segunda-feira, 7 de julho de 2014

O Filme de Terror II

       - O Terror em constante evolução (1960 – 1979)
   
A década de 60, viu o estúdio britânico da Hammer consolidar o seu poderio em termos de filmes de terror.  As intermináveis continuações de Drácula, a maior parte das vezes, com Christopher Lee no papel do vampiro, obtinham um sucesso relativo, mas foi “Peeping Tom – A Vítima do Medo” (Michael Powell, 1960), que conta a história de um “Serial Killer” que concilia a sua profissão de fotógrafo com a de assassino ao fotografar as expressões das suas vítimas momentos antes da sua morte. O filme retratou o primeiro  “Serial Killer” no cinema e foi maior sucesso de bilheteira  da Hammer.
    Também em 1960, o realizador britânico Alfred Hitchcock choca o público com “Psycho - Psico” ao assassinar a personagem principal  na primeira metade do filme, na antológica sequência do chuveiro no Motel Bates, uma das mais famosas e aterrorizantes cenas da história do cinema. 

Nunca tal havia acontecido e, apesar de alguma perplexidade inicial quanto aos propósitos do realizador, o filme ganhou estatuto de obra-prima tornando-se numa obra incontornável na carreira do realizador que, três anos mais tarde, haveria de chocar novamente as audiências com “The Birds – Os Pássaros” ao mostrar uma natureza enlouquecida, em que bandos de pássaros  atacam os seres humanos sem qualquer razão aparente, nem qualquer explicação no final. Tal como a maior parte das suas obras americanas, “Os Pássaros” obteve grande sucesso de bilheteira, consolidando a carreira do realizador e também o cinema de terror. 

     Na europa, o género ganhava cada vez mais seguidores. Em frança “Les Yeux sans visage – Olhos sem Rosto” de George Franjú (1960), continuava a apostar, com sucesso, na temática do cientista louco, neste caso , um que rapta mulheres jovens para lhes remover as caras que tenta aplicar na  sua filha, que ficou desfigurada depois de um acidente de automóvel, enquanto em itália, Mario Bava, depois de co-realizar algumas produções “série B”, iniciava uma carreira de sucesso dentro do terror com o filme “Black Sunday - A Máscara do Demónio”(1960), a história de uma bruxa e do seu servo que regressam da morte para tentar apossar-se do corpo de uma sua descendente. A sua utilização de sombras, luz e cores tornaram-no num filme incontornável dentro do género.
     Entretanto nos estúdios da American International Pictures são feitos diversos filmes adaptados da obra de Edgar Allan Poe, um dos mais famosos escritores americanos de sempre, realizados por Roger Corman e interpretados na sua quase totalidade por Vincent Price, outro nome sonante no cinema de terror, que, com maior ou menor sucesso, terminam com “The Masque of the Red Death – A Máscara da Morte Vermelha”(1964) e “The Tomb of Ligeia – O Túmulo de Ligeia” (1964) e é hoje quase certo que foram estas adaptações que abriram caminho para a violência explícita que viria a ocupar o lugar, não só  no terror como também em outros filmes correntes.
   
Monstros e fantasmas mantiveram-se sempre presentes no género, mas ao longo da década outra premissa começou a aparecer, timidamente primeiro, mas depois de algumas provas dadas, filmes baseados em coisas sobrenaturais, fantasmas e possessões demoníacas integraram-se plenamente no terror. “The Innocents – Os Inocentes” (Jack Clayton, 1961), foi o primeiro filme a abordar o tema; depois seguiu-se-lhe “The Haunting – A Casa  Maldita” (Robert Wise, 1963), ambos filmados em Inglaterra mas produzidos por estúdios americanos. Mas seria com “Rosemary’s Baby – A Semente do Diabo” (Roman Polanski, 1968), que o filme de expressão demoníaca ganhou o seu estatuto dentro do género. A história de um casal recém-casado que se muda para Nova York, para um prédio com má reputação e trava amizade com um casal de idosos que vive no apartamento ao lado. Apesar da simpatia dos vizinhos , estranhas coisas começa a acontecer, desde mortes inexplicáveis  a sonhos misteriosos. Quando Rosemary fica grávida, o casal idoso tenta protegê-la e mantê-la  segura, ao mesmo tempo que  ela vai ficando  cada vez mais paranoica com tanta obsessão á volta do seu bébé por nascer. Baseado num aclamado romance de Ira Levin, este filme ficou amaldiçoado e saiu caro ao seu realizador já que, menos de um ano depois da sua estreia, Sharon Tate, a companheira de Polanski e alguns amigos foram assassinados por uma seita liderada por Charles Manson. A actriz, na altura, estava grávida do primeiro filme do casal.
   
