O Tempo passa sem parar, como um rio que corre em direcção ao mar, dissipa-se nas brumas da Memória colectiva... É o Tempo que serve a memória ou é a memória que serve o Tempo?
sexta-feira, 24 de maio de 2013
Battlestar Galactica – Odisseia Espacial em Televisão II
- Regresso ao Universo
(1980)
As
imagens finais de “A Mão de Deus”, o
último episódio da primeira temporada de Galactica, mostravam-nos uma
transmissão, em más condições, a ser recebida num monitor e nela conseguia-se
perceber os contornos duma nave a poisar e ouvia-se uma comunicação,
entrecortada por estática, cuja voz pronunciava o seguinte “Base da
Tranquilidade…a Águia aterrou!” a imagem
congelava e começava o genérico final.
Embora
se soubesse antecipadamente que este era o último episódio, algo, naquelas
imagens, deixava antever o contrário. O público, fiel, interrogava-se: que
imagens eram aquelas que a Galactica acabara de capturar? Será que estariam a
receber uma comunicação de longa distância? Que nave era aquela? O que é que
aquela voz quereria dizer? Com quem estaria a falar? O que era a Base da
Tranquilidade? Parecia estar destinado que nenhuma destas perguntas iria ser
respondida.
Mal
se soube do cancelamento da série, a ABC
começou a receber cartas de telespectadores que queriam que a série fosse
reposta. Protestos destes eram pouco comuns nesta época, mas
revelaram-se decisivos já que tal
campanha em favor da série, levou a que os responsáveis da estação repensassem
as razões do cancelamento. Após alguma deliberação, entre avanços e recuos, os
responsáveis da ABC reuniram-se com Glen A.Larson para definirem um possível
regresso da série, mas este teria de ser modificado e num formato menos
dispendioso.
Com
luz verde da ABC, Glen A.Larson e Donald P.Bellisario, co-argumentista e
realizador de vários episódios da primeira temporada, decidem que a nova série
se passará cerca de 5 anos depois dos eventos de “A Mão de Deus”. Este espaço
de tempo, permitiria que se eliminassem
algumas personagens consideradas superfluas, como o Coronel Tigh, braço direito
de Adama, Athena, filha de Adama, Cassiopeia, Boxey, entre muitos outros que se
haviam tornado familiares ao longo da série original. As únicas personagens que
iriam transitar seriam: O Comandante Adama, Boomer, Apollo, Starbuck e o Conde
Baltar. Este último, depois de cumprir uma sentença por ter traído os seus
semelhantes, era expiado e seria agora Presidente do Conselho
dos Doze.
A
ideia principal seria que “A Galactica” chegaria á terra no presente e esta não
estaria preparada para se defender dos
Cylons, Adama decidiria então dirigir-se para outro ponto do universo de modo a
afastar os Cylons do planeta. Baltar, no entanto, sugeria utilizar-se a
tecnologia que permitia viajar no tempo e assim alterar a hustória da terra de
modo a que esta estivesse apta a enfrentar as máquinas mortíferas. O Conselho
recusaria e Baltar roubaria uma nave e viajaria até ao passado para levar o seu plano avante. Semanalmente,
haveria “Uma Missão no Tempo”, levada a
cabo por Apollo e Starbuck a tentar apanhar Baltar, impedir que este
alterasse a história terrestre, com
Apollo sempre num período diferente da história
e Starbuck, viajando para o passado e para o presente, para poder ajudar
o seu amigo. A ABC gostou da ideia e autorizou a realização do episódio-piloto.
Dr. Xavier
Lorne
Greene (com uma barba grande, que, não é preciso ser um especialista para
isso, se percebe logo ser falsa) e Herb Jefferson, Jr. (Boomer, agora promovido
a coronel e braço-direito de Adama), aceitam regressar aos seus papeis,
mas Richard Hatch e Dirk Benedict
mostraram-se indisponíveis para regressar. O primeiro recusou porque não tinha
a certeza de qual seria o seu papel
agora que tudo ia mudar e algumas personagens iriam desaparecer; o segundo
estava indisponível. Foi então que perante
este retrocesso, toda a estrutura,
entretanto planeada, para a nova série foi alterada. A acção passa-se agora
cerca de trinta anos depois dos acontecimentos da primeira temporada. São
criadas novas personagens como Troy (para substituir Apollo), O Tenente Dillon
(para substituir Starbuck); assim como o inquietante Doutor Xavier (Richard Lynch, num registo habitual na sua carreira), como o vilão de
serviço.
