quarta-feira, 31 de julho de 2013

As Confissões “de uma espécie de Escritor”





   
O dia 19 de abril de 2013 marcou a vida do artista. Foi nesse dia que a literatura viu nascer mais um escritor, ou melhor, uma espécie de escritor. Foi precisamente nesse dia, no café “Saudade”, em Sintra, mais ou menos, por volta das 22 horas que essa espécie de escritor nasceu. Mas antes de  chegarmos  a esse dia e ano, precisamos de recuar uns bons tempos para percebermos o trajecto que esse artista fez.
   Os primeiros sinais duma grande vontade de contar histórias surgiram por volta dos 10 anos de idade, depois duma passagem normal pela primária, onde teve que aprender de tudo um pouco: desde aprender os números, a contar, a fazer contas de somar, dividir, multiplicar e subtrair, até saber  os aparelhos do corpo humano e suas funções; desde saber os nomes de todos os reis de Portugal  até saber as províncias todas de Portugal, as serras, os rios, os caminhos-de-ferro de cor e salteado. Aquele artista que chegou ao preparatório era um rapaz bem preparado e pronto para novos desafios que se avizinhavam.
   
O ciclo preparatório foi um primeiro desafio para o artista. Inicialmente, não percebia bem aquilo que queriam dele. Novos colegas, novas disciplinas, novos professores, enfim todo um admirável mundo novo, que não o livraram dum choque inicial com a professora de Educação Visual, que o levaram a faltar algumas vezes ás aulas da dita disciplina. Professora essa, que, por acaso, até era a sua directora de turma. Mas rapidamente se redimiu e começou a dar nas vistas nas redações que fazia nas aulas de Português e na  facilidade com que participava nas aulas de conversação de Inglês. Se o 1ºano do Ciclo Preparatório foi um grande desafio superado com eficácia, principalmente a partir do segundo período, já o 2º ano do mesmo Ciclo foi feito “com uma perna ás costas”, com distinção em algumas disciplinas. O artista estava pronto para o desafio seguinte.
   
Inspirado pelas aventuras dos “Pequenos Vagabundos”, de "Sandokan" ou dos “Famosos Cinco”, escrevia, de um dia para o outro, pequenas histórias que depois recriava, com alguns colegas, no recreio da escola, nos intervalos entre as disciplinas ou quando faltava algum professor. Foram momentos únicos, divertidos  e inesquecíveis que fizeram de algum modo com que a imaginação do artista começasse a sobressair.
   Foi no 8ºano que o artista realmente deu nas vistas e em dois momentos: o primeiro deles, aconteceu na elaboração de um t.p.c. (os mal-afamados trabalhos de casa), para Português, em que foi dado um tema livre para se fazer uma composição e o artista não foi de intrigas: depois de muito pensar até quase matar a cabeça, resolveu escrever sobre o mau tempo que na altura assolava o país  e pôr-se na pele duma vítima desse mesmo mau tempo, descrevendo aquilo que assistia e pelo que passara. 
   
O professor deu-lhe nota máxima na composição e ainda  escreveu  no final da folha um “muito bem!” a demonstrar o seu agrado por aquilo que lera; o segundo momento aconteceu também na disciplina de Português durante um teste escrito em que no final  nos era pedido que imaginássemos uma situação em que estivéssemos perdidos e o que é que nos aconteceria. O artista, uma vez mais, deu a volta por cima e criou uma situação em que a sua personagem ia para uma floresta brincar com os amigos, perdia-se (ou era abandonado) e depois de muito andar e quase desesperar reencontrava-os numa casa onde pareciam estar a aguardar por ele. O texto terminava neste suspense permitindo várias interpretações. O professor, não só gostou, como também o encarregou de fazer a continuação/conclusão da história que fora contada. Claro que o artista fez o que lhe foi pedido e nesse ano (pela única vez no seu tempo de escola) teve 5 a Português!
Mas o bichinho da escrita já o tinha atacado e nunca mais haveria de o largar.
   
O tempo foi passando, o artista acabou o ensino secundário e ingressou no ensino superior e ainda cumpriu o serviço militar. Pelo meio, escreveu três livros (dois de aventura e um western), mas nenhum passou do caderno onde foi escrito e sobreviveu para ver a luz do dia.
Em 1991, já em pleno furor laboral, é convidado por João Amaral,  um seu amigo, apaixonado por ilustração e Banda Desenhada, para adaptar “A Voz dos Deuses”, romance histórico de João Aguiar, para banda desenhada. Como já conhecia a obra e o seu potencial, o artista, considerando ser o maior desafio que já enfrentara, aceitou de imediato. Três anos depois, com muita investigação  para não descurar nenhum pormenor, várias deslocações a locais onde se passa a acção  e também com uma boa dose de loucura própria dos autores á mistura, a adaptação chegou a bom porto ainda tempo de ser apresentada e lançada no “Festival de BD da Amadora” para grande alegria, não só dos autores, como também do próprio João Aguiar.  Foi então que o artista foi abordado para enfrentar outros desafios.
   Foi durante a apresentação do livro, numa entrevista a um órgão social que lhe puseram a questão de qual seria o seu futuro. O artista respondeu que não pensava continuar na Banda Desenhada mas que pretendia, a par com o seu trabalho, dedicar-se á escrita de romances e que até aproveitara aqueles dias do festival para escrever algumas páginas que já submetera á apreciação de alguns amigos, os quais o incentivaram de imediato a continuar. Entre aqueles dias do festival de Banda Desenhada e o final desse ano de 1994 que começou a delinear o seu primeiro romance que, como diz o ditado “ano novo, vida nova”, foi escrito durante o ano de 1995.
O livro, que ainda hoje enquanto o artista escreve estas linhas, permanece sem título, é uma história  policial, banal passada algures numa pequena cidade da Califórnia chamada Gravetown e na qual acontecem vários crimes horríveis, sem qualquer ligação entre si, competindo ao xerife local investigá-los.
   
