países, evitar uma classificação de “X”, aplicada aos filmes  pornográficos. Apenas na Europa, na Austrália e na América do Sul é que o filme estreou sem qualquer corte ou remontagem, mantendo intacta a cena.
   Filme-testamento de um realizador que, com a sua breve obra escreveu inúmeras páginas na história da sétima arte e elevou o cinema a patamares nunca antes alcançados.
Inesquecível!

Nota: As imagens e vídeos que ilustram este texto foram retiradas da Internet

EMERSON, LAKE & PALMER II

            O trio, depois de um longo período de férias, sentindo-se revigorado, reuniu-se novamente em 1976, nos “Mountain Studios”, em Mo...