Com
a acção situada no ano de 1980 e uma geração depois da série original, “A
Galactica” e a sua frota chegam á Terra, apenas para descobrir que o planeta
não é tão avançado cientificamente como era de esperar nem é capaz de se
defender dos Cylons, nem pode ajudar a nave de combate. É então decidido que
equipas de colonos vão ajudar incognitamente membros da comunidade cientifica
de modo a tornar a terra mais tecnologicamente avançada. Mas existe quem pense que
esta decisão é errada e pretenda acelerar o avanço tecnológico, nem que para
isso seja necessário viajar no tempo, até ao passado e alterar o curso da
História.
Depois
do episódio-piloto ser filmado e visionado, a estação mostrou-se desagradada
com os aspectos das viagens no tempo que seria então a premissa principal de
cada episódio (como inicialmente planeado) com os guerreiros coloniais a
perseguir o Dr.Xavier em diferentes períodos da história. Ainda
antes de estrear, os criadores da série veem-se obrigados a abandonar a
ideia das constantes viagens no tempo,
por imposição da ABC. Ultrapassado este
pequeno contratempo, a série estreou no dia 27 de janeiro de 1980.
Ao
longo da série, são explicados os destinos de algumas personagens da série
original: Apollo teria morrido; Starbuck ter-se-ia perdido no espaço no decurso
duma missão; ficamos a saber que o Capitão Troy
é, na realidade, Boxey; Baltar, tal como
Adama lhe prometera em “A Mão de Deus”,
aparentemente foi abandonado num planeta com condições de sobrevivência,
foi salvo e é-nos apresentado como o Comandante Baltar, chefe
supremo da frota Cylon que persegue os humanos. De outras personagens, como
Athena, Cassiopeia ou até o Coronel Tigh, nunca se chega a saber o que
aconteceu. É como se nunca tivessem existido e, quando assim acontece, é
lamentável, já que algumas destas personagens desempenhavam um papel importante
na série original.
Os
fracos índices de audiência que a série obteve, levaram ao seu cancelamento ao
fim de apenas dez episódios!, muitos dos
quais eram histórias múltiplas, com várias situações a decorrer o que apenas
serviu para baralhar os espectadores, nunca conseguiram despertar o interesse
do público e até os actores começavam a revelar algum cansaço das personagens,
arrastando até ao limite as suas prestações. O último episódio, intitulado “O
Regresso de Starbuck” com a participação especial de Dirk Benedict ( e também o mais interessante de
todos), foi uma tentativa de reanimar a série e arrancar algum “share”
televisivo, mas não foi suficiente. Um décimo-primeiro episódio, que seria uma
continuação do anterior, ainda foi
escrito por Larson, mas a série foi cancelada durante a produção desse episódio
e este nunca foi terminado.
Depois
do cancelamento da série, em maio de
1980, apareceu nos cinemas, na Europa, Nova Zelândia e Austrália, um filme
intitulado “Conquest of the Earth”. Editado a partir de episódios da série
“Galactica 1980” (nome pelo qual ficou conhecida esta série), e cenas não
aproveitadas na série, editadas de modo a tornar compreensível o filme. Apesar
de mais esta tentativa de revitalizar a série, nada havia a fazer.
Pela
segunda vez, em pouco mais de um ano, a
série “Battlestar Galactica” “morria”
pelas mesmas razões que haviam estado na origem do cancelamento da série
original. Desta vez a ressurreição teria de
esperar 23 anos até acontecer.
(continua)
Nota: As imagens e vídeo que ilustram este texto foram retiradas da Internet
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