4. O Futuro (1980
-….)
No seguimento do sucesso de filmes como
“Star Wars”, Star Trek”, ou “Alien”, a ficção científica tornou-se num género
rentável, e, não tardou que todos os grandes estúdios agarrassem todo e
qualquer projecto que estivesse disponível e o produzissem, que foi o que acabou por marcar uma parte da
década de 80. A partir de 1980, a
distinção que existia entre ficção científica, fantasia e o filme de superheróis,
esmoreceu emgrande parte graças á influência de “Star Wars”.
Desde 1980 que os filmes do género, fossem do agrado ou não dos critícos, passaram a ser ignorados, em festivais
e outros eventos, como a Cerimónia Anual dos Óscares, excepto em categorias técnicas,
o que não esmoreceu a vontade do público de ver mais e mais filmes de ficção e
cada vez mais interessantes em termos técnicos.
Em 1982, a Walt Disney, embalada com o sucesso
obtido por “Star Trek”, produz “Tron” (Steven Lisberger), com a acção
praticamente toda passada dentro dum computador, o seu visual arrojado para a
época e tendo sido dos primeiros filmes de estúdio a fazer um uso extensivo de
imagens gráficas geradas por computador, foi um sucesso enorme entre público e
a critíca e serviu como rampa de lançamento para a Disney se tornar um dos
grandes estúdios de cinema.
Também em 1982, surgiram dois filmes que iriam
ser decisivos para esta década e também para as seguintes. O primeiro foi
“Blade Runner – Perigo Eminente”, realizado por Ridley Scott e, longe de
apresentar um universo radioso, ordenado e simples, apresenta-o como sendo
escuro, sujo e caótico e apresenta andróides como sendo hostis e perigosos.
Recebido com algum desinteresse por parte da critica, mas com uma correspondência
positiva por parte do público que se sentia curioso com esta abordagem estilo
policial negro dos anos 40 e 50 e também graças aos néons com que o realizador,
vindo da publicidade, enche o écran e também o olho do espectador, o filme foi
ganhando um estatuto de culto que perdura ainda hoje.
O segundo filme é completamente diferente do
primeiro. “E.T. the Extra-Terrestrial – E.T. – O Extraterrestre”, realizado por
Steven Spielberg e conta a história da amizade entre um pequeno ser
extraterrestre que é deixado para trás pelos companheiros quando a sua nave tem
de partir precipitadamente e um rapaz chamado Elliott. Aqui, os extraterrestres
são amáveis e benignos, em contraste com o filme de Scott. A história era tão
cativante, já que era o prolongamento dum sonho de infância do realizador que
tornava assim real o seu encontro com extraterrestres que já apresentara em
“Encontros Imediatos do Terceiro Grau” (1977), tornando o filme um verdadeiro
filme para toda a família e o
género descia assim ao nível familiar. Foi o maior sucesso de bilheteira, da
década, como também, durante alguns anos, o maior sucesso da história do cinema.
O género superprodução também se tentou impor
na ficção científica, mas os únicos esforços nessa vertente foram
“Flash Gordon – Flash Gordon , o filme” (Mike Hodges, 1980), nova transposição
para o grande écran das aventuras da personagem criada por Alex Raymond; “Dune
– Duna” (David Lynch, 1984), uma aventura da idade média passada no futuro e
baseada no primeiro livro duma série de romances escritos por Frank Herbert. Ambos
foram verdadeiros fracassos na bilheteira, assim como “2010 – O Ano do
Contacto” (Peter Hyams, 1984), tentativa de fazer uma sequela de “2001:
Odisseia no Espaço”, baseada também num livro de Arthur C.Clarke, mas que
também não venceu nem convenceu nas bilheteiras, o que levou os produtores a
não querem mais investir em adaptações cinematográficas.
O género viria ainda a ver boas contribuições
até ao final da década, em filmes como “Terminator – Exterminador Implacável”
(James Cameron, 1984) onde um robot-assassino vem do futuro até ao presente
para matar a mãe do futuro líder da resistência humana, que, por seu lado envia
um seu soldado para proteger a sua mãe; “Robocop – O Policia do Futuro” (Paul
Verhoeven, 1987), em que um protótipo de policia-robô é utilizado pelas forças
da ordem na Detroit do futuro; “Back to the Future – Regresso ao Futuro”
(Robert Zemeckis, 1985), em que, acidentalmente, um jovem viaja até ao passado,
conhece os seus futuros pais e a sua mãe apaixona-se por ele. Alguns destes
filmes foram verdadeiros sucessos de bilheteira mundiais e firmaram a
constelação do género ficção científica.