Também em 1968 um outro filme impôs-se dentro do género influenciando a indústria  americana de filmes de terror. “Night of the Living Dead – A Noite dos Mortos-Vivos” realizado por George A. Romero. A história de um grupo de pessoas que se têm de esconder dentro duma casa porque os mortos misteriosamente voltaram á vida e procuram alimento nos seres vivos, cativou o público em todo o mundo fazendo desta produção de baixo orçamento, um enorme sucesso de bilheteira. Esta espécie de Armagedão (não confundir com o filme homónimo!)  em forma de filme com mortos-vivos ou zombies mistura, habilmente, efeitos psicológicos com cenas sangrentas (gore) e fez o género subir mais um degrau, afastando-o das tendências  góticas iniciais, trazendo-o para a vida do dia-a-dia, tornando-o um filme clássico, de culto respeitado por público e cineastas.
   
Os filmes baseados em temas do oculto seriam o prato forte das produções da década de 70. Desde logo em 1973, “Don’t Look Now – Aquele Inverno em Veneza” realizado por Nicolas Roeg, assume o espiritismo como motivo para se fazer um bom filme de terror Baseado numa história de Daphne Du Maurier, que conta a história de um casal, enlutado pela morte por afogamento da sua única filha, que se encontra em Veneza a tentar recuperar da dor, o marido começa a ter visões de uma criança vestida com uma capa idêntica á que a sua filha usava quando morreu, enquanto que a mulher é abordada  nas ruas da cidade por duas irmãs, uma das quais é psíquica e traz um aviso do além. Não sendo uma obra-prima, e muitas vezes ignorado no panorama dos filmes da década, o filme torna-se curioso e interessante pela abordagem ao tema que faz, indo do puro drama até ao suspense  (o género haveria, anos mais tarde, de abordar esta temática), sem nunca se perder  e contém duas cenas marcantes: a cena de amor entre os dois protagonistas (Julies Christie e Donald Sutherland) com uma enorme carga erótica; e a cena final que é completamente imprevista.
   
Seria também neste ano que apareceria um filme que se tornaria no mais marcante filme  do género, inúmeras vezes imitado,  mas nunca superado, nem sequer igualado: “The Exorcist – O Exorcista”, realizado por William Friedkin. A história da possessão de Regan McNeill que a ciência não consegue explicar nem resolver e que só apenas um velho ritual religioso aparentemente consegue, tornou-se num enorme êxito de bilheteira por todo o mundo. A rotação de 360 graus de cabeça de Regan, a auto-penetração com o crucifixo, os gritos e as vozes do demónio, o vómito verde na cara do padre ou o longo exorcismo são cenas clássicas e quase banais, quando comparadas com o panorama cinematográfico de hoje, mas, em 1973, chocaram audiências ao ponto de muitas pessoas terem de ser assistidas no local por equipas médicas.  O “Exorcista” tornou-se no filme-choque da década de 70 e foi também o primeiro filme de terror puro a ser indicado para Melhor Filme do Ano, uma das dez categorias para que foi nomeado nos Oscares desse ano.
Seguiram-se várias sequelas que não obtiveram tanto sucesso como o primeiro filme e muitos outros filmes em que o Diabo representava o supremo ser sobrenatural, algumas vezes engravidava jovens, outras apossava-se de crianças.
   
