sábado, 16 de março de 2013

Gran Torino - A Excelência de um Autor




   Ao longo da já centenária sétima arte, muitos foram os filmes que trataram o tema da ocupação progressiva das zonas suburbiais das grandes cidades, da integração de outros povos nos países de acolhimento. "Gran Torino" é mais um exemplo dessa temática.
   Walt Kowalski é o último americano residente no seu bairro, os seus antigos vizinhos foram-se embora ou faleceram e é um enorme tristeza e nostalgia que ele vê o seu bairro perder a identidade. Mas nem as tentativas dos seus mais recentes vizinhos, emigrantes tailandeses, de quererem ser seus amigos, o irão fazer ceder com facilidade. Então um dia tudo muda...
Os Hmong
   O argumento, escrito por Nick Schenk, remonta aos anos 90 do século passado. Schenk , na altura trabalhava e vivia no Minnesota quando ouviu pela primeira vez falar do povo Hmong que durante a guerra do Vietname se tinha juntado ao Vietname do sul e aos seus aliados contra o Vietname do norte. Quando os americanos retiraram do Vietname, eles  foram parar a campos de refugiados ficando á mercê dos norte-vietnamitas. Anos mais tarde, já como argumentista, Schenk  queria  escrever uma história em que um veterano da guerra da coreia, ao ficar viúvo, iria lidar com as mudanças na sua vizinhança. Decidiu então colocar uma família Hmong na porta ao lado do viúvo dando assim uma certa originalidade e credibilidade ao argumento e criar um choque cultural de proporções quase bélicas. Criada a linha narrativa por Schenk e Dave Johannson, o primeiro desenvolveu a história e vendeu-a depois à Warner Bros.
   A rodagem começou em Julho de 2008 e demorou cerca de cinco semanas até estar completa. Schenk disse que o conceito de que o produtor  faz alterações no argumento final, não aconteceu e que a única coisa que mudaram no seu argumento foi a localização que passou a ser em Detroit em vez de Minneapolis.
   Realizado pelo veterano Clint Eastwood, que também interpreta Walt, o velho resmungão, antipático, pouco cuidado com as palavras. Ele não é amigo de ninguém (exceptuando o barbeiro); o próprio padre da paróquia, que prometeu cuidar da sua espiritualidade, não se consegue entender com Walt, nem os seus familiares querem saber dele. O seu duplo trabalho neste filme é louvável. 
   A realização é magnifíca. Clint filma de uma maneira séria, os  planos são sóbrios, realistas. É assim que se devia filmar. Eastwood não perde tempo com pormenores que só tornariam o filme pesado e aborrecido.
   Mas o que é verdadeiramente admirável neste filme é a interpretação do actor. Clint agarra o papel e interpreta-o de uma forma que nunca havíamos assistido na sua carreira. O espectador começa por achá-lo a coisa mais antipática que alguma vez se viu, mas, ao longo do filme, mudamos de opinião. A partir do momento em que se começa a operar a mudança, o filme torna-se admirável, principalmente, devido á interpretação do actor. 
   Eastwood tem, como se sabe, uma grande experiência como actor fruto duma longa carreira muitas vezes dividida com a de realizador e para ele, contracenar com um grupo de Hmong com pouquíssima, ou nenhuma experiência, foi um desafio. O actor-realizador, para os pôr á vontade, sem lhes dizer nada, muitas vezes filmava os ensaios e quase nunca dizia a palavra Acção”, assim a maior parte das cenas resultava em pleno, “foi muito divertido trabalhar com aquele grupo de actores inexperientes assim como foi interpretar aquele velho antipático e filmar um argumento que é, no minímo, estranho”.
   Muito se especulou sobre o facto desta interpretação ser a última vez que veremos o actor neste papel. Eastwood nunca confirmou tais especulações, mas, se assim fosse, constituiu a súmula de todas as personagens marcantes que o actor interpretou na sua carreira. Assim vemos nela traços de "O Homem sem nome"  de  “A Trilogia dos Dólares” de Sergio Leone (1964-66);  de Harry Callahan de “Dirty Harry – A Fúria da Razão” de Don Siegel (1971); de Josey Walles em "O Rebelde do Kansas” de Cint Eastwood (1976) e de William Munny de “Imperdoável” de Clint Eastwood (1992) e facilmente percebemos porque é que Clint quis interpretar esta personagem. O Actor  quis resumir todas as suas personagens mais queridas numa só e, com ela, fechar com chave de ouro uma carreira magnifica. A cena em que Walt chega ao esconderijo do gang Hmong é  carregada de simbolismo e representa  esse mesmo fechar de carreira.
   “Gran Torino” estreou a 9de janeiro de 2009 nos Estados Unidos e foi recebido com grande entusiasmo quer pelo público, quer pela crítica.
    Na  primeira semana de exibição o filme rendeu  mais de 29 milhões de dólares e, no final do ano, as receitas  ultrapassavam os 270 milhões de dólares no mundo inteiro e o filme foi considerado um dos dez melhores filmes de 2008. 
   A interpretação de Eastwood foi muito elogiada e ganhou mesmo o reconhecimento dos seus pares que lhe deram o prémio de Melhor Actor na categoria e inúmeros outros prémios em diversos certames e festivais. Foi, no entanto, ignorado nos prémios de Academia, não tendo o filme sido nomeado para um único Oscar! Mas fez-se alguma justiça fora dos Estados Unidos, já que o filme foi premiado em diversos  festivais europeus , principalmente em frança (César de Melhor Filmes Estrangeiro), em itália (prémio David di Donatello para Melhor Filme Estrangeiro) ou ainda vários prémios, quer para o filme, quer para o seu actor e realizador em diversos festivais de cinema  no Oriente.
   Em 2009, “Gran Torino”, foi seleccionado para figurar no “American Film Institute” como um marco cultural da sétima arte e Clint Eastwood foi  considerado, pela mesma instituição,  Mestre de Cinema, como Actor, Produtor e Realizador.




Nota: As Imagens e video que ilustram este texto foram retiradas da Internet

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