A década de 90 viu surgir um subgénero
literário conhecido como CyberPunk, assim como a rede mundial, vulgarmente
conhecida por internet e esta criou um novo subgénero dentro da ficção
científica que deu origem a vários filmes, uns melhores, outros piores. Assim
surgiram títulos como “The Lawnmower Man – Realidade Virtual – A Cobaia” (Brett
Leonard, 1992) e “Virtuosity – Assassino Virtual” (Brett Leonard, 1995) cujo
tema principal girava à volta das ameaças do interface dum computador humano;
“Total Recall – Desafio Total” (Paul Verhoeven, 1990) ou “Johnny Mnemonic – O
Fugitivo do Futuro” (Robert Longo, 1995), em que as personagens principais têm
as suas memorias alteradas para interfaces semelhantes.
Com o avançar de década, os computadores
começaram a ter uma importância cada vez maior tanto nos efeitos especiais como
na produção de filmes. Há medida que o software se tornava mais sofisticado,
mais desenvolvidos se iam tornando os Efeitos Especiais e cada vez mais
complexos, permitindo fazer melhoramentos em produções mais antigas e produzir
efeitos incríveis em novos filmes.
Mas foi no final da década que surgiu o filme
que iria influenciar o género no século XXI: “Matrix” (Lana e Andy Wachowski,
1999) que nos conta a história duma máquina criada ao nível planetário e que
mantém a humanidade virtualmente presa nas suas entranhas e dum grupo de
humanos que, “acordado” para a realidade, tenta combater e destruir as máquinas. Enorme sucesso de bilheteira, graças em grande parte ao
argumento inteligente escrito pelos irmãos Wachowski, inspirado em algumas
obras de ficção científica, que mexe com uma das linhas mestras da ficção
científica: a dominação por outros seres, embora aqui esse medo seja de origem
humana, não deixa de ser uma temática diferente para o que contribuiram os
efeitos especiais bastante evoluídos para a época. Vencedor de quatro Oscares da
Academia e outros prémios internacionais, “Matrix” e as suas sequelas, foram
decisivos para ficção científica no século XXI.
Nos primeiros anos do século XXI,
estranhamente, os filmes de ficção cientifica afastaram-se das viagens
espaciais e começaram a predominar os filmes de fantasia, de que a trilogia
“Lord of the Rings – O Senhor dos Anéis” (Peter Jackson, 2001-2003) foi o
melhor exemplo. A fantástica adaptação do universo de J.R.R. Tolkien foi um
triunfo absoluto em todos os campos e vencedor dum total de 17 Oscares da
Academia em 30 nomeações e inúmeros outros prémios, entrou para a história como
sendo o primeiro filme do género fantástico a ganhar o Óscar de Melhor Filme do
Ano.
A ficção científica volta, nestes primeiros
anos do novo século, a ser uma ferramenta de comentário politico em filmes como
“A.I. – Inteligência Artificial” (Steven Spielberg, 2001) onde se questiona os
perigos do materialismo nos dias de hoje; “Minority Report – Relatório
Minoritário” (Steven Spielberg, 2002) que subrepticiamente questiona os poderes
policiais, a privacidade e as liberdades sociais nos Estados Unidos do futuro.
Em fundo, claro, está presente o impacto do 11 de Setembro de 2001.
Mais recentemente, “Avatar – Avatar” (James
Cameron, 2009), veio revolucionar o género ao ser inteiramente rodado em 3D, um
estilo que tinha estado então em voga na década de 50 do século passado. A
história, de uma corporação multinacional mineira a querer colonizar um
planeta, é banal e tem uma semelhança extraordinária com os tempos do
colonialismo e alguma proximidade com a guerra do Iraque. O resultado é que foi
estrondoso já que filme bateu todos os recordes de bilheteira no mundo inteiro.
Seja como for, o filme de ficção científica, ao
contrario de outros géneros como o Musical ou o Western já desaparecidos,
apesar de um ou outro exemplo cinematográfico tendente a ressuscitá-los, veio
para ficar e não se antevê que desapareça rapidamente já que está em constante
mudança e o que hoje é sucesso, amanhã pode já não ser.
Nota: as imagens que ilustram o texto foram retiradas da Internet