Em 1975, o jovem realizador Steven Spielberg começava a sua ascensão em direcção ao estrelato com “Jaws – O Tubarão”. A história de um enorme tubarão branco que aterrorizara as praias de Amity, uma pequena ilha na  costa americana que vive basicamente do turismo de verão, bateu todos os recordes de bilheteira no mundo inteiro, iniciou uma série de filmes de terror de animais assassinos, que, se excluirmos “Orca – A Fúria dos Mares” (Michael Anderson, 1977), apesar de pouco interessante, suscitou alguma curiosidade no público, não faz grande memória e é muitas vezes ignorada dentro do género. “Jaws” foi considerado um dos primeiros filmes a conjugar  elementos tradicionais das produções “série B”, tais como terror e ser meio “gore” (sangrento), numa produção de grande orçamento e o resulta foi o que foi.
   O “Exorcista” abriu caminho a duas temáticas que se tornaram populares ao longo da década: a Reencarnação e Satanismo. Se “Audrey Rose – As Duas Vidas de Audrey Rose” (1977), realizado por Robert Wise, cuja história é a de um homem que afirma que a sua filha é a reencarnação de uma outra pessoa já morta, popularizou o tema da reencarnação  sem ter sido um grande sucesso; já “The Omen – O Génio do Mal” (Richard Donner, 1976), onde Richard Thornton, embaixador americano em Inglaterra, descobre que o seu filho, adoptado, de cinco anos de idade, é o Anticristo, foi um grande êxito de bilheteira e tornou o filho do Diabo, além de invencível á acção humana,  o vilão favorito em muitos filmes modernos.
   
Também na década de 70, estreava-se na literatura o mestre contemporâneo do terror. Stephen King ganhou este estatuto, que de resto ainda mantém, com “Carrie” (1972) que seria adaptado ao cinema por Brian DePalma em 1976. A história de Carrie White, uma rapariga com poderes telecinéticos (capacidade de mover objectos á distância só com o olhar), invejada e gozada pelos seus colegas que a consideram uma estranha que depois se vinga de todos eles. Tecnicamente brilhante, graças a um realização inventiva, foi um sucesso de bilheteira e foi nomeada para os Oscares , tornando-se um filme de culto de todos os apreciadores do género , principalmente por conter o maior susto que alguma vez aconteceu num filme.
   
Em 1978, John Carpenter realizava o seu melhor filme de sempre, “Halloween – O Regresso do Mal” e dava origem a uma das mais longas séries de filmes no cinema. Michael Myers é uma criança de cinco anos, aparentemente normal, que mata á facada a sua irmã e o namorado numa noite de Halloween. Internado durante 15 anos num instituto psiquiátrico, foge e regressa a Haddonfield, a sua cidade natal,  para repetir as acções de 1963. Utilizando a câmara como se fossem os olhos do assassino, Carpenter, genialmente, põe-nos na pele do assassino e garante algumas das melhores cenas de terror e suspense de que há memória na década. O Final, em suspenso foi uma novidade na época e viria a tornar-se moda nas décadas seguintes.
    As ideias dos anos 60 também influenciaram o cinema de terror, já que a juventude que se envolvera nos movimentos de contracultura (oposição á guerra do Vietnam, movimento “Hippie”,  experimentação de drogas, sede consumista, etc), reflecte nos filmes esses mesmos ideais: “The Hills have Eyes – Os Olhos da Montanha” (Wes Craven, 1977); “The Texas Chainsaw Massacre – O Massacre no Texas” (Tobe Hooper, 1974), espelhavam algum efeito do Vietnam;  David Cronenberg  estreou-se na temática do cientista louco  ao explorar os medos contemporâneos da tecnologia e sociedade e os medos corporais com “Shivers – Os parasitas da Morte” (1975); enquanto George A. Romero em “Zombie – Dawn of the Dead – A Maldição dos Mortos-Vivos” (1978) satirizava a sede consumista que se apossara da sociedade na década anterior.
   
A década iria terminar com um dos melhores filmes de sempre e que introduzia uma nova temática dentro do género: O terror científico. “Alien – O 8ºPassageiro” (Ridley Scott, 1979). A “Nostromo” é um cargueiro espacial que regressa á terra depois de cumprir a sua missão. O computador central recebe  um sinal de ajuda. Os tripulantes decidem ir investigar a origem do sinal. Combinando os elementos naturais de violência gráfica  e o filme de monstros, característicos de décadas anteriores, mas desta vez usando a ficção científica, “Alien” só poderia resultar num enorme sucesso de bilheteira  e de crítica também.
O terror instalara-se definitivamente dentro do cinema e nas décadas subsequentes, iria ter um papel preponderante.

                                                                                                                            (continua)

Nota: as imagens que ilustram o texto foram retiradas da internet

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