segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O Quarto Kennedy - Uma ficção quase real




Há livros que só pelo simples facto de terem sido escritos em determinada época, acabam, mais tarde ou mais cedo, quer pela narrativa, ou pela altura em que surgem, merecer alguma atenção.
   
Em 1991, Mário Puzo (1920-1999), escritor americano, publicou "The Fourth K - O Quarto Kennedy", um romance sobre política e abuso de poder que, alguns anos após a sua publicação, se viria a revelar quase profético.
   

   A acção passa-se num futuro próximo. Na Casa Branca, Francis Xavier Kennedy, presidente dos Estados Unidos e sobrinho de John, Robert e Edward Kennedy, enfrenta a maior crise da sua carreira. Teresa, a sua única filha, foi raptada por terroristas que estão a fazer exigências inaceitáveis. Em Roma, na Semana Santa, o Papa é assassinado por um grupo de extremistas, ao mesmo tempo que dois cientistas ameaçam a nação com um engenho nuclear conservado em lugar secreto. Rodeado de conselheiros que lhe são extremamente leais e de Helen Du Pray, a primeira mulher vice-presidente dos Estados Unidos, tentam encontrar a melhor solução para esta crise e todos têm consciência do risco de assassínio que paira sobre todas as presidências dos Kennedy. Quando os acontecimentos se precipitam e Teresa é assassinada e uma bomba nuclear explode em Nova York, Francis Kennedy decide agir, sem olhar ás consequências dos seus actos, nem que isso implique entrar em conflito com quem realmente manda no país e serão esses mesmo que tomam a decisão de o destruir.
   
Mario Puzo 
   Mario Puzo, que em "O Padrinho"(1969), "O Siciliano" (1984) e em "O Último dos Padrinhos"(1996) retratou o universo da Mafia, volta-se agora para o mundo da política. Puzo usa o seu profundo conhecimento dos mecanismos ocultos do poder e daquilo que leva os homens a realizar acções desesperadas. Através de cenas de horror inesperado e quase brutal e de momentos de grande intensidade, "O Quarto Kennedy" desenvolve-se ao ritmo alucinante de um projéctil a caminho do seu alvo.
   
    Dez anos depois da sua publicação, a 11 de Setembro de 2001, a cidade de Nova York sofre dois atentados terroristas que resultam na destruição das Torres do World Trade Center e mais de 3000 mortos, num dia negro para o mundo e principalmente para a América. De repente, sem saber porquê, apercebemo-nos quão assustadoramente real pode ser a ficção.

   Tendo em conta que Puzo escreveu o livro muito antes do 11 de Setembro, percebe-se que a sua presciência é enorme, já que a narrativa é assustadora, directa e chocante nos paralelismos que se estabelecem entre aquela ficção e os acontecimentos que se passaram não só nesse dia como nos meses que se seguiram. As decisões que Kennedy toma, em destruir o Sultanato de Sherhaben, após a morte da filha na ficção, são em muito semelhantes aquelas que foram tomadas na realidade e que levaram ao ataque ao Iraque; também a explosão nuclear, quando acontece, muda dramaticamente o curso da acção, já que o presidente vai ao Congresso dirigir-se ás duas alas, Democrática e Republicana, enfrentando a possibilidade de exoneração (a fazer lembrar os escândalos da presidência de Bill Clinton), mas ao impôr a Lei Marcial no país, ele consegue convencer os seus maiores antagonistas a apoiá-lo no que quer que queira fazer. Aqui a obra mostra um pouco do que é o Poder Absoluto com todas as suas consequências e Puzo diz-nos que caminhamos perigosamente para esta situação.
   
   A América que Puzo nos mostra, é uma América que não é muito diferente daquela que existe hoje, onde ainda são as grandes fortunas que tudo controlam desde os meios de comunicação ao próprio poder seja ele jurídico, económico, social e se encarregam de escolher, fazer eleger e controlar quem está na Casa Branca ( no livro estão representados pelos membros do Clube Sócrates, que é o verdadeiro inimigo do presidente Kennedy). A única diferença da obra para realidade é a existência de uma personagem conhecida como "O Oráculo", com cem anos de idade e que todos consultam em busca de opiniões e conselhos, que funciona como uma espécie consciência de cada personagem e, numa perspectiva mais abrangente, da obra.
   
   Mario Puzo inventa um história em que as personagens, as situações, o enredo e os subenredos se misturam numa tapeçaria, que só um autor assim consegue fazer, tantas que são as voltas e reviravoltas na acção que o leitor se sente como se estivesse a andar numa montanha russa.
Se substituirmos os acontecimentos da ficção por acontecimentos reais que a história registou em anos recentes, então ficamos com uma obra de ficção quase proféctica. 
Será mesmo assim?


Nota: as imagens que ilustram o texto foram retiradas da Internet


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