sábado, 8 de fevereiro de 2014

“Big Blue” – Vertigem Azul - Azul Profundo



                     
   O mar sempre foi uma fonte de inspiração para qualquer realizador. Muitos são os filmes cujas primeiras cenas são o mar. Na maioria dos casos é como se de um regresso a casa se tratasse. "Vertigem Azul" também sofre dessa tendência.
   Jacques e Enzo foram criados juntos numa aldeia situada à beira do mar Mediterrâneo. Partilham a mesma paixão pelo mar. Um dia, porém, um acidente vitima o pai de Jacques  fazendo  com que os dois percam o contacto durante anos. Quando se reencontram, Enzo é campeão de mergulho livre, enquanto Jacques se tornou treinador de golfinhos e colaborador ocasional dos homens da ciência. Entre os dois, apesar da amizade que os une há mais de 20 anos, nasce uma grande concorrência não só pelo título de campeão mundial de mergulho livre, como também pelo interesse de uma mulher.
   O filme, apesar de se centrar numa rivalidade fictícia, é baseado na história verídica dos verdadeiros campeões de mergulho livre, Jacques Mayol (que também colabora no argumento) e Enzo Maiorca ( que no filme foi rebaptizado de Enzo Molinari), que, não só tinham alguns anos de idade  de diferença, como nunca competiram juntos.  Besson, para não tornar o filme demasiado monótono, teve o cuidado de dividir a acção em  dois tempos distintos: a sua crescente rivalidade enquanto crianças e, já adultos, na sua competição final durante o Campeonato do Mundo de Mergulho Livre, na cidade de Taormina, na Sicília. O segundo momento (e isso é um achado de Luc Besson) tem também outro aspecto importante, que torna o desenrolar da história mais interessante para além da competição, que é a constante procura de Mayol  pelo amor, família, o todo e o sentido da vida e da morte.
   