O artista, leitor de policiais clássicos como Agatha Christie, Arthur Conan Doyle, Lawrence Sanders, Robert Ludlum, entre outros, quis homenageá-los  no seu romance. Se o conseguiu ou não, não sabe, talvez nunca saiba se não decidir editar a obra, a que ele chama “obra tosca”. No entanto, quem o leu, mesmo sem nenhuma revisão, diz que tem potencial. A ver vamos futuramente. Para o artista, a experiência foi interessante, o simples facto de voltar a escrever foi cativante e deixou-o com vontade de continuar.
 No seu segundo esforço literário, o artista quis optar por algo diferente e que fosse interessante de ler.
   
Desde meados de 90 que ele mantinha algumas conversas interessantes com Stephen, um americano que era o encarregado da sucursal portuguesa duma empresa comercial americana que se queria estabelecer em portugal,  que morava em Sintra numa quinta junto á serra.  Tinham-se conhecido num café na portela de sintra, que era propriedade dos pais dumas amigas do artista. As conversas andavam á volta dos mistérios da serra e de sintra e eram tão interessantes que o artista começou a tomar notas porque viu ali, naquele amontoado de ideias uma possível base para um possível  livro. Esta possibilidade viu-a numa das visitas que fez á quinta dele. Falou-lhe nisso e Stephen mostrou-se interessado, tão interessado que o levou numa visita guiada pelos locais mais recônditos e inacessíveis ao turista normal do Palácio da Pena. A ideia foi tomando forma e, a dada altura, as ideias já eram mais que muitas e só precisavam de ser trabalhadas. Foi o que o artista começou a fazer.
   Foi então que, inesperadamente, Stephen, segundo informou algumas pessoas, teve de viajar para os Estados Unidos sem deixar um contacto telefónico ou uma morada donde nunca mais deu notícias. O artista deixou passar algum tempo antes de se decidir a avançar com a ideia que tinha que, naquela altura, já tinha tomado a forma que acabou por ter.
Quatro anos foi o tempo que demorou a escrita. Depois de nova passagem por alguns locais onde decorre a acção, alguma investigação mais profunda sobre o tema e estava pronto para começar. “A Última Demanda”, assim se chamou o livro, título que só foi encontrado já na fase final da escrita, começou a ser escrito em 1998 e foi terminado em 2002. Trata-se duma aventura que parte duma premissa possível:  “E se o Cálice Sagrado estivesse em Sintra?” e com isto em mente acompanhamos a investigação que um grupo de arqueólogos leva acabo sobre o assunto. O simples facto de poder brincar com a História, a disciplina preferida e curso superior que o artista seguiu na faculdade, mas que não terminou, depois duma passagem disinteressante pelo curso de direito, permitiu que ele se divertisse imenso enquanto escrevia o livro.
   
Sem grande conhecimento do que poderia acontecer, ou de editoras que quisessem apostar num desconhecido, o  artista resolveu submeter o texto á apreciação do seu amigo escritor João Aguiar, que com a simpatia que se conhecia, disse que com uma boa revisão e algumas correcções ortográficas e gramaticais, o história até tinha pernas para andar e ser editada. O artista, satisfeito, enviou o texto, assim mesmo, para algumas editoras de renome. Umas responderam negativamente por falta de espaço nos seus catálogos, outras nem sequer se dignaram, até hoje, a fazê-lo e assim se passaram alguns anos, até que o artista, depois de pedir a uma colega de trabalho que lhe revisse aquele texto  que permanecera intocável desde que  João Aguiar lhe respondera positivamente, decidiu arriscar novamente a edição  dum texto seu  tendo sempre presente que o não era sempre garantido. Entra em cena “A Pastelaria Estudios Editora” , uma editora com cerca de dois anos de existência que aposta em novos autores que possam constituir possíveis valores futuros, que gostou e aceitou publicar o livro que o artista lhes enviara. Algum tempo e diversos e-mails depois, trocados entre a editora e o artista, a obra estava pronta a ser editada.
   
Sexta-Feira, 19 de abril de 2013, no “Café Saudade” em sintra, por volta das 22 horas, o livro “A Última Demanda” era oficialmente apresentado. Foi com grande emoção e muito nervosismo á mistura, perante uma plateia de familiares, colegas e amigos que o artista apresentou a sua obra . Durante cerca de duas horas e meia, o artista falou da obra, do porquê da escolha daquele local para apresentar o livro, da sua (curta) carreira de escritor, que, apesar de já ter dois livros escritos,  começava naquele momento e do porquê de ter escolhido aquele tema, ter escolhido o seu segundo romance para se estrear e muitas outras coisas. Depois a apresentação, houve a tradicional  sessão de autógrafos e, pronto!, estava apresentado um novo  escritor, uma espécie de escritor, como ele gosta de se chamar.

    Se o artista vai continuar nesta nova carreira, nem ele sabe, vontade e ideias não lhe faltam, mas depende da recepção que a sua obra vai ter junto dos leitores, critícos, blogers, etc. Se vende muito ou pouco, não é preocupação do artista. O que realmente o preocupa é o que vão achar da sua escrita, se é boa ou não, se motiva as pessoas, se tem ritmo, etc.
È destas opiniões que o artista vai decidir se abraça ou não esta nova fase da sua vida.
Comentários, opiniões e sugestões podem ser enviados para: ruicmgc@gmail.com ou rcmgc1@gmail.com , onde o artista ou "espécie de escritor" terá muito prazer em responder a todas as perguntas.

Nota: as imagens que ilustram este texto foram retiradas da internet e também da fototeca do autor

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