Realizado por Luc Besson, autor de, por exemplo "O Último Combate"(1983) sobre os devastadores efeitos que uma guerra nuclear faz aos seres humanos, privando-os da fala, vencedor de vários prémios de cinema fantástico nomeadamente no festival de Avoriaz e no Fantasporto; "Subway - Subterrâneo" (1985) sobre a população que habita o metro de Paris fora de horas; "Nikita –Dura de Matar" (1990) sobre os assassinos treinados por organizações secretas e que depois foi objecto de um remake de qualidade  inferior chamado "Point of No Return - A Assassina" (John Badham,1993)e de uma série de televisão, em 2010; "Leon – O Profissional" (1994) primeiro filme americano de Besson e grande sucesso de bilheteira; ou ainda "O Quinto Elemento"(1997) considerado o filme mais caro do cinema europeu.
    "Vertigem Azul", juntamente com o documentário "Atlantis" (1991) que o realizador fez sobre a vida marinha, são os projectos que Besson considera pessoais pois estão relacionados com a sua infância quando percorria o mundo com os pais que eram instructores de mergulho. O mar era a sua casa e reflexo disso são as primeiras imagens do filme: O Mediterrâneo, filmado num maravilhoso preto e branco com a lindíssima banda sonora de Eric Serra (colaborador habitual do realizador) como pano de fundo, assim como todo o prólogo passado numa ilha grega onde somos apresentados à personagem de Jacques Mayol. Besson filma o seu mergulho intensamente como se dele próprio se tratasse e estabelece assim o mote do filme.
Todas as sequências subaquáticas estão excepcionalmente bem filmadas e de maneira a que o espectador se sinta transportado cada vez que os protagonistas se lançam na sua vertigem pelo azul do mar.
   Inicialmente, Luc Besson não tinha a certeza sobre quem é que deveria fazer a personagem  de Jacques Mayol. O realizador pensou em oferecer o papel a Christopher Lambert e Mickey Rourke e até considerou ser ele próprio a interpretar a personagem.
   Contando com Jean Reno (outro colaborador habitual do realizador ), um dos actores europeus mais requisitados para produções internacionais, no papel de Enzo Molinari. O actor tem aqui um dos seus papéis mais importantes e também um dos seus preferidos, apesar da personagem ser a de um homem obcecado pela ganância de continuar a ser o campeão mundial de mergulho livre sem olhar a meios para o manter. Jean Marc Barr e Rosanna Arquette completam o trio à volta do qual vai girar toda a história de "Vertigem Azul".
   Magnificas cenas como a do porto Italiano em que Enzo salva um homem de morrer afogado; as cenas do trio em Taormina; os testes a que Jacques é submetido no gelo ou ainda a cena final no mar entre Jacques e Enzo, fazem de "Vertigem Azul" um drama muito realista e um dos melhores filmes de Luc Besson, embora não isento de alguma dúvida no que diz respeito ao final do filme.  O final original foi intencionalmente deixado em aberto  para que cada espectador fizesse a sua própria interpretação, apesar de ficar a sugestão de que a profundidade a que Mayol desce tornava impossível o seu regresso, vivo, á superfície em circunstâncias normais. Mas tal pode não ser inteiramente verdade, já que, tal como é sugerido ao longo do filme, o corpo de Jacques Mayol  não é um corpo normal e, logo a seguir á cena em que ele acorda no hospital e tem aquele estranho sonho, poderá (ou não) achar-se que ele está pronto para uma vida aquática, daí a sua (possível) morte ser uma conclusão algo precipitada. O realizador terá pensado que assim seria a melhor solução…quem somos nós para o contradizer?
   Exibido fora de competição, em maio de 1988, durante o Festival de Cannes, “Vertigem Azul”, foi um grande sucesso de bilheteira em frança, onde esteve em exibição mais de um ano; nomeado para vários Césares (Oscares do cinema francês), venceu nas categorias de Melhor Banda Sonora para Filme e Melhor Som. Também  em 1989 o prémio da Academia Nacional de Cinema Francês foi entregue a  Luc Besson.
   Apesar do enorme sucesso um pouco por toda a europa, nos estados unidos, o filme foi um rotundo fracasso de bilheteira, muito devido á remontagem para uma duração de 118 minutos, feita pelo estúdio que distribuiu o filme, que quis incluir um final feliz (uma espécie de final alternativo ao destino de Jacques Mayol) e substituído a banda sonora original de Eric Serra por uma composta pelo consagrado Bill Conti. Mais tarde foi distribuída a versão  considerada  normal e a que foi exibida na europa com a duração de 132 minutos. Só muito mais tarde é que foi distribuída, apenas,  para circuito DVD a versão mais longa, com o final original e a banda sonora integral de Eric Serra.
 
Lançado no cinema em duas versões: uma de 132 minutos que fez carreira nos cinemas um pouco por todo o mundo. Só depois do sucesso do filme, já em meados da década de 90,  é que o realizador decidiu lançar a Versão de Realizador, com a duração de 168 minutos, contendo inúmeras sequências inéditas onde se explica um pouco melhor o relacionamento de Jacques Mayol com os golfinhos ou onde se pode apreciar melhor a competição entre as duas personagens. O filme ganha uma nova dimensão, a vertigem torna-se mais azul e este torna-se muito mais profundo.
Considerado bonito e sereno por alguns, demasiado longo, reflexivo e introspectivo por outros, “Vertigem Azul “ tem pelo menos uma certeza:  quem quiser desfrutar de um filme e de uma experiência diferente,  é só deixar-se envolver pela música e mergulhar nesta imensa vertigem azul chamada mar.


Nota: as imagens e vídeo que ilustram o texto foram retiradas da internet





1 comentário:

  1. Olá
    Onde posso encontrar este filme?
    Já o vi à muitos anos e sempre foi um dos meus preferidos, mas nunca consegui encontrar em video.
    